O que acontece quando você encontra o apartamento dos sonhos e acaba sendo obrigado a dividi-lo com outra pessoa por causa de um erro de contrato? Você inferniza a vida do seu colega de quarto indesejado até que ele surte e vá embora, é claro!
Lili...
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Camila está praticamente hospedada na minha casa. Ela chega aqui todos os dias depois do trabalho, passa a maioria dos finais de semana e começou a agir como se realmente morasse no apartamento. Só falta trazer as suas roupas e se alocar no quarto de hóspedes que tem usado. E ela acha que está me ajudando, mas estou me sentindo cada vez mais aborrecido. E por que eu não mando ela embora? Bom, eu tentei, mas é a Camila. Ela faz o que quer e ignora o que quer.
É domingo à tarde e eu estou na varanda de casa deitado na rede que Lili deixou para trás, observando o pôr do sol que deixa o céu em tons de amarelo e laranja. Achei que ficaria sozinho esse fim de semana, mas para a minha infelicidade, a campainha toca acabando com o meu pequeno momento de silêncio e paz. Levanto a contragosto e vou atender a porta. É claro que é a Camila, que já entra lançando um milhão de palavras no ar.
— Jantar na vózinha hoje. Não aceito recusa, ela vai fazer o seu prato preferido pra te incentivar a ir.
— Ela não é sua avó. — repito pela milésima vez desde que ela começou a chamar a dona Beth assim. — É estranho, faz parecer que você e Charles são primos.
— Precisa aprender a ser carinhoso com as pessoas. — me repreende. — Enfim, vou ficar bem aqui esperando você ir se arrumar. Vamos no meu carro. — ela senta no sofá e cruza as pernas. — Vou assistir alguma coisa enquanto isso. — pega o controle remoto de cima da mesa de centro.
— Eu não disse que vou.
— Você vai. — afirma com os olhos na tela. — Eu disse que não aceito recusa. Mas, se preferir, eu posso comprar uma passagem para Nova York e você pode trazer a Lili de volta. — sorri.
Sempre que pode, ela diz isso. "Vá para Nova York e a traga de volta". Estou aprendendo a ignorar. Por isso, dou as costas e caminho em direção ao meu quarto, mas dou meia volta quando ouço a abertura de Friends. Vou até a TV e aperto o botão de desligar, enquanto Camila me lança um olhar incrédulo.
— Assista outra coisa. — digo.
— Qual é? Até a sua série preferida? — ela bufa.
— Assista outra coisa. — repito com mais ênfase.
Eu ainda gosto de Friends, é claro. Mas não consigo assistir sem a Lili. Parece errado e me deixa triste. Ao invés de rir das piadas, eu olho para o lugar vazio do outro lado do sofá e tenho vontade de chorar.
Me arrumo rapidamente e nós saímos para a casa dos Reinhart. O cheiro maravilhoso do jantar nos atinge assim que dona Beth abre a porta. Camila e ela se abraçam antes de a minha amiga entrar na casa.
— Olá, querido, como você está? — a senhora de cabelos grisalhos me pergunta com um tom de voz cauteloso e gentil.
