─── ・parte doze 。゚☆: *.☽

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Ele saiu algumas vezes com Luciana. Mas ela queria coisas que ele não era capaz de dar.

— E lá é bonito? A sua terra? — ela perguntou um dia, enquanto caminhavam pela orla.

— Sim — ele respondeu. — A cidade é bem simples, mas as pessoas são ótimas e a igreja é perfeita.

— É mesmo? Eu gostaria de ver.

Ele sabia que ela queria que ele a convidasse para o casamento, mas fingiu não ter entendido a indireta.

Dezembro chegou e, depois das provas finais, ele partiu para Santana dos Ferros. Não se lembrava da viagem ser tão demorada e estava todo dolorido quando enfim chegou ao seu destino. Era de manhã bem cedo e ele partiu imediatamente para a casa. As ruas da cidade ainda estavam vazias, apenas o padeiro abrindo a padaria e uns cachorros fizeram companhia a ele até bater na porta.

— Já vai — a voz, surpresa, da mãe ecoou do lado de dentro.

A porta se abriu e ela o olhou por um tempo com a testa franzida. Em seguida, colocou a mão na boca.

— Malthus? — perguntou.

Ele largou a mala no chão e a abraçou, levantando-a e girando-a no ar. A risada que ela soltou ecoou pela rua.

— Não acredito — ela disse quando ele a soltou. — Você está tão mudado... essas roupas e esse cabelo...

Eles entraram e a mãe logo empurrou um pote de geleia nas mãos dele enquanto ia preparar o café da manhã. Ela o olhava por cima do ombro a todo momento, como se quisesse se certificar de que ele continuava ali. Depois do almoço e dos intermináveis paparicos de dona Neném (só faltou ela querer colocar comida em sua boca) ele foi para a casa de Roberto, onde encontrou Aramel.

— Malthus! — Aramel deu um abraço nele, com vários tapinhas em suas costas. Ele o segurou pelos ombros. — Olhe só para você, parece até gente!

Ele deu uma risada.

— É bom te ver também.

Eles se sentaram na mesa da cozinha, onde dona Ciana tinha deixado uma tigela cheia de bolinhos de chuva e começaram a colocar a conversa em dia. Roberto chegou logo depois, vindo da casa de B. e se jogou em uma cadeira ao lado deles.

— Olhe só o sorriso no rosto dele — Aramel sussurrou alto para Malthus. — Parece um idiota. Será que as bochechas dele não estão doendo?

— Talvez já estejam anestesiadas — Malthus entrou na brincadeira.

— Eu posso ouvir vocês, idiotas — Roberto resmungou.

O casamento seria no dia seguinte e Aramel foi dormir na casa de Malthus. Ficaram acordados até tarde, conversando igual quando eram crianças.

— Você encontrou ela? — Aramel perguntou no escuro.

— Não estou nem perto — ele respondeu.

— Uma pena. Me avise quando encontrar, quero devolver o dinheiro que me emprestou.

— Você fala com tanta certeza. Acha mesmo que posso encontrar ela? Já fazem três anos.

— Eu achei que era impossível te ver longe da igreja e olhe só para você agora. Eu sempre quis ser ator em Hollywood e eu sei que ninguém colocava fé em mim. Mas veja só. Se quer muito uma coisa, vai conseguir. — Ele fez uma pausa, tão longa que Malthus achou que tinha dormido. — Você quer?

— Com todas as minhas forças.

— Então me mande um telegrama no mesmo dia que achar ela.

B. estava radiante na igreja, os cabelos mais longos do que na época de Belo Horizonte. Roberto tinha um sorriso permanente de orelha a orelha. Os três, de terno e cabelos penteados para trás, tiraram uma foto juntos, como os mosqueteiros que eram. Aramel rodopiou B., do mesmo jeito que Malthus tinha feito com a mãe, enquanto ele apenas a abraçou e deu um beijo em cada bochecha. Ele viu Dorinha, a neta de dona Loló, sentada em um dos bancos, com uma mão apoiada na barriga grande.

Roberto e B. iam passar a lua de mel no Rio, pegaram o trem logo após a festa de casamento. Malthus ainda passou o Natal com a mãe, que chorou copiosamente quando ele e Aramel entraram no trem, como se fosse a primeira vez que estivesse se despedindo dele. De certa maneira, era verdade. Essa era a primeira vez que Malthus se permitia ser ele mesmo.

Like a prayer.Onde histórias criam vida. Descubra agora