⟬6⟭

56 9 17
                                    

Avisos : Tem mais avisos no final 

✷✷✷✷ = Quebra de tempo e mudança de PV;

Esta obra contem gatilhos, você esta avisado.

Becca 

Olhar nos olhos daquele garoto me fez sentir como se minha alma estivesse sendo sugada por um vortice de rancor e desgosto. A luz âmbar de seus olhos mascarava a verdadeira tempestade dentro dele. Esse rancor não era recente, não era algo que surgiu na semana passada ou há um ano. Esse ódio era antigo, talvez desde o seu nascimento.Não era um ódio voltado para mim,eu era apenas um espectador naquele instante.Desde o primeiro encontro, percebi que ele estava envolto em sofrimento e sombras. Ele batalhava contra as adversidades da vida, sem sequer ter consciência de sua luta. É uma realidade triste e angustiante para qualquer um. 

Hoje, por causa daquele incidente, as aulas foram canceladas, e muitos foram punidos.

— Ela está bem mesmo? — Bianca questionava, observando sua aranha com preocupação, enquanto eu me virava para vê-la, notando a tristeza em seus olhos ao contemplar o animal imóvel e apático. A intensidade em seu olhar era um reflexo do de seu irmão — Você não mexeu nela, mexeu?

— Claro que não! Eu só alimentei ela com o que é natural para aranhas da espécie dela. — Bianca possuía uma aranha caranguejeira de laboratório como animal de estimação, em um terrário espaçoso. Eu já tinha ouvido histórias de Megan e Alice sobre como várias colegas de quarto pediram transferência porque frequentemente acordavam com a aranha sobre elas, além de Bianca não ser exatamente a colega ideal. Mas, quando cheguei, acabei ajudando com a aranha que estava doente, e isso fez com que ela me aceitasse como colega de quarto. Ela era, digamos, um tanto caótica. Na primeira vez que entrei no quarto, estava tudo um caos, com roupas e restos de comida espalhados, além de latas de cerveja. Depois de ajudar com a aranha, ela me perguntou se eu queria algo em troca, e eu só pedi que fizéssemos um acordo sobre a organização do quarto. Não bagunçaríamos o lado uma da outra, não mexeríamos nas coisas sem permissão e sempre respeitaríamos a convivência mútua. No fim, tudo deu certo.

— Ela não se move e nem come direito! — Aproximei-me do terrário, preocupada — Se algo acontecer com ela, prepare-se para viver um pesadelo.

— Ei, calma lá! — Ergui as mãos em sinal de paz — Jamais faria algo para prejudicá-la, sei o quanto ela significa para você, e para ninguém mais! — Olhei para a aranha, Xena, que realmente estava muito quieta — Ela está mesmo estranha. — Abri o terrário e tentei tocar nela, mas ela reagiu de forma agressiva, e por sorte, ela não era venenosa nem tinha presas afiadas. Notei algo sobre ela. — Acho que descobri o que houve!

— O que foi? — Ela perguntou, ansiosa.

— Parabéns, você é avó agora, olha só! — Apontei para os pequenos pontos brancos sobre Xena. Com um leve sopro, todos eles se moveram.

— Nossa, que surpresa! — Exclamou, animada. — E agora?

— Ou você consegue um terrário maior, ou vai ter problemas, tipo quererem tirar as aranhas de você.

— Mas por quê?

— Porque, quer você queira ou não, só Xena é de laboratório, sem veneno ou presas. Os filhotes dela são diferentes e podem causar problemas se escaparem, tanto para eles quanto para os outros. — Vi um lampejo de tristeza em seus olhos. — Mas por enquanto, curta a novidade! — Confortei-a, levantando-me e pegando uma cesta de roupas sujas. — Vou tentar lavar isso aqui. — Disse, saindo e deixando-a contemplando o terrário. Nos dias que passei com Bianca, percebi que Xena era mais do que um simples pet; era um ser de conforto, ao qual ela era profundamente ligada.
 

Vagalumes de SalémOnde histórias criam vida. Descubra agora