A primeira vez que viu aquele garoto foi quando estava voltando da escola com sua babá. Tinha 6 anos. Não tinha muitos amigos na sua turma, era mais próxima da professora do que dos colegas. Mas no grande esquema das coisas, era feliz assim. Até então tinha sido só ela e seu pai, Matthew Hanford. Ele sempre a ensinou a aproveitar as coisas sozinha. Tinha todos os brinquedos que queria, a melhor educação que o dinheiro poderia pagar, comidas da melhor qualidade... Tinha aulas de pianos nas terças e quintas depois da aula, mas naquela tarde, sua professora havia ligado para avisar que iria se atrasar.
Amelia sentou-se na calçada e ficou observando um grupo de crianças que passava andando de bicicleta, abraçada em seus joelhos. Era o início da primavera e as folhas das árvores da rua estavam mais verdes do que nos anos passados. Aquele bairro era calmo, no subúrbio de Staten Island em Nova Iorque, não tinha movimento de carros e havia inúmeros parques. Matthew achou que aquele seria o lugar perfeito para criar sua filha.
Ela ainda não sabia andar de bicicleta, embora tivesse uma cor de rosa. Gostava mais de ficar com seus lápis de cor e tintas guache. Ali no meio fio, ela puxou seu caderno de desenho e uma caixinha de giz de cera, começando a ilustrar uma das árvores que chamou sua atenção.
— O que está desenhando? — alguém perguntou ao seu lado. Ela olhou para cima, mas seus cabelos pretos e pesados cobriram seu rosto. Sua mão delicada puxou as madeixas para atrás da orelha. Na época, Amelia pedia para cortar o cabelo na altura dos ombros, assim ela se sentia mais parecida com sua mãe. Quando revelou sua face, o menino que apareceu se surpreendeu com os olhos daquela garota. Ela apontou para a copa da árvore que pintava com giz verde claro.
Ele olhou rapidamente para a direção que ela apontava mas logo olhou pra ela de novo. Nunca tinha visto olhos como aqueles.
— Você tá doente? — perguntou, virando a cabeça como um filhote de cachorro confuso. Mais uma vez ela não falou nada, só gesticulou que não. — Por que seu olho é azul?
Ela voltou ao seu desenho, suspirando.
— Porque ele é assim. — respondeu, mexendo os dedos e colorindo as pequenas folhas.
— E por que seu outro olho é marrom? — perguntou mais uma vez.
— Porque ele é assim.
— Ah... — o garoto fez um som de quem havia entendido uma equação matemática muito difícil. — Tá bom. Posso ver seu desenho?
Ele então se sentou ao lado dela observando o que estava no caderno.
— Wow, você desenha muito bem... Quantos anos você tem? — ele perguntou, genuinamente surpreso.
— Seis. — ela disse sem rodeios.
—Você tem seis anos e desenha melhor do que eu. — uma risada despreocupada saiu da boca dele. — Eu sou Ethan, eu moro ali naquela esquina. — apontou.
Era uma casa grande como as da vizinhança, mas não parecia tão bem cuidada como as outras. A grama estava um pouco grande e subia por cima do concreto da calçada. O carro que estava na entrada estava arranhado na lateral, como se tivesse passado por um acidente.
— Amelia. — ela respondeu com seu nome.
Os dois ficaram ali, desenhando e conversando por alguns minutos quando Ethan esticou o braço para pegar a caixa de cores. Sua manga do suéter vermelho que ele usava levantou e ela pode ver uma marca roxa no pulso dele. No momento que ele percebeu o que ela viu, ele puxou sua mão de volta para si, o que assustou a morena e a fez pular derrubando o giz que tinha na mão. O pequeno cilindro verde rolou lentamente até o meio do asfalto.
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Black Heart
Storie d'amore「 ✦ O que é certo ou errado? ✦ 」 Essa pergunta nunca foi fácil para Amelia, uma jovem que apagou seu história para se dedicar integralmente a uma organização criminosa. E ela fez da Diamond Rose, uma máfia bilionária de informações, sua única razão...