♡ 𓆪 ;; Sobre Legados

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Cherry suspirou fundo antes de colocar seus costumeiros patins para sair de casa naquela manhã. Ela não acreditava que estava prestes a pedir ajuda para um total estranho sobre como dirigir seus próprios negócios na padaria, no entanto, quando sua integridade na escola foi questionada, ela teve que repensar seus princípios.

— Eu estou orgulhoso de você. — Seu pai aparece segundos antes de ela abrir a porta para dar início à sua primeira atividade do dia.

A estrutura da humilde padaria dos Beans era simples e mais clichê do que se esperava. Grandes janelas de vidro que permitem a vista de dentro, vitrines com os doces mais chamativos possíveis e algumas cadeiras confortáveis. Claro, a maioria dos móveis eram completamente improvisados, afinal os trolls chegaram no campo de minigolf sem absolutamente nada. A vila Putt-Putt era nada mais que uma utopia troll, construída e liderada por Viva e Clay. Viva, claro, faz a parte braçal enquanto Clay faz o que pode nos seus afazeres mais ''tediosos'', como a troll rosa costuma dizer.

Cherry não podia negar que ele era o troll perfeito para ajudá-la, mas ao mesmo tempo ela sentia que era sua obrigação como filha tomar as rédeas sozinha e não deveria solicitar ajuda de terceiros.

— Valeu, pai. — Ela agradece, de cara amarrada, mas ao mesmo tempo confiante em relação à conversa que teria com o contador. — Vamos conversar e... Ele verá o que pode fazer para nos ajudar. Não prometo nada. — Cherry sorri para tentar disfarçar o que realmente sentia. Ela se sentia confusa, confusa o suficiente para continuar se questionando se deveria ou não sair de casa para ir até o escritório daquele troll esquisito.

Mas quanto menos pensar, mais ela vai agir. Então ela deveria parar de conversas fiadas e tratar de resolver logo este problema. Ela fechou a fivela de seu capacete e encarou seu pai com um ar de determinação.

— Tome o tempo de vocês. — Smith baixou a cabeça, ele se contentava com as vezes que sua filha deixava de ser tão cabeça quente. — Seja legal com o Sr. Clay.

Cherry apenas assentiu com a cabeça e, finalmente, abriu a porta para deixar a padaria. Ela sabia que ainda tinha muitas encomendas para entregar por hoje e que talvez aquele compromisso apenas a atrasasse em relação aos seus afazeres, mas ela entende que as coisas poderão facilitar a partir do momento que aceitar ajuda de Viva e Clay.

Falando em Viva, a coisa que Cherry menos queria naquele momento era se encontrar com a líder dos trolls Putt-Putt. Por isso, tratou de buscar pelo caminho mais rápido para o escritório de Clay.

Os trolls sobreviventes do último trollstício foram parar no meio da estrada, mais especificamente em um campo de minigolfe que antes era frequentado por berguens, mas que, por algum motivo curioso, eles abandonaram o local. Os trolls que chegaram deram um jeito de colocar tudo em seu devido lugar, foi um árduo trabalho, mas no final valeu a pena.
Clay construiu saídas de emergência e Viva cuida de todo o resto.

O grande ponto do campo de minigolfe, além das estátuas engraçadas que os berguens deixaram ao abandonar o local, era o palhaço assustador que ficava no meio do local. Ele era imenso e intimidante. Viva costuma usar ele para afastar invasores, mas apenas de vez em quando. Na maioria das vezes os trolls da linha de frente usam para escorregar na língua e brincar um pouco, trolls às vezes conseguem ser muito bobos e ingênuos.

Além disso, o campo contava com uma grande muralha ao redor que fechava aquele terreno apenas para os moradores da vila.

Cherry não cansava de admirar aquele céu azul que os cercava, era quente na temperatura certa. E o vento que se chocava contra o seu rosto contrastava com o calor ocasionado pelo começo da manhã.

