Hurt

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Monte Carlo, Monaco - Janvier 2023

Eu estava tentando descansar, queria aproveitar o momento em que Amélie estava dormindo para descansar um pouco também. Já havia dispensado os funcionários hoje, pois não acho justo ficar os alugando aqui quando não temos nada importante para fazer. Mas todo meu plano de relaxar um pouco foi por água abaixo quando escutei batidas incessantes na porta de entrada no andar de baixo. Para ser sincera, não queria atender. Impressionava-me o porteiro deixar alguém passar sem me comunicar. Provavelmente era alguém que eu conhecia e algo importante, pois essas batidas exalavam desespero, e eu não fazia ideia de quem poderia ser. Só esperava que essas batidas não fossem o suficiente para acordar minha pequena, que dormia no quarto ao lado.

Então, levantei-me da cama, nem sequer calcei os sapatos, e saí correndo pelas escadas. Seja lá quem fosse, esperava que fosse realmente importante, porque odeio que atrapalhem meu sono e o da minha pequena. Ela tem muita energia, e fazê-la dormir à tarde é realmente um milagre. Havia dado à luz a uma fonte de energia carregada no 220.

Desci as escadas apressadamente, sentindo meu coração acelerar com cada batida na porta. Ao alcançar a entrada, hesitei por um momento antes de girar a maçaneta e abrir a porta. Assim que ela se abriu, meu coração deu um salto e meus olhos se arregalaram de surpresa ao me deparar com a última pessoa que eu esperava ver ali.

Era... pior do que se o próprio diabo estivesse batendo à minha porta. Meu corpo congelou instantaneamente, enquanto meus olhos se fixavam na figura inesperada diante de mim. O choque me paralisou, deixando-me incapaz de articular uma palavra sequer.

Meu coração pareceu parar por um instante, enquanto meu corpo inteiro se tornava uma estátua de surpresa. Um arrepio gelado percorreu minha espinha, como se uma corrente elétrica tivesse atravessado meu corpo. Meus olhos se arregalaram tanto que senti como se fossem saltar das órbitas, enquanto minha mente lutava para processar a cena diante de mim. Cada célula do meu ser parecia congelada em um estado de puro choque, enquanto eu tentava desesperadamente reconciliar a presença daquela figura com a realidade que eu conhecia. O mundo ao meu redor parecia desvanecer em um borrão, deixando apenas a imagem perturbadora que ocupava o espaço à minha frente.

— Oi... — a voz do homem à minha frente ecoou, mas suas palavras mal penetraram minha mente, pois a visão dele diante de mim era avassaladora demais para processar. Com um movimento instintivo, sem pensar duas vezes, fechei a porta abruptamente em sua cara.

O som abafado do impacto da madeira contra a moldura preencheu meus ouvidos enquanto eu me recostava na porta, sentindo-me tonta e desorientada. Minhas pernas pareciam feitas de gelatina, e todo o ar parecia ter sido sugado do ambiente. Deslizei lentamente para baixo, incapaz de sustentar meu próprio peso, até que finalmente caí sentada no chão, meu coração martelando descontroladamente dentro do peito. Cada respiração era um esforço.

— Por favor, Trixie, me deixe explicar! — A voz de Friedrich, abafada pela barreira de madeira entre nós, ecoava com desespero e urgência.

— Não me chame assim — sussurrei baixo para que ninguém além de mim pudesse ouvir.

Cada palavra dele parecia uma punhalada em meu coração já dilacerado pela surpresa e pelo medo. Eu sabia que não podia evitar o confronto inevitável que se seguia, mas parte de mim ansiava por mais alguns momentos de paz, ainda que ilusória.

No entanto, as batidas persistentes na porta me lembravam que o tempo para evitações havia passado. Com um suspiro resignado, forcei-me a enfrentar a realidade que batia à minha porta, literalmente.

𝐒𝐮𝐫 𝐥𝐚 𝐓𝐫𝐚𝐜𝐞 𝐝𝐞 𝐥'𝐀𝐦𝐨𝐮𝐫 - Charles LeclercOnde histórias criam vida. Descubra agora