Uma Aposta Irresistível | |#DeuMatch (DEGUSTAÇÃO)

Capítulo 1

"Será que foi decepção que fez ela virar do avesso? Coração de aço é bem mais forte que o de gesso e já nem pensa em dormir, vive o presente, que é real..."

CORAÇÃO DE AÇO | HUNGRIA HIP HOP

LUCIANA

Final de janeiro

Quando convenci Isabela a fazer uma conta no Xeque-Match ano passado para esquecer o seu ficante meio bosta, não imaginei que minha vida mudaria de uma hora para outra. Afinal, estava acostumada com as coisas dando errado comigo desde... bem, desde que minha mãe não tomou chá de canela e resolveu me colocar no mundo.

Minha melhor amiga viveu um pesadelo, como toda mulher solteira com dedo podre do século vinte e um, graças ao seu histórico de amigos coloridos, que de cor só possuíam o nome, já que pintavam sua vida de preto e branco, distribuindo dores de cabeça e frustrações.

Como a filósofa contemporânea Tati Quebra Barraco diria: homem é para sentar, vocês querem amar. Ela se emocionou e quebrou a cara, ficando sem seu tesão de vaca.

Sério! Nada, absolutamente nada, tirava a vontade de Isa de transar. Mas dessa vez foi diferente. Então, como uma boa amiga, decidi bancar o demônio sentado em seu ombro e sussurrar as palavrinhas mágicas: "faz uma conta nesse aplicativo de relacionamento, não custa nada."

Eu não aguentava mais ouvi-la reclamar que só o vibrador não era o suficiente e, para ser sincera, tudo não passava de drama.

Depois de recuperar a libido transando com um cara do aplicativo, a gata fez a Cinderela, só que em vez de deixar o sapatinho para trás, deixou a merda da calcinha.

Sem troca de número de telefone, sem um bilhetinho sequer.

Porém, Isabela não contava que esse homem, Felipe, além de jornalista, era herdeiro de uma casa editorial, que estava responsável por escrever a biografia do hospital onde ela trabalhava.

Aham, é.

Coincidência demais.

Esses reencontros inesperados só acontecem e dão certo em livros ou filmes. No entanto, no caso de Isa, deu mais do que certo. Ela iria até se casar.

O Grupo Editorial Mosaico era uma corporação com várias editoras, incluindo a Dahlia — conhecida popularmente pela publicação de obras do universo de True Crime, fantasia sombria e investigação —, que estava em expansão e dedicaria um de seus setores ao gênero de romances.

A prima de Felipe, Verônica, gerenciava as publicações da casa. Quando descobriu que minha amiga escrevia contos eróticos, decidiu que Isa seria perfeita para dar o pontapé inicial ao novo selo editorial. Ela não tinha uma base de leitores, afinal só escrevia para si mesma. Na visão de Verônica, Isabela seria a escolha perfeita para um lançamento exclusivo e direto na Bienal de São Paulo, que aconteceria daqui a uns meses. Contudo, Isabela via a escrita como diversão, contava suas aventuras eróticas nos blocos de notas do celular e jamais viu a arte como uma possibilidade profissional, apesar de ter veia artística.

Nunca condenaria minha amiga por rejeitar a proposta de Verônica, afinal, Isabela amava o que fazia e estava estudando para o concurso de técnico em necropsia da Polícia Federal. Eu, por outro lado, preferia apenas ouvir os mortos e não dissecá-los. Mas, ao contrário de mim, minha amiga era estranhamente fascinada pela anatomia humana. Bom para ela. Caso Felipe vacilasse, saberia exatamente como e onde usar o bisturi.

A questão era que nossos planos e metas divergiam. O sonho de publicar um livro sempre fora meu, e talvez ele nunca se realizasse porque essa piranha estava tentando me matar aos vinte e quatro anos.