Alguns trolls estavam saindo de suas casas, eles avistaram Cherry e acenavam com um sorriso. Claro que todos a conhecem, como mencionado por Viva anteriormente, ela era um dos pontos altos da vila.

Fora que agora todos devem estar sabendo que ela é a responsável pelos doces que serão distribuídos na festa de comemoração dos vinte anos de liberdade...

O coração de Cherry acelerou, ela podia ouvir seus batimentos dentro da sua própria cabeça e aquilo a desesperou. Ela freou os patins quando se deparou com uma cabine minúscula que parecia mal caber um troll ali dentro. A construção ficava perto da entrada da vila. Cherry suspirou fundo e tombou a cabeça lentamente para o lado, se questionando se aquele realmente era o local citado por ele.

Bom, não demorou muito para que suas dúvidas fossem respondidas.

— Hey, Cherry. — O mesmo simpático e carismático troll saí de dentro da cabine com um leve sorriso no rosto, porém algumas olheiras embaixo de seus olhos que indicavam noites mal dormidas. — Eu sabia que você viria. — E ele para bem em frente a ela.

Cherry lentamente afasta a cabeça conforme ele se aproximava. Seu rosto estava estranhamente esquentando e seu coração tamborilou com a distância mínima que havia entre eles.

— Bom dia, Sr. Clay. — Cherry tenta não parecer muito ansiosa com aquele encontro. Ela odiaria ter que causar uma impressão negativa, mais do que já havia causado, com ele. Clay parecia alguém genuinamente disposto a ajudá-la. — É... Eu pensei bastante sobre o que conversamos.

Ele sorriu gentilmente com a resposta.

— Ficarei feliz em ajudar você. Qualquer amiga da Viva é minha amiga também. — Ele dá uma piscadela de forma engraçada. Cherry infla as bochechas tentando segurar o leve riso que inocentemente escaparia de seus lábios. — Sem contar que eu frequentava muito a padaria do seu pai. Ela foi de grande ajuda assim que chegamos no campo de minigolfe. — Clay sorria nostálgico.

— Sério? — Cherry parecia genuinamente interessada. Clay assentiu com a cabeça.

— No caminho te conto tudo. — Ele ri enquanto ergue as alças de sua roupa esverdeada.

Cherry sabia que seu pai foi de extrema importância para o crescimento da vila, mas as histórias que Clay contava não eram de seu conhecimento. Quer dizer, aquilo a deixou ainda mais pressionada a deixar todos satisfeitos com seus bolos porque... Literalmente todos contavam com ela! A padaria Frutopia era um patrimônio histórico da vila, não podia ser perdido por puro capricho de uma jovem troll amadora que não sabia seus limites. Ela engoliu a seco.

Cherry lentamente arrastava seus pés no chão para as rodinhas do patins girarem e ela se locomover. A troll ia devagar para que Clay a acompanhasse no trajeto.

— Todos os anos, o Sr. Smith fazia grandes doces para os feriados de celebração à liberdade. Claro, também lembramos que fomos separados dos demais, mas estamos todos vivos. E o mais importante: Livres. — O troll mais velho sorriu. — Vai ser uma honra ajudar você a continuar esse legado.

Cherry sorriu suavemente.

— E pra mim será uma honra dar continuidade a ele. — Ela sorriu, mas completamente angustiada com aquilo.

Dentro de si, algo dizia que ela iria falhar, que ela não seria capaz de dirigir a padaria tão bem quanto seu pai fez. Mas ninguém podia dizer que ela não estava dando o seu melhor, porque ela estava.

Clay sorri em resposta. Ao observar os movimentos delicados de seu rosto se contraindo e a expressão suave que se fez presente nele, Cherry perdeu o equilíbrio e caiu de joelhos no chão de concreto da vila.

𝐒𝐖𝐄𝐄𝐓𝐍𝐄𝐒𝐒, clayOnde histórias criam vida. Descubra agora