— Falou que era necessário ter dedicação para manter o emprego. Já é quase hora do almoço, e só me deram um monte de documentação para ler — Expressou Yuna, já cansada de apenas ficar lendo regulamentos.
— Você acabou de entrar, precisa conhecer os procedimentos. Mas toda 13h de segunda, temos uma reunião com a diretoria para separar as tarefas, agendar prazos e passar o status dos que já foram passados.
— Tá fazendo o que agora, Seojoon? — disse Yuna, quase grudando em mim para ver a tela do meu computador.
— Yuna, por favor, desgruda! E se quer tanto saber, na reunião das 13h você será atualizada de tudo. Não perde tempo e lê as coisas que te passaram — Eu disse de forma fria. Ela podia ser bonita, mas seu passado não me descia na garganta. Não consigo olhar para ela e sentir algo além de desprezo. Talvez ela tenha melhorado como pessoa, mas não sou um humano tão bom assim.
— Qual é, Senhor Kim? Precisa de toda essa frieza? — disse Taeynang.
Eu nem sempre fui tão frio assim. Na verdade, eu era uma pessoa bem comunicativa na época do colégio, o aluno popular, a referência, que mesmo com as notas altas, ainda era querido e amigo de todos. Mas eu era cego. Bom, é aquela frase, às vezes a ignorância é uma virtude, ou muito ajuda quem não atrapalha. Quando você passa a ver as coisas, para de voar e vive mais dentro da realidade.
Era primavera de 2010, eu estava com meus 15 anos no primeiro ano do ensino médio, e uma garota nova havia entrado na escola.
— Classe, esta é Parkin Ji-Young. Ela se transferiu para a nossa escola e fará parte da nossa turma. Sejam gentis com ela — falou a professora da turma. Ela também era cega como eu, ou isso, ou sempre passou pano para as idiotices da turma…
Tenho que dizer que a garota nova não era o sinônimo de beleza, mas talvez ela só se escondia atrás dos óculos e do cabelo preso. Ela tinha uma pele bonita, mas óculos que diminuíam seus olhos de tanto grau que tinha. Era bem magra, quase sem curvas, mas era prestativa, fofa e alguém que você gostaria de ter por perto. Seu sorriso era a coisa mais linda nela, mas ele sumiu em poucos dias.
— Ji-Young, me fala mais sobre você! — Disse Jihoon.
— O que… o que você quer saber? — Ela disse tímida.
— Você tem irmãos? Seus pais trabalham com o que? O que você mais gosta de fazer?
— Ham… eu… eu tenho uma irmã mais velha, minha mãe é dona de uma lavanderia, e meu pai é militar, então não o vejo muito… e eu… eu acho que eu gosto de desenhar e ler…
— Ler o que, Ji-Young?, disse Yuna.
— Acho que qualquer coisa. Gosto de ficar informada…
— Que legal, pretende depois daqui trabalhar na TV? Você tem um belo sorriso, se daria bem como jornalista… Yuna falou mostrando seu carisma.
— Quem sabe…, Ji-Young parecia feliz. Foi bom vê-la assim, mas durou pouco.
— Ei, Ji-Young, lava isso! — Um colega jogou a roupa suada de educação física na cabeça da jovem.
— A minha também, Ji-Young! — Vários dizem a mesma coisa e repetem o mesmo ato.
— Porque eu…
— Todo dia alguém faz isso, como você é nova, você faz isso, e outra, você já deve ter prática! Hahahah.
— Ok, mas por que jogaram em mim?, ela fala ainda querendo entender o porquê daquilo.
— É só engraçado, não achou? Hahahah.
Não tinha graça. Mas naquela época, eu não queria ver o que estava acontecendo ainda.
— Senhorita Parkin, posso saber por que chegou atrasada para a aula?
— Eu estava lavando os uniformes…
— E por qual razão? Sendo que cada um leva o seu para casa e lava o seu?!
— Foi um trote que a gente fez, professora. Só uma brincadeira, mas não achei que ela faria isso no horário da aula, disse Junseonk sentado de qualquer jeito na cadeira com tom de zombaria.
