Acho que, eu nunca soube demonstrar o que eu sentia, sendo isso nojo, rancor, felicidade ou até tristeza.
Mas já era esperado isso, não é como se duas pessoas quebradas pudessem cuidar e zelar de uma criança sem deixa-la quebrada igual ambos.Minha família nunca parecia validar meus sonhos, lembro-me do tempo em que era criança, mesmo morando em um ambiente confuso, podia se ver todos os dias um sorriso brilhante em meu rosto.
Sempre fui uma criança de ouro, compreensiva, inteligente e criativa. Mas todos sabem que ser uma criança prodígio em um mundo podre, invejoso e egoísta nunca é uma boa ideia, ainda mais quando tem crianças com condições muito melhores que a nossa.Com o tempo eu cresci, e como eu disse, impossível duas pessoas quebradas criarem uma criança saudável mentalmente, conforme meus dias iam passando dentro da minha própria casa, eu apodrecia mais e mais.
Mas, não no lado ruim da coisa, eu continuava empática e gentil, mas algo dentro de mim, queria sair para fora.Aquilo queimava dentro do meu corpo, não dava nem para descrever em palavras, a dor que eu sentia internamente era intensa, mesmo não estando doente nem nada.
E, ao mesmo tempo, eu não conseguia sentir nada, meu sorriso foi se apagando, minha esperança e fé, não existiam, e eu era apenas uma casca vazia, fruto de tudo o que pessoas podres já haviam dito e feito comigo.Com o tempo, parei de comer, comecei a enojar o que eu via no espelho, comecei a enojar a pele que permanecia acima da minha carne, ela me incomodava de uma forma infernal. Tudo o que eu queria era arranca-la com os dentes, mas, ao mesmo tempo eu temia o que eu encontraria abaixo daquilo.
Comecei a me questionar sobre tudo, minha existência, se eu havia culpa naquilo, se o problema seria eu, se eu merecia aquilo, se não era mais fácil apenas desistir. Desistir de tudo, desistir de continuar tendo uma vida, uma alma.
E eu apenas aceitei, que era assim que tinha que ser, que a tão aclamada Igreja, que cresci ouvindo sobre, não era justa, muito menos desejava o bem.
Porque se ela fosse mesmo, ela me tiraria desse inferno em que vivo internamente.Ela não teria me deixado na mão de duas pessoas quebradas.
{Abri os olhos, o ambiente estava em um tom avermelhado, e eu estava deitada em meu próprio sangue.
Tentei me levantar, achando que teria dificuldade, pois sentia um peso sobre meu corpo, mas foi fácil como se eu tivesse o peso de uma pena.E então olhei para frente, era um corredor, e durante todo o caminho a frente havia cadáveres apodrecendo.
O sangue seco se destacava no local, espalhado por todas as partes, tentei andar, mas minhas pernas não se moviam.
Então olhei ao redor, também haviam quadros no local, eram de famílias, casais e coisas do tipo, mas com as manchas de sangue que haviam nos mesmos ficava quase indescritível.Voltei olhar para frente, e agora havia uma garotinha ali, ela me encarava, olhos arregalados, roupa larga e cheia de sangue.
O sangue escondia todas as características da mesma, cor de pele, cor do cabelo e a cor da roupa, era tudo um vermelho forte, e a única coisa que podia se identificar era seus olhos castanhos, focando atentamente em mim.'"Isso é culpa sua"
Ela disse, e mesmo que por dentro eu estivesse assustada e confusa, por fora eu apenas demonstrava desdém para a mesma.
A garotinha sacou uma faca, e apenas voou em meu pescoço, nos duas caímos no chão, e ela começou a desferir golpes contra mim."TUDO É CULPA SUA"}
Minha cabeça pesava, mal conseguia abrir os olhos e me mexer, enquanto meu estômago revirava e minha respiração acelerava cada vez mais.
Meus ouvidos ficaram mais sensíveis a tudo, podia ouvir claramente os carros passando na rua, o "tic tac" estridente do relógio, e passos, passos próximos.
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Apetite Morto
RomanceClaire Lefebvre, uma jovem de 26 anos que é completamente obcecada por seu, agora, ex namorado. E por um infortúnio do destino o encontrou frequentando um restaurante famoso da cidade. A mesma então decide se infiltrar no mundo culinário como a mais...