Um olhar a mais

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É difícil para Alastor não observar Lúcifer. Tornou-se pior conforme os dias de convivência foram avançando.

Luci possui um corpo esbelto e pequeno. Quando está sem camisa, duas feridas enormes cobrem a região que brotam as asas. Alguns momentos, a cauda do governante surge, como se fosse se espreguiçar um pouco. Inevitavelmente, paira seu olhar por um tempo maior quando o loiro está de roupão - costume que possui ao sair do banho.

Qual seria o gosto daquela carne alva? Teria o sabor do Paraíso divino ou uma carniça vermelha como qualquer outra? Sente um desejo enorme por arranhar aquela palidez, lamber seu sangue dourado e deliciar-se com o sabor desconhecido. Manteria Lúcifer sob suas mãos, as garras no pescoço, e faria o próprio dar a carne para o demônio. Degustaria o sabor dos céus, a eternidade da vida. É capaz de Alastor sentir uma felicidade verdadeira ao mero pedaço do celeste.

Uma oferenda do anjo caído. Era excitante.

Encara de soslaio aquela bela figura. Ele não sabe o porquê de observá-lo tanto, já que não tem grandes desejos sexuais. É apenas lindo. Parecido com um quadro renascentista. Os traços finos e delicados, o gracejo do pincel contornando as bochechas rubras e madeixas de sol. As asas magníficas cobertas por um tom de nuvens e o escarlate sanguíneo. O par de olhos em uma tintura amarelada e a íris carmin. Os lábios rosados. Tudo nele é perfeito e atrativo, saboroso.

Será que Lúcifer foi alvo de pinturas? A sua forma original, não as que imaginavam? O cervo não sabe. É uma pena não ter grandes habilidades artísticas, se não o desenharia.

Pergunta-se o que o anjo fazia ao descer na terra nos primórdios, antes de se decepcionar com os seres humanos. Ele chegou alguma vez a gostar de visitar os pobres pecadores?

Deve ter quebrado tantos corações no mundo terreno. A aparência angelical atrairia atenção de homens e mulheres diversos. Quem sabe a atenção do demônio do rádio quando estivera vivo.

"Perdeu alguma coisa em mim, garçom?" O menor questiona enquanto mantém sua rotina de cremes faciais.

Ficou tão nítido que Al estava o encarando?

"Não." Volta seu rosto para as anotações das próximas músicas.

Lúcifer não sabe, mas o radialista tem noção que ele também o encara. Quase impossível não sentir os orbes do celestial em si. Sente a atenção do alado quando está lendo, cozinhado, escrevendo e até mesmo andando. Toda hora observado furtivamente por esse serzinho petulante.

Alastor sorri pequeno. Ele até que gostava disso.

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