─── ・parte nove 。゚☆: *.☽

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O primeiro ano na faculdade até que passou tranquilamente. Ele já tinha lido tantos livros grossos e com palavras antigas extremamente complicadas que os livros de direito se tornaram até fáceis de entender. Foi na primeira festa de sua vida no final do primeiro semestre. Ficou bêbado pela primeira e chorou no colo de uma garota de sua sala, dizendo que nunca mais ia ser feliz se não encontrasse Hilda. Ela o agarrou pelos cabelos, agora já grandes novamente e o beijou. A língua da garota parecia passar por todos os lugares errados, diferente da língua dela e Malthus a largou e saiu correndo para o banheiro, vomitando em seguida. Ele mandou uma carta detalhada para Roberto, como mandava todos os meses, e convidou-o para vir ver os fogos com ele, mencionando, no meio dela, o ocorrido do beijo.

"Meu deus" ele começou a carta de volta e Malthus conseguia ouvi-lo rindo enquanto escrevia. "O que foi que a Hilda fez com você?"

Logo de manhã, depois de acordar, ele foi direto ao cabeleireiro.

Roberto chegou dia 30 de dezembro e ficou num hotelzinho barato perto do mosteiro. Malthus mostrou as redondezas para ele, o que surpreendeu Roberto, que tinha imaginado o amigo apenas trancado em um quarto estudando.

— Minhas notas estão ótimas — ele disse, orgulhoso. — Mas meus professores sempre reclamam da minha gramática.

— É claro — Roberto deu uma risada. — Já vi você escrevendo pressão com Ç.

No dia seguinte eles desceram para a praia de Copacabana de ônibus, já de noite. Ela estava lotada, mas ainda era possível se espremer entre as pessoas e achar uma mesinha para sentar. Roberto pediu uma caipirinha no bar e Malthus apenas um suco, ainda traumatizado com o que tinha acontecido na festa. Mas, sem que ele visse, Roberto derramou um pouco de sua bebida no copo dele.

— Tem uma garota te olhando — Roberto comentou. Malthus olhou ao redor e viu a garota de sua sala, ela acenou e ele foi obrigado a cumprimentá-la de volta, sentindo suas bochechas esquentarem. — Quem é?

— A menina da minha sala.

— Um pitel. — Roberto acenou para ela, o que a fez começar a se aproximar.

— O que está fazendo? — Malthus sibilou.

— Conhecendo ela. Olá! — ele disse quando ela chegou na mesa.

— Oi — ela mal olhou para ele, focada em Malthus com um sorriso no rosto. — Oi, Malthus.

— Luciana. — Ele estendeu o braço. — Esse é meu amigo, Roberto. Ele é jornalista em Belo Horizonte.

— Prazer — ela disse. — Você está bem? Fiquei preocupada com você, só sei que vomitou e saiu correndo embora. Ah! — ela colocou uma mão na cabeça de Malthus, mexendo nos fios, o que fez ele se arrepiar. Roberto disfarçou sua risada com uma tosse ao vê-lo todo desconcertado, principalmente quando ele agarrou o terço no pulso. — Você cortou o cabelo, ficou muito bom.

— Obrigado — ele murmurou.

— Luciana! — alguém gritou ao longe, fazendo-a revirar os olhos.

— Minha mãe está me chamando, preciso ir. Se eu não os ver até a meia-noite, feliz ano novo!

Eles desejaram o mesmo.

— Ela gosta de você — Roberto sussurrou.

— Não diga besteiras.

— É claro, estou completamente enganado. E ela não está rebolando enquanto caminha para você olhar para a bunda dela, é claro que não.

Ambos olharam para ela, que de fato estava rebolando.

— Ela é bonita — Malthus soltou, bebendo seu suco batizado. — Mas não é para mim.

— Você é quem sabe — Roberto respondeu, dando de ombros.

Ele reparou que a cada mulher morena que passava perto deles, Malthus virava a cabeça, olhando-a atentamente e voltando cabisbaixo quando não via o que queria. À meia-noite, os fogos de artifício iluminaram os céus e quase os deixaram surdos.

— 1966 vai ser um bom ano, você vai ver! — ele disse, abraçando Malthus.

— Estou contando com isso.

— Preciso ir, vai ter uma passeata as 6:00 pelos direitos humanos, queria dormir um pouco antes de ir pra lá.

— Posso ir?

Roberto o olhou surpreso.

— É claro. Mas saiba que as coisas podem ficar feias.

— Eu sei.

Eles subiram, a pé, desviando das pessoas que dançavam e riam alegremente, comemorando o novo ano. Foi uma caminhada um pouco longa, mas nada que não pudesse ser feito com um pouco de esforço.

— Você está inquieto — Roberto disse. — Fale logo o que quer dizer.

Malthus suspirou.

— Alguém, lá em Belo Horizonte, sabe alguma coisa dela?

— Não — Roberto acendeu um cigarro que pegou no bolso e até chegou a oferecer para Malthus, que negou. Algumas coisas, provavelmente, nunca iriam mudar. — Passei no Maravilhoso hotel e ninguém sabe por onde ela anda. Bati até na casa de Leonor, a amiga mais próxima que ela fez na zona boêmia, mas ela também não sabia. Até chorou na minha frente.

— Ah.

Foi tudo o que conseguiu dizer. A cada dia que passava perdia cada vez mais a esperança de voltar a encontrá-la.

Like a prayer.Onde histórias criam vida. Descubra agora