Hilda alugou um jatinho, dizendo que ainda não estava pronta para pisar em Belo Horizonte, mesmo que fosse de passagem. Eram as férias da faculdade dele, mas ele se surpreendeu por serem as dela também.
— Já fiz tantas doações pra lá — ela tinha dito com um sorriso no rosto. — Tenho certeza de que o administrador pode entender uma pequena folga.
O crucifixo, todo detalhado, pendia em uma corrente de ouro entre os seios dela; Hilda não tinha tirado desde o momento em que ele abriu a caixa e pediu para ela se virar. Malthus tinha lutado contra o fecho com a mão enfaixada. Ele gostava de observá-la usando aquilo e nada mais.
O avião pousou no campo de futebol, que ficava no alto duma colina. Malthus amarrou os cadarços do tênis dela e desceram para a cidade, carregando duas malas. Hilda foi ficando mais quieta à medida que se aproximavam de sua casa e se escondeu atrás dele quando a mãe abriu a porta. Ele nunca imaginou Hilda com medo de alguma coisa. Era engraçado e trágico ao mesmo tempo que ela fosse ter medo logo de dona Neném.
— Malthus! — a mãe disse com um sorriso enorme no rosto, abraçando-o. Ele estava segurando as malas, portanto apenas abaixou-se, encolhendo o corpo em direção ao dela. — Que surpresa boa, não me avisou que vinha!
— Roberto pediu que viéssemos.
— Viéssemos? — a mãe perguntou confusa e o olhou, notando o volume das saias por trás da perna dele. Dona Neném o contornou e deu de cara com Hilda, o sol refletindo no crucifixo que ela usava. — Deus te abençoe — ela disse, colocando uma mão no peito dela e puxando-a para um abraço em seguida.
Malthus riu ao ver o olhar de pânico direcionado para ele, mas a mãe pegou na mão de Hilda e puxou-a para dentro da casa, mostrando humildemente os cômodos. Ele largou as malas na sala enquanto sua mãe servia uma tigela de geleia de jabuticaba para Hilda.
— Eu devo ter medo? — ela sussurrou para ele quando dona Neném foi buscar alguma coisa lá fora. Ela estava mexendo na tigela de geleia. — Já comi um pouco, será que vou morrer?
Ele deu uma risadinha e lambeu a galeria que tinha sujado o queixo e a boca dela, mal sabendo que a mãe os observava de longe.
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Like a prayer.
DragosteFanfic escrita em terceira pessoa, mas inteiramente pelo ponto de vista de Malthus. Retrata a época em que ele foi preso, o período pré reencontro no último episódio da série e um pouco além. Divirtam-se!