— Eu não disse para serem legais com a aluna nova?!
— Foi uma forma de integrá-la de forma mais tranquila à sala. Todos os novatos já passaram por algo assim, até eu, professora. Não queríamos deixá-la triste. Pedimos desculpa por isso…— Disse Yuna com um tom de arrependida.
— Entendo, tá tudo bem. Só não façam mais isso. Pode sentar lá no seu lugar, minha querida, disse a professora colocando a mão no ombro de Ji-Young como se fosse uma forma de conforto sem fazer nada.
Lembra do "espero que isso não aconteça novamente"? Bom… aconteceu.
Com o passar dos dias, as provocações ganhavam intensidade. Inicialmente, eram dirigidas às roupas; a desculpa era que ela era filha da dona de uma lavanderia. Contudo, à medida que o tempo passava, as investidas evoluíam para esbarrões. Alguns eram propositais, chegando ao ponto de fazê-la cair, seguidos por pedidos de desculpas que, ironicamente, não alteravam o comportamento hostil.
— Desculpa aí.
— Oh, mil perdões.
— Foi mal aí!
Ao longo de 1 ano e meio na mesma turma, ela deve ter ouvido todas as variações de desculpas. Eu apenas observava, sem tomar nenhuma atitude. No entanto, um acontecimento se tornou o ponto de ruptura para mim. Após a aula de educação física, Ji-Young desapareceu. Horas se passaram, e nada dela.
— Kim, você viu a Ji-Young? — Indagou a professora baixinho, enquanto eu estava em minha mesa.
— Não, professora, desde a aula de educação física...
— Pode verificar onde ela está? Estou começando a ficar preocupada — Assenti, deixando a sala.
Corri para a quadra, procurando pela presença dela. Vasculhei a sala onde guardávamos os equipamentos, mas nada. Quando estava prestes a sair, percebi um choro vindo do vestiário.
— Ji-Young, é você? Posso entrar?
O choro cessou abruptamente. Preocupado, hesitei, afinal, era o banheiro feminino.
— Ji-Young, por favor, me responda! A professora está preocupada! — Embora não tenha dito isso, minha apreensão aumentava. Ao abrir a porta para entrar, ela gritou.
— Não! Por favor, eu… eu… estou… estou sem… — Ela não conseguia formar uma frase completa, mas as palavras indicavam que não estava vestida.
Rapidamente, busquei minha toalha e uniforme de educação física no vestiário masculino. Ao abrir uma fresta na porta do vestiário feminino, deixei as roupas no chão.
— O cheiro não está bom, mas pelo menos você pode ir comigo até a diretoria para conseguir outro uniforme. Por favor, vista isso; caso contrário, ficará doente.
— Você… você...
— Pode falar... — Falei calmamente, percebendo o estresse dela.
— Volta para a sala. Por favor… E.. e… — Respirou fundo e desabafou — E não comente nada, com ninguém, COM NINGUÉM! Vou voltar para casa, eu me viro...
Talvez devesse tê-la ouvido mais, talvez isso tivesse evitado tantos problemas. Não imaginava que minha tentativa de ajudar só pioraria a situação. Às vezes, é verdade que "muito ajuda quem não atrapalha".
Se antes achava que ela estava mal, a partir daquele dia, ela vivenciou o inferno. Nunca subestime quem possui influência financeira, é o que digo.
Após minha denúncia anônima, os culpados foram advertidos pela diretoria, mas a acusaram de delatar eles, alegando que era apenas uma brincadeira. Uma brincadeira trancar todos os armários, retirar as toalhas do banheiro e remover suas roupas do banco. Apenas uma brincadeira...
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Entre Sombras e Holofotes
Mystery / ThrillerNuma história envolvente, o protagonista, antes um mero espectador do bullying na escola, acaba trabalhando com seus antigos colegas, notando coincidências intrigantes. A trama se desenrola, revelando o crescimento público do grupo, tornando-os figu...