II

2 0 0
                                    






A porta de entrada se abriu rapidamente enquanto eu lavava a louça.

— Onde você estava? — Pergunto à minha mãe enquanto enxugo as mãos.

Ela apoia a bolsa sobre a mesa. As chaves nas suas mãos são lançadas sobre a mesa, fazendo um estrondo. Ela me olha séria.

— Por que se importa? — Uma mão vai a mesa, apoiando-se, cruza os pés e a outra mão no quadril: um sinal de que ela está indignada. — Eu sou adulta, faço o que quiser.

— Tenho que me importar. Sou menor de idade e sua filha. — Era doloroso dizer - admitir - saí de alguém como ela — E não, não pode fazer o que quiser. Eu existo, você tem que cuidar de mim porque sou sua filha. Seja responsável!