Emily

236 14 0
                                    

Sábado, 8 de Agosto.

No chalé.

Já passara da uma da manhã quando fui para a cama e só Deus sabe quando a Katie foi, então nenhuma de nós estava interessada quando nosso pai tentou nos acordar às oito e meia. Eu o mandei pra fora, mas consegui captar as palavras 'família' e 'aulas de surfe'. O bastante para garantir que eu ficasse em estado de coma até meio dia. Quando eu acordei Katie tinha ido embora e eu tinha a casa só para mim. Euforia. Eu fui até a cozinha em meus pijamas e preparei um copo de chá. Eu estava passando geléia no pão quando minha mãe, meu pai e James voltaram da manhã de esportes aquáticos, grudados.

"Ahá, ela acordou!", disse meu pai. Continuava jovial então. Perfeito.

"Estou feliz que você já está de pé", disse minha mãe, pegando a chaleira para encher de novo. "Eu pensei que você, Katie e eu poderíamos passar a noite no SPA. Um pouco de tempo só para as garotas. Eu disse que iria encontrar Katie na cidade daqui a pouco." Eu realmente, realmente preferiria não ir.

"Obrigada, mãe. Parece legal, acho, mas eu não estou querendo ir. Eu iria dar um passeio.

Sozinha."

"Vamos lá, Emily. Sai dessa." Pelo amor de Deus.

"Sair do que? Eu estou bem. Eu só estou querendo uma tarde pra mim mesma." Minha mãe suspirou. "Tudo bem. Talvez amanhã, então".

"É. Talvez."

Ela continuou tagarelando no meu quarto. Tudo bem se ela não tivesse feito a proposta, mas fez tudo parecer falso pra porra.

Eu não me incomodei em dizer que eu tinha planos pra sair com o Josh hoje. Eu iria escutar até não ter fim. Eu esperei todo mundo ir embora antes de pegar minhas coisas pra ir para praia e parar em seu chalé.

Eu bati em sua porta e ela abriu quase que imediatamente.

"Obrigado, Deus, por isso", disse Josh. Eu podia ouvir uma voz alta de mulher no fundo quando ele puxou a porta por trás dele. Eu levantei minhas sobrancelhas.

"Minha mãe" ele disse. "Ela sabe como falar muito, Deus a abençoe. Eu convidaria você a entrar, mas ela já está ficando molhadinha em suas calcinhas com o pensamento de uma colega em potencial pra seu filho depravado." "Então", eu pressionei. "Depravado?".

"Longa história, Emily. Vamos dizer que mamãe não é a mulher mais progressiva do mundo."

Uma pequena luz surgiu. "Ahá", eu disse. "Você é gay."

Josh tinha escovado os cabelos para trás exageradamente.

"Eu, querida? Por que você pensaria isso?"

"Só um chute."

"Bom trabalho, Sherlock" ele olhou pra mim. "E você?"

"Também", eu disse. "É agora que batemos um na mão do outro pra criar laços?"

Ele sorriu. "Sim, se nós fôssemos uns idiotas retardados", ele me olhou de cima a baixo. "Eu achei que tinha alguma coisa em você. Meu gaydar infalível, como sempre." Ele olhou de volta para meu chalé. "Seus pais aceitam isso normalmente?"

"Não. Eles estão fingindo que não é verdade. Você sabe, negando totalmente, esse tipo de coisa."

Nós chegamos ao topo das pedras. Josh tirou seus chinelos e os colocou em sua mochila. Estava muito quente, nenhuma nuvem em nenhum canto. A praia já estava lotando.

"Quer achar algum lugar mais privado?", disse Josh. "Eu ouvi falar que tem uma praia rochosa perto da península."

"Você está falando daquela península a cinco quilômetros?", eu resmunguei.

Mas meia hora depois nos encontrávamos em um trecho de areia deserto longe daquelas crianças berrando.

Nós colocamos nossas toalhas em cima de algumas rochas e eu passei em mim mesma filtro solar fator 50. Eu me despi para ficar em meu biquíni e me sentei.

Ele se sentou ao meu lado e pela primeira vez eu pude olhar pra ele propriamente. Cabelo longo e marrom, olhos castanhos, ombros largos, e usando bermuda de cós baixa, cáqui.

"Escuta", ele disse enquanto olhávamos para aquele mar perfeito e um casal de barcos desaparecendo no horizonte. "Eu só quero me desculpar por te envergonhar ontem à noite, quando você estava ao telefone."

"Esquece. Me desculpe por ter sido tão grossa. Eu só estou com raiva por ter que passar as férias com os meus pais. Você sabe, sentindo falta da minha namorada." Josh cutucou alguns seixos com um galho.

"Eu sei exatamente o que você está dizendo. Eu terminei com o meu namorado alguns meses atrás. É por isso que meus pais me trouxeram aqui... me persuadiram a vir pra cá porque acharam que iria me animar. E claro que eles pensaram que eu ia abrir meus olhos que lá no fundo eu sou hétero de carteirinha."

"Foda-se o que eles dizem", eu resmunguei. "Todo mundo na minha família odeia a Naomi. Minha namorada. Eles acham que ela me transformou numa lésbica. Se eles soubessem que foi eu que a persuadi...", eu ajeitei meus óculos escuros. "A pior é a Katie, minha irmã. Ela não consegue aceitar que eu não sou que nem ela. Ela é a porra de um imã para garotos. Ela é toda convencida, entende?"

"Para falar a verdade, ela parece bem insegura para mim" Josh disse claramente.

"Isso é uma piada?", eu disse. "Insegura?"

"Totalmente. Ela é desesperada. Como foi provado ontem quando eu cheguei com minha mãe e meu pai. Profundamente carente."

Por algum motivo isso me incomodou.

"Ela não é carente!", eu disse. "Ela sempre está confiante para porra com tudo. Ela nunca ficou sem um namorado."

"Claro que ela nunca ficou sem. Ela provavelmente dá pra todo mundo", Josh se virou pra me encarar. "Está claro, Emily. Eu conheci um monte de meninas que nem ela." "Tá", eu disse baixo. "Talvez você esteja certo".

Já estava na hora de eu e minha irmã termos uma conversa séria.


Skins - The NovelOnde histórias criam vida. Descubra agora