Lembranças

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Desde que me conheço por mim mesma, o Bastien foi uma das maiores razões do sorriso que havia no meu rosto.

E só de pensar que um dia, eu já estive sem o Bastien, sentia ânsia e desgosto por mim mesma.

Eu e ele nos conhecemos de uma forma bem inusitada, aliais, estávamos ambos em uma lanchonete, eu estava por volta dos vinte e três anos.

Minhas amigas tinham me arranjado um encontro, nada de mais, pois na cabeça das mesmas eu não estava estável mentalmente para ficar sozinha. 

Fiquei horas, e horas esperando pelo homem, até que apenas desisti e sai em meio a chuva.

Foi aí que bastien surgiu, com aquele sorriso alegre de sempre, e sua postura gentil.

Lembro-me que na época, ele ainda deixava seu cabelo grande, apenas o máximo para deixá-lo mais ondulado do que ficava curto, o que eu achava uma graça, pois se destacava nos seus fios ruivos.

Eu esperava um táxi em meio a chuva, até ele gentilmente perguntar se eu gostaria de uma carona.

Ele não tinha um carro, muito pelo contrário, Bastien era mais humilde do que eu seria. Ele me levou até minha casa em uma bicicleta, e foi um longo caminho em que nós dois ríamos completamente encharcados.

Ao me deixar na porta de casa, a última imagem que tive do mesmo foi ele me entregando seu número, seus cachos ruivos grudados à testa, e seus olhos pretos brilhavam como as estrelas. 

Tenho certeza, que foi rente a esse momento, que me apaixonei por ele.

E não diria, que foi de cara que criei esse apego por ele, mas as primeiras impressões que tive do mesmo, fora a coisa mais preciosa que já havia visto.

França - 1963

{Estava tudo um breu, mal conseguia me mover, e minha respiração estava ofegante pelo oxigênio mínimo que havia no local.

De repente uma luz forte se acende logo acima de mim, um vulto me olhava, e pude ver melhor onde eu estava.

Aparentava ser uma mesa, longa, olhei mais ao redor, tudo envolta do vulto era puro breu.

Comecei a arranhar aquilo que me prendia, mas não cedia a rasgar, era plástico, estranhando decidi checar onde eu estaria presa, e abaixo de mim havia um tipo de isopor, enquanto no mesmo plástico mais abaixo havia uma etiqueta.

Percebi na hora a situação, eu estava em uma espécie de embalagem para carne, de repente gritos começaram a ecoar, gritos de dor, sofrimento, e cada vez ficavam mais altos.

Os gritos eram meus.}

O barulho estridente e agudo do despertador chegou aos meus ouvidos em questão de segundos, dei um pulo, assustada pelo som repentino, e então novamente o sono dominou meu corpo.

Eu estava deitada de barriga, comecei a me arrastar até alcançar o despertador, que caiu no chão pela falta de cuidado ao toque.

Me levantei, meus braços apoiavam meu corpo para cima, olhei para a cama e o travesseiro no qual eu apoiava a cabeça estava molhado, não podia distinguir se era por lágrimas ou baba.

Apetite MortoOnde histórias criam vida. Descubra agora