Jambalaya

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"Eu ensinarei apenas uma vez. Aprenda. E não me faça comer comida queimada."

Alastor diz, rigoroso. O seu local artístico é a cozinha, as refeições, suas obras de arte. Anos de receitas aprendidas com sua saudosa mãe são pintadas nesse espaço culinário e entregues para o prazer do resto do hotel. Se ele não fosse radialista, de certo, seria um chefe.

"Está bem, garçom. Não vou queimar."

"Diga isso para os beignets no fogo!" Aponta para o carvão na panela do que um dia foram deliciosos beignets.

"Um erro de cálculo. O próximo será melhor."

"Duvido muito." Revira os olhos. "O que eu te ensinarei agora são técnicas passadas por gerações, meu caro. Uma receita que minha avó ensinou para minha mãe que, por sua vez, aperfeiçoou a deliciosa jambalaya."

Lúcifer parecia desinteressado. Al sabe que é apenas fingimento e o loiro gosta de ouvi-lo falar sobre sua família.

"Resumindo: Não queime."

"Ok, ok. Vamos logo com isso."

Eles passam a manhã temperando camarões, refogando cebolas e alhos, fazendo arroz e dourando frango - o que é por pouco queimado. O radialista quase bate com a frigideira na cabeça do governante. Mesmo que o anjo seja um estúpido com habilidades questionáveis, Al se diverte ensinando-o.

É prazeroso ter um pupilo, ainda que fosse forçado - considerando a corrente que os prende. Repassar o que sua mãe lhe ensinara é uma tarefa agradável.

Uma pena que o aprendiz é um idiota.

"Vai queimar!" O grito do cervo assusta o loiro, que quase derruba a panela com arroz e camarão.

"Puta que pariu!" Habilmente, o demônio desliga o forno, salvando sua refeição. "Por pouco né."

"Terceira vez no dia, Senhor Morningstar."

"Ócios do ofício. Vamos comer?"

Seria inútil discutir com esse cabeça de vento.

"Jambalaya do capeta!" Ele dá uma colherada. Alastor o observa atentamente degustar a explosão de sabores que a receita de sua mãe provoca em todo cliente. "Que delícia! Alastor, deveria fazer isso mais vezes."

"Você que fez. Fique feliz por não ter sido um fracasso."

"Eu tenho um professor decente."

Algo correu no peito do pecador. Como se tivesse derrubado vários livros dentro dele. Um aperto.

"Vai visitar sua mãe no céu?"

O vermelho ri.

"Uma pergunta tola, vossa majestade. Eu não tenho salvação."

"Verdade. Não tem." Apesar de ter dito o mesmo, é inevitável não se sentir ofendido. "Charlie foi tola em te trazer junto."

"Estou para ajudar. Não me redimir."

"Se quiser eu posso falar com sua mãe. Trazer uma carta, sei lá. Consigo ir no Paraíso mais vezes que gostaria."

Outro avanço no seu coração. O que raios era isso?

"Seria interessante."

"Farei da próxima vez." Pisca para o maior. "Quero agradecê-la pela melhor receita de jambalaya do universo."

Ri de novo.

"Ela o chamaria de tolo."

"Por que?"

"Porque você não conhece todo o universo."

"Oras, como sabe? Estou aqui há tanto que nem lembro como nasci."

"E se lembra de algo da infância?" O jogo de perguntas começou. Al adora esse jogo. Ele poderia fazer isso o dia todo.

"Lembro do superior. Ele gostava de mim até eu me meter na criação. Você já sabe o resto." O cervo concorda. "O superior não se intromete, só quando as coisas saem do controle."

"E ele não iria comentar dos extermínios?"

"Não saiu do controle." Dá de ombros.

Dessa forma, deliciam-se com o almoço. Alastor gosta do tempero de Lúcifer, a maneira graciosa que cozinha. Uma pena que ele seja um péssimo cozinheiro.

A jambalaya estava horrível, entretanto, não quis machucar os sentimentos desse anjo sentimental.

Loving You || RadioappleOnde histórias criam vida. Descubra agora