Capítulo 4

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"E é tão engraçado eu ter certeza que tô blindada de sentimento. É muita coragem da minha parte porque eu me apaixono por tudo que eu vejo. Tudo que cresce do chão. Tudo que olha no olho. Tudo que sorri bonito. Tudo que fala em tom de sedução... porra, isso acaba comigo. Porque o amor não é pra mim, não é não..."

O AMOR NÃO É PRA MIM | ELANA DARA PART. VITOR KLEY

LUCIANA

Terça, 01º de março

Acordar cedo era uma coisa que eu definitivamente odiava, mas como a pandemia acabou com a minha vida de ratinha de academia, e meus seios e culotes voltaram com tudo, precisava correr contra o tempo.

Pensei que poderia incluir Isabela nos meus planos de sofrer e suar feito uma porca enquanto corríamos pela praia de Charitas, mas pelo visto agora eu era dependente da minha força de vontade — que era quase nula.

Muito suspeito ela ter plantão justo no dia em que havíamos combinado de começar o projeto Gostosas Para O Verão Do Ano Que Vem. Sim, ano que vem, porque o deste ano já havia sido cancelado pela quantidade de merda que comíamos diariamente.

Eu gostava de ficar sozinha quando me sentia nervosa. Considerando que minha melhor amiga não sabia com quem eu me encontraria amanhã à noite, era bom que pedisse proteção aos meus guias espirituais. E nada melhor do que ir até Iemanjá pessoalmente.

Quando pensei em ir até a Orixá pessoalmente, não foi no sentido literal. Porém, ao que parece, um ciclista que não respeitava os pedestres resolveu mudar a rota do meu destino.

Meu primeiro pensamento ao ver a bicicleta e seu dono foi: apesar dos óculos e do fone, ele está me vendo, não está?

Errado!

Meu erro foi ter ficado plantada no meio do calçadão, igual um burro de carga, esperando virar geleca de bicicleta.

Foi assim que meu cabelo e rosto acabaram empanados de areia e entrou caquinho de concha até no meu cu. Não tive nem tempo ou forças para gritar.

— Não olha por onde anda, ô maluca? — Escutei a voz masculina berrar assim que levantei o rosto do monte de areia. — Sai do meio da ciclovia!

Cuspi os grãos, cambaleando para me colocar de pé, e tentei enxergar o filho da puta que nem se dignou a me ajudar a levantar.

— Maluca é a mãe, seu infeliz! — gritei, tremendo de raiva, como os pinschers que passeavam com seus donos por ali.

Avistei poucos traços do rosto do idiota, o suficiente para gravá-lo e amaldiçoá-lo pelo resto da semana, antes do desgraçado sair pedalando como se nada tivesse acontecido.

Nunca mais faria caminhada na praia. Pelo bem dos ciclistas, ou então cometeria um crime hediondo.

Corpo de atleta, pele marrom clara e bronzeada de Sol, além do maxilar bem desenhado. Essa seria a descrição do objeto do meu ódio daquela manhã.

Eu faria Isabela desenhar um retrato falado dele para pendurá-lo na minha parede feito um alvo e gastar os dardos que minha terapeuta me indicou como um exercício de dispersão de raiva. Geralmente, o alvo era decorado pela cara do presidente com um par de chifres que ficava lá...

Mas esse também era um caso extremo.

Tinha certeza que levaria um mês para tirar toda areia do meu couro cabeludo.

Choraminguei ao limpar o rosto com a barra da blusa, ignorando os velhinhos que faziam sua caminhada tranquilamente pelo calçadão, e voltei para casa xingando até a décima geração do ciclista infeliz.

Uma Aposta Irresistível | |#DeuMatch (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora