Capítulo 13

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Após ouvir o relato, o senhor Uckermann permaneceu calado, caminhando de um lado para o outro. As duas mulheres estavam sentadas, sua esposa ainda olhava para o chão e a entojada resmungava que a culpada era Catarina por terem sido levadas à delegacia.

― Então, sua autoridade vai nos prender, a mim e à sua mulherzinha, na mesma cela? ― Julieta retrucou, sem paciência.

― Pois deveria, já que causaram uma perturbação da ordem pública. ― A voz de Christopher soou firme, enquanto parava e encarava ambas, descontente pela situação. ― Porém, acredito que essa punição não será eficiente... Você precisa aprender algumas lições da vida, já a Dulce, não posso liberá-la sem aplicar uma sanção. Por isso, como advertência, as duas prestarão serviços comunitários para compensar o transtorno, o padre reclamou que quase ninguém quer ajudá-lo nas tarefas da igreja.

― Satisfeita, Cat? ― A garota bufou de desagrado. ― Agora ficarei pagando penitência, só o que me faltava!

― Não é uma questão de estar satisfeita, Julieta. ― O xerife chamou a atenção dela. ― Você precisa entender as consequências de suas ações e aprender com elas. É um passo necessário para o seu crescimento pessoal.

A garota revirou os olhos, e logo depois respondeu querendo atingir a outra que continuava em silêncio.

― Então, no caso da sua mulherzinha, é uma penitência por ela não conseguir engravidar?

― Julieta, chega! ― O senhor Uckermann se alterou. ― Estão dispensadas.

― Deve ser horrível ser oca por dentro, depois de meses e nada, não é mesmo? ― A garota provocou ao se levantar, um sorriso sarcástico surgiu em seu rosto.

Dulce também se pôs de pé, encarando-a seriamente, controlou os nervos para não acertar outra bofetada nela. Já havia escândalo demais por hoje, no entanto, o peso das palavras cruéis da entojada a acertou em cheio, ela sentiu um nó se formar em sua garganta. Engolindo a vontade de chorar, saiu correndo pela rua, precisava acabar de uma vez por todas com esses impulsos que só manchavam a imagem do homem que amava. Culpada, a mulher jurou a si mesma que nunca mais Christopher passaria por isso!

***

O senhor Uckermann abriu a porta de casa preocupado, gostaria de ter saído da delegacia mais cedo, entretanto não podia abandonar o estabelecimento sozinho quando o sargento estava vigiando Lourenzo. Rex veio ao seu encontro, abanando a cola e latindo como se quisesse lhe falar alguma coisa, além do breu que permeava o cômodo, o rapaz notou apenas o chiado dos grilos, nenhum sinal da esposa. Apreensivo, ele avistou um bilhete sobre a mesa.

Querido,
Sinto muito por tudo, sempre acabo te prejudicando de um jeito ou de outro.

Esta noite não conseguirei ficar em casa, preciso controlar meus impulsos em
um lugar livre das lembranças que tento deixar para trás.

Com amor, Dulce.


Christopher assobiou para o cachorro, convidando-o para um passeio, infelizmente hoje ele teria que contrariar o desejo da amada, com o ex-noivo na cidade não podia arriscar. Antes de sair, buscou por uma chave reserva da escola na gaveta da cômoda, sua intuição gritava que a localizaria lá.
Rex disparou afobado pelo corredor quando o homem abriu a porta do local, confirmando sua suspeita, ele seguiu o animal em passos lentos, com as mãos no bolso da calça e ao chegar na sala de aula, a mulher estava deitada em uma cama improvisada no chão. O cachorro a cheirou, ganindo triste, para então deitar-se aos seus pés, o senhor Uckermann esboçou um sorriso singelo, Rex era muito apegado a ela desde o primeiro dia, até parecia que sabia da dor que a assolava.

Depois de tirar o sobretudo marrom e colocá-lo em uma cadeira, o rapaz também se aconchegou ao lado de Dulce que virou o corpo para encarar o marido, os olhos estavam inchados.

A Dama de Vermelho - Parte 3Onde histórias criam vida. Descubra agora