Capítulo IV
Rapidamente a ira consumiu-a. O sangue começou a borbulhar nas suas veias. A raiva e a dor impediam-na de pensar com claridade.
Como se todas as suas ações já estivessem planeadas, Beatrice enfrentou-se a ele. Com os punhos fechados começou a magoá-lo. Toda a gente se surpreendeu, menos ele. Até ela própria, mas continuou, incapaz de parar. Ambos sabiam que ele merecia todo isso e muito mais.
Alphred e Marie tentaram impedi-la de continuar , mas Elaine deteve-os, pois era consciente do que acontecia. Arrependeu-se imediatamente de tudo o que disse antes à irmã.
As lágrimas caiam descontroladas e dolorosas pelo rosto de Tris. Deslizavam-se em silêncio e com sigilo. A sua força era, cada vez, menor. Foi quando deixou de bater-lhe, que notou a ausência da irmã. Sentiu-se nua perante ele, não tinha ninguém que a protegesse.
Aiden olhava um ponto qualquer, fixamente, com os seus astutos olhos azuis. Queria observá-la, vê-la, admirá-la; mas simplesmente não conseguia. Algo impedia-o, talvez o arrependimento. Às vezes tinha vergonha de si mesmo pelo que fizera.
Sentiu as suas delicadas mãos, aqueles que ele sempre beijara, agarrar-lhe a camisa. Ouviu os seus devastadores soluços, e a vontade de segurá-la e abraçá-la inundou-o. Beatrice enterrou a sua cara no pescoço de Aiden. Com esse simples toque, o seu coração endoidou, começou a bater rapidamente e sem controlo. O roce da sua pele com a dela acordou-o. Com delicadeza, colocou os seus braços à volta dela. Abraçou-a. Finalmente estava de novo nos seus braços. Notou como a sua respiração se tranquilizou. Queria com todo o seu ser dizer-lhe que estava arrependido, que não teve opção, que tinha pensado nela todos os dias, que nunca se esqueceria dela, que continuava à espera de estar de novo com ela, mas as palavras simplesmente desfaziam-se na sua garganta.
"Aiden..." o nome foi pronunciado de forma desajeitada. Tris sentia-se insegura.
Beatrice continuava a chorar, mas não tinha a certeza de porquê. Não compreendia o que estava a sentir. Sentia-se dorida por ter estado todos estes anos sem Aiden, inconscientemente esperando este momento. Talvez chorava de alegria, visto que ele estava aqui. Literalmente. Ele estava abraçando-a; abraçando-a como se não houvesse amanhã. As suas respirações misturavam-se, ambos corações já não batiam como malucos, estavam calmos, agradecidos pela proximidade, agradecidos pelo reencontro.
Já não resistiu, e sem permissão, a pergunta saiu disparada da sua boca:
"Porquê..."inspirou e expirou lentamente, tentando encontrar as palavras. "...porquê te foste embora?" de novo, as lágrimas cresceram nas suas faces, sem piedade nem lástima.
Aiden, sem conseguir olhar para ela, apertou-a com força. Nem sequer respondeu.
Pegou-a ao colo, passando um braço por debaixo das suas pernas e outro por debaixo das suas costas, e levou-a para cima. Beatrice era delicada, tinha que ser tratada com cuidado, e ele não o fez. Deixou-a sozinha. Quebrou a sua promessa.
Ela escondeu-se no seu pescoço; escondeu-se dele, escondeu-se nele.
Devagar, entraram no seu quarto. Aiden deitou-a suavemente na cama. Todos os seus momentos juntos passavam por eles como um filme. Todos os beijos, as lágrimas, os sorrisos, os ciúmes, os olhares ... tudo e mais do que podiam imaginar. Doía tanto, magoava tanto. As lágrimas de Beatrice não cessavam, corriam-lhe pelo rosto como rios sem fim. No entanto, Aiden continuava sério, sem pronunciar nenhuma palavra. Segurava as mãos de Tris entre as suas, segurando-as com toda a sua força, com todo o seu ser e com tudo o que ele tinha.
Podiam ter passado horas, dias, segundos ou até podia ter passado nada, ambos tinham deixado de sentir o tempo passar. Tudo passava por eles como um fantasma. Apenas era Beatrice e Aiden; não existia mais nada.
Pouco a pouco, Beatrice foi fechando os olhos, com paciência, sem pressas. Cada vez pesavam mais, as coisas iam desfocando, até que tudo ficou preto. Tão preto que não se apercebeu quando Aiden sussurrou:
"Porque quando amas, tens que deixar ir."
A sua voz foi tão triste e desesperada, que quase nem pareceu humana.
Dirigiu-se até à porta e saiu, deixando o seu coração na mão da rapariga pela qual se apaixonara desde que vira os seus olhos sair da água numa competição de natação.
*
Respirando com tranquilidade, Tris abriu os olhos. O peito doía-lhe. A noite de ontem estava marcada na sua cabeça, como se lhe tivessem introduzido todos os acontecimentos à força. Cada imagem estava marcada com fogo.
A sus respiração começou a alterar-se, mas a loira obrigou-se a respirar com regularidade, pois agitar-se não a levava a nenhum lado.
A luz que escapava pelos buracos da persiana era suficiente para iluminar levemente o quarto de Beatrice. A luz era escura, húmida e débil. A loira teve a sensação de que iria chover.
Cada canto do seu quarto continuava intácto. Os livros arrumados delicadamente nos estantes, os papéis do escritório no exato sitio onde os tinha deixado, as portas do armário entreabertas, apenas a cama estava desfeita. Tudo estava como era suposto estar, menos uma coisa. A roupa que utilizara ontem, o liso vestido preto, a camisa e as collants escuras, estava dobradas, sem imperfeições e sem rugas. Colocada encima do escritório. Debaixo, repousados no chão, encontravam-se os sapatos. Sentiu-se levemente incómoda.
Fucou-se no que levava vestido, e sorpeendeu-se quando verificou que dormira com uma camisola branca do sua equipa de natação y a roupa interior. Para seu alivio, notou como o sutiã lhe apertava o peito.
Não sabia o que era mais inquietante: se o facto não saber quem lhe mudara a roupa ou saber que alguém lhe tinha despido e ela nem sequer o tinha notado.
Pensou na hipótese de ter sido Elaine, ou inclusive o seu pai, mas havia alguma coisa que lhe dizia que não era assim. Então, penso que podia ter sido Aiden, depois de ter adormecido. Tentou acreditar que não, mas sentia-se terrivelmente estúpida, porque pressentia que tinha sido ele.
Levantou-se, com movimentos elegantes e cansados. O corpo doía-lhe. Não tinha vontade de fazer nada, mas também não queria ficar em casa, pois existia a possibilidade de se encontrar com Aiden, e, sinceramente, era a última coisa que queria. A noite de ontem magoou-a muito. Ainda conseguia ouvir o zumbido nos ouvidos, o coração a querer saltar do peito, e, principalmente, uma sensação elétrica na pele que Aiden lhe provocou com cada tacto.
Dirigiu-se à casa de banho, e com paciência escovou os dentes e lavou a cara. Duas bolsas negras penduravam dos seus olhos. Apenas fez uma rapida trança no cabelo. Não se sentia com vontade de se arranjar. Quanto mais simples, melhor.
Vestiu as suas Levi's e uma mesma malha preta que vestira ontem, calçou as meias, e pegou nas escuras botas.
Ainda era cedo. Deviam ser cerca das oito da manhã. Não queria acordar ninguém, por isso, com as botas na mão, desceu as escadas devagar e muito silenciosamente.
Não tinha fome, e, mesmo que tivesse, não iria comer nada em casa.
Esquivou a cozinha, e dirigiu-se diretamente à entrada da casa. Ainda com as botas na mão, vestiu o casaco, pegou num lenço de lã, e pôs à mala ao ombro. Saiu de casa. O ar fresco bateu-lhe fortemente na cara. Respirou fundo, porque a única coisa que ela precisava era paz para pensar e acalmar-se. Pouco a pouco sentiu o frio a entrar-lhe pelo corpo, as mãos começaram a arrefecer, pelo que, depois de se sentar nas escadas do alpendre, colocou as botas e as luvas.
Nem tinha pegado no telemóvel nem nada. Apenas, quando revistou a sua carteira enquanto caminhava, reparou que tinhas algumas moedas e três notas de um dólar. Na mala, encontrou também as chaves da mota, o seu livro, o Ipod e os fones. Sentiu-se satisfeita consigo mesma por ter deixado essas quatro coisas na mala. Já tinha mais ou menos uma ideia do que ia fazer.
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De tudo a nada, De nada a tudo
Teen FictionSe, pelo menos, soubesse que irias voltar à minha vida, que voltaria a ver-te outra vez e que voltarias a entrar no meu coração, teria-me preparado. Se me tivesses avisado que me beijarias de novo, teria tentado que o beijo fosse o mais perfeito pos...