Capítulo 2

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"Te pego de jeito, mas não fica apaixonada. Eu sou romântico, safado, e amanhã não venho porque quando a vontade bater, vou chamar pra foder daquele jeito que tu gosta..."

QUANDO A VONTADE BATER | PK

RODRIGO

Eu tinha uma vida agradável até a chegada dos meus irmãos.

Meus pais, que acreditavam piamente na ideia de ainda serem jovens, decidiram ter mais quatro filhos após o meu nascimento. E, se até meus cinquenta anos eu não infartasse por causa de um deles, consideraria lucro.

Seria crueldade demais colocá-los a leilão? Meu gerente de investimentos e amigo, Renato Trevisan, certamente concordaria comigo no que diz respeito aos valores. Nenhum deles valia tanto para correr riscos.

Principalmente Victor.

Ah, Victor. Esse filho da puta era o responsável por todos os meus cabelos brancos. No auge dos trinta e seis anos, sem filhos — pelo menos não biológicos —, e nenhuma doença à vista, eu era um dos únicos homens do meu círculo de amizade que já possuía alguns fios grisalhos. Faltava pouco para ficar igual ao meu avô.

Para a sorte do meu irmão, a paciência era um dos meus pontos fortes e eu aguentava os esporros do seu Archimedes, nosso avô, de bom grado por ele.

— Vamos apostar? — Um sorriso malicioso se abriu no rosto de Victor antes que ele colocasse seus óculos de natação.

Ajeitei a touca na cabeça e franzi o cenho, não gostando nada de sua entonação.

Como um incentivo para que ele se acostumasse a acordar cedo, desde que fez quinze anos, o obrigava a ir para a piscina comigo pela manhã, já que gostávamos de natação. Competíamos lado a lado como se estivéssemos em uma Olimpíada. Claro que, sendo astuto e com veia estelionatária, ele sempre arranjava um jeito de me driblar e conseguir algo em troca. Era normal fazermos apostas, já que Victor nunca aceitava nada sem trocas. Mas hoje em especial, senti que perderia muito mais do que algumas notas de cem reais para o desajuizado do meu irmão do meio.

— O que você quer apostar desta vez? — perguntei, ajustando meus óculos. — Não vou deixar você sair com Madalena de novo. Da última vez, o prejuízo foi alto.

Como um colecionador de carros esportivos respeitado, todos os meus filhos tinham nomes. Madalena, uma Ferrari F8 vermelha, era meu bebê e quase foi com Deus da última vez que essa peste resolveu dirigi-la. Ainda lembrava da multa altíssima que paguei, fora a conta do mecânico.

Victor era um péssimo irmão, e eu um otário por fazer todas as suas vontades. No entanto, as mordomias iriam acabar. Ele completaria dezenove anos. Nosso avô o queria ao meu lado na empresa, algo que faria meu irmão torcer o braço de propósito apenas para contradizer o velho.

Culpava meus avós por seu comportamento, ele foi criado cheio de vontades. Seria até hipocrisia minha acusar Victor de ser assim, se eu não fosse igual. Contudo, pelo menos, eu assumia minhas responsabilidades.

— Quero um mês longe da empresa — disse, esfregando as mãos. — Vou fazer um mochilão com Adriel pela Europa em abril.

Soltei uma risada sem humor, não acreditando naquele absurdo.

— Você e o caçula dos Zimmermann vão fazer um mochilão? — zombei. — E posso saber quem vai bancar vocês, zé mané?

Ele deu de ombros, nada abalado pela minha falta de confiança.

— Você e o Pedro.

Tirei os óculos por um momento e espreitei os olhos.

— Victor... já é hora de criar responsabilidade. Você não tem mais quinze anos. Alicia trabalha. Eu trabalho. Chegou a sua vez. Não posso mais limpar sua barra para o vovô ou para o nosso pai. Você vai assumir um cargo na empreiteira por bem ou por mal.

Uma Aposta Irresistível | |#DeuMatch (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora