Capítulo 2 - O Ritual.

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P. D. V. de Lyanna

Enquanto nos aproximávamos dos círculos que já estavam demarcados com pedras "cavernas", como eram chamadas, pude observar, junto aos outros lobos, símbolos rúnicos desconhecidos sobre as mesmas, e um emaranhado de desenhos com diferentes cores no centro.

Um pouco mais adiante, à direita, em um palanque armado, já se encontravam alguns dos nossos anciãos do conselho, e lobos que eu não conhecia, mas que acreditava serem representantes das alcateias vizinhas das nossas terras; todos eram aliados de longa data do meu pai, e nosso clã.

Um dos anciãos se destacou do grupo, e começou a falar no microfone.

— Atenção, por favor! Em nome da alcateia Dawn Moon, gostaria de dizer algumas palavras. Sejam todos bem-vindos! Que esta data seja lembrada com alegria por todos aqui presentes: jovens lobos, familiares, amigos e aliados. Hoje vocês serão "um" com seu espírito lobo, e mais uma vez a luz da Deusa resplandecerá, e o seu voto de amor, para todos da nossa espécie, será renovado através deste ritual.

Fazendo um movimento com as mãos de apresentação, mostrou meu pai.

— Passo a palavra ao nosso Alfa. Raphael Stone! Lider da alcateia Dawn Moon.

Neste momento, meu pai foi para a frente do palco e pegou o microfone.

Enquanto ele se organizava, pude ouvir algumas das lobinhas que estavam mais próximas.

— Poxa! Mesmo ele tendo a idade do meu pai, ele é muito gostoso! Olha que corpo definido, e que cabelo é aquele? Muito gostoso...Aff!

Dei uma olhada discreta para o lado, e vi quando Anne abaixou a cabeça e deu uma risadinha, me olhando com deboche.

— Ai... eu mereço! Ouvir esse tipo de comentário de garotas da minha mesma idade, é muito constrangedor... — resmunguei.

— Atenção, jovens lobos, os desenhos traçados nas pedras, sua distância, e posicionamento, foram organizados para o êxito total do nosso ritual de unificação. Vocês devem se manter nos locais que serão previamente determinados para cada um de vocês, em conjunto com o parceiro que lhes será designado, sem jamais quebrar a formação. Sigam as orientações que serão dadas por Adama, e suas demais irmãs, a partir desse momento.

Após estas palavras, meu pai olhou para mim, e fez um sinal com a cabeça.

Eu sinalizei que tinha entendido; ele com certeza queria que eu tivesse cuidado e seguisse com confiança.

Enquanto me perdia nos meus pensamentos, não observei que havia um trio, que não tirava os olhos de cada movimento que eu realizava.

— Aquela desgraçada! Está redondamente enganada se acha que vou deixar barato o que ela fez comigo. Idiota! Vai me pagar caro.

— Fez conosco, Elisa... CONOSCO!

— Sim, você está certa, Denise... conosco!

— Onde está a Roseli? Será que ela conseguiu? — Olhando em volta, Elisa tentava localizar onde uma das suas compassas, se encontrava.

— Ela está vindo... e parece feliz! — ao dizer estas palavras, Denise mostrou um olhar maldoso, e um sorriso cínico. Como era bom o gostinho da vingança! Aquele "projeto" de nada, vai ver o que é bom!

— Você conseguiu? — Elisa mal conseguia segurar a ansiedade.

Queria muito saber se Lyanna finalmente iria se dar mal. Na maior parte do tempo, Elisa fingia não se importar com a filha do Alfa da alcateia, mas, no fundo, nutria profunda inveja dela, e o que mais gostava era vê-la encrencada, ou roubar o que ela mais desejava.

No passado, seu pai fazia parte das amizades mais próximas do Alfa, por isso, foi aceita a sua indicação para o cargo de "BETA" da alcateia, na época. Meu pai me contava o quanto ele ficou feliz por concorrer com outro lobo, que também era amigo de longa data do Alfa, por um cargo de tão grande prestígio. Ele se chamava Nicolas Stone, e era primo de primeiro grau do Alfa, e devido a isso, meu pai temeu ser desqualificado. Certo dia, antes que fosse declarado pelo conselho, quem tinha sido escolhido, houve um ataque inesperado de vampiros, em uma de nossas fronteiras, é por coincidência, onde o Alfa estava patrulhando, com o seu primo. Ao se depararem com os vampiros, ocorreu uma batalha mortal, entre todos os lobos presentes, e os vampiros. Resultando em muitos lobos gravemente feridos, inclusive o primo do Alfa. Ele teve seu braço quase arrancado, ao impedir que o líder desse grupo, com a ajuda de dois outros comparsas, quase matasse o nosso Alfa. Por essa incontestável prova de coragem, ele foi eleito BETA, deixando meu pai como objeto de chacota, desde então, para aqueles que sabiam, de dentro da alcateia, o quanto o meu pai, queria esse "status".

Poucos anos após esse ocorrido, o tal primo caiu em uma emboscada, junto a outros lobos, que estavam em uma missão de reconhecimento, e morreu.

Quando meu pai soube dessa notícia, suas esperanças foram retomadas, mas o Alfa foi categórico em afirmar que "NÃO ACEITARIA" nenhum outro "BETA".

Toda essa palhaçada era para "HONRAR" seu amigo e Beta morto. Só de lembrar disso, eu me enchia de ódio. Eu poderia ter tudo o que aquela desgraçada tinha.

Status, prestígio...

Não que ela fosse realmente respeitada. Ao lembrar, de como ela era tratada com indiferença, pela maioria da alcateia, um amplo sorriso surgiu no meu rosto.

Só o respeito, que os lobos tinham por seu pai, impedia a maioria de deixar visível o desprezo, o asco e o descaso, que todos sentiam por ela.

E claro, expulsá-la!

Nem mesmo eu sabia por que ela era tão odiada, mas só de pensar nisso, já me dava uma sensação de prazer imensurável. Mesmo sendo filha do Alfa, era para mim que todos olhavam com admiração, por minha beleza e graça.

Tinha que reconhecer que já tinha ouvido alguns lobos elogiarem, a beleza de seu cabelo ruivo, e seus olhos verdes, mas logo a chamavam de "a impura" com desprezo na voz.

Eu tinha certeza de que esse "título" tinha a ver com alguma promiscuidade realizada por ela, com algum lobo da alcateia, ou seriam lobos? — rio com esse pensamento.

Era muito bom ouvir as pessoas sussurrando, seu nome com desprezo. Eu sentia que, se não fosse "ela", minha vida seria bem melhor!

Pensar em tudo isso, trouxe um sorriso de escárnio aos lábios de Elisa.

— Fale logo, sua tonta... conseguiu ou não? Trocou a poção destinada, a ela? — questionou Elisa.

O desejo maléfico de que seu plano tivesse êxito, a fazia exultar, e ela ainda nem sabia, se a outra tinha conseguido.

— Claro que sim! Ela vai ter, uma "doce" surpresa, no momento da unificação. — Nós nos entreolhamos e caímos em uma gargalhada.

Agora sim, eu tinha certeza de que o meu dia seria maravilhoso.

Que venha o ritual de unificação!

Filhas de Hécate: Sangue Impuro.Onde histórias criam vida. Descubra agora