Angústia

6 1 0
                                    

Uma coisa que nunca quis admitir, no caso, para mim mesma, era a forma tóxica e bruta que o Bastien me tratava.
Acho que nunca sequer vou aceitar, amava ele demais para isso, o amor me cegou com o tempo.

Mal me lembro quando o comportamento dele começou, foi do dia para noite, em uma hora eu olhava para meu doce Bastien, o namorado carinhoso e gentil de sempre, e ao se passar a hora, eu estava olhando para um animal sedento e possesivo.
Demorou um tempo até eu contar as minhas amigas o que acontecia, a forma que ele forçava o toque comigo, que me batia e me reeprendia por nada mais do que ser eu mesma.

Elas sempre me falavam "Você deveria largar ele!" "Sem você, ele não passa de um rosto bonito!", mas, eu preferia continuar cega, e fingir que meu relacionamento era um conto de fadas.
Lembro-me de ouvir Bastien me xingar só pelo fato de ter engordado um pouco mais, lembro de nossos milhares de términos e de todas as mulheres no qual ele me traiu.

Mas eu estava, tão... Quebrada, que resolvi apenas deixar que aquilo ocorresse, por mais doloroso que era, eu sentia que era Amor, e eu faria de tudo e mais um pouco para continuar me sentindo amada daquela forma, nem que custasse vidas.

França - 1963

{O calor era insuportável, minha respiração estava ofegante, e a ânsia aumentava cada vez mais, eu sentia como se tudo o que havia dentro de mim, órgãos, sangue, ossos, fossem sair de dentro da minha boca, como se fosse mero vomito.
E enquanto isso, tudo que eu sabia era andar de um lado ao outro no escuro, não conseguia ver nada, o pânico me atingia de forma dolorosa, meu corpo derrepente se jogou para trás, pude sentir minhas costas batendo sobre a parede também quente.
Ouvi um estalo, e derrepente a luz se acendeu, percebi estar girando, tudo a minha volta era branco.
Como num Micro-ondas}

O barulho do despertador novamente chega aos meus ouvidos, eu podia sentir um peso acima do meu peito, mal conseguia respirar ou me mover.
Ao abrir os olhos, me deparo com Aqua acima do meu peito, dormindo como se nada mais importasse, talvez porque nada importaria para ele no final.
Movi gentilmente ele para o lençol, e levantei da cama, me sentia vazia e exausta, como se tudo e todos tivessem sugado cada pedaço de mim, motivações, sonhos. Tudo.

E por ai seguiu minha rotina normal, tomar café, alimentar o Aqua, Tomar um banho rapido e me trocar.
Tudo pareceu tão vago e rápido que quando dei-me por mim, já estava a caminho do trabalho.
O vento batia no meu rosto, minha respiração estava ofegante por dentro do capacete e a adrenalina corria no meu sangue, eu estava rápida, mais do que o comum, e eu não tinha ideia do porque, não havia motivo de tanta pressa se nem mesmo estava atrasada.

🎬

Estacionei a moto no beco, e retirei o capacete, minha respiração ainda estava ofegante e minha cabeça girava, como se eu houvesse acabado de sair de uma bola, que girava e girava com mais potência.
Meu coração batia forte sobre o peito, e eu podia sentir meus olhos lacrimejarem.
Por que?

Voltei a consciência e deixei o capacete acima do volante, e adentrei o local pela porta dos fundos.
O som da movimentação me atingiu assim que abri a porta, alguns funcionários me cumprimentavam enquanto eu apenas assentia com a cabeça.
Peguei minha identificação e prendi rente ao peito do avental, e então fui direto ao salão principal.
Estava levemente sujo, então arregassei as mangas e comecei a coletar prato por prato, enquanto depositava os restos num saco preto.

- Claire! - Olhei para trás, era um dos assistentes de cozinha - Não querendo incomodar, mas você conseguiria depositar o lixo para fora antes do expediente?

Apetite MortoOnde histórias criam vida. Descubra agora