Capítulo 4 - Uivo de Dor.

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P.D.V. de Lyanna.

Quando Adama deu início ao ritual, relatando, cheia de emoção, como a Deusa Selene deu origem à nossa espécie, através do seu grande amor por Lycanor, fiquei imediatamente emocionada. Pensei nos meus pais.

E no amor que eles viveram. Eu sabia que meu pai ainda não tinha perdido as esperanças de que minha mãe retornasse um dia para ele.

Suspirei...

— Como é forte, o amor verdadeiro.

E pensar que logo, logo, eu estaria com a minha loba. E também encontraria o meu lobo, "companheiro destinado" pela própria deusa, já sentia as minhas bochechas quentinhas.

— Humm!...Que friozinho na barriga. — pensei enquanto sentia minhas face aquecida.

Olhei em volta para ver se alguém tinha percebido minhas bochechas rosadas, ou o quanto eu era louca, perdendo-me nestes pensamentos exatamente naquele momento...

Ao longe, meu pai estava atento, a cada movimento feito por mim. Hoje ele estava mais nervosinho do que o normal. Será que ele tinha alguma dúvida de que eu me sairia bem? Ou que eu me transformaria em uma loba? Calma aí! Será que ele achava que do nada eu seria um sapo? Rindo dos meus próprios pensamentos loucos, afastei essas asneiras enconsequentes.

Minha mente sabia que estava me deixando levar pelo nervosismo e ansiedade.

Respirei fundo diversas vezes.

— Se acalme, Lyanna... se acalme! Preste bastante atenção, às orientações de Adama. — Me aconselhei baixinho.

Tinha que me concentrar em Adama, tudo tinha que ser perfeito!

Hoje era o meu grande...

Isso... você consegue, garota!

Com o início dos cânticos, sabíamos que tínhamos que tomar a fórmula previamente deixada à nossa frente pelas neófitas responsáveis por nos acompanhar. Assim que tomei, senti uma leve vertigem. Parecia que tudo ao meu redor estava se intensificando.

Os cânticos, o barulho do vento...

Respirando profundamente, passei a me concentrar nas energias ao meu redor. Inicialmente, sentia a movimentação dos elementos da natureza, mas aos poucos comecei a perceber meus membros inferiores dormentes, e a intensidade da dormência estava aumentando.

Não conseguia enxergar; tudo estava envolto em uma luz muito forte. Sentia estar sendo elevada do solo; quis me mover, demonstrar de alguma forma que aquilo estava me incomodando. Foi quando minha pele começou a arder e queimar. Sentia como se um fogo escaldante estivesse me incendiando de dentro para fora. Sem conseguir mexer nenhum membro, e sentindo que meu corpo estava sendo destroçado, tive medo, pela primeira vez...

O que estava incidindo?

Aquilo não deveria estar acontecendo...

Lembrava que Adama, inicialmente, explicou que a fórmula que todos tinham tomado, era exatamente para isso não acontecer.

Não deveria haver dor alguma...

Como se meu corpo estivesse ausente do local, ouvi ao longe a convocação aos nossos espíritos lobos, que Adama realizava.

— Eu, Adama, senhora da Irmandade das Bruxas do Amanhecer, convoco vossas verdadeiras formas mágicas! Unam-se, filhos da lua, com seus espíritos irmãos, e deixem que a luz de Selene, brilhe mais uma vez na terra.

Então eu a vi...

Surgindo de dentro da luz, uma criatura de pelagem branca, mas ela parecia não ter notado a minha presença. Urrava e arranhava a própria pele.

Filhas de Hécate: Sangue Impuro.Onde histórias criam vida. Descubra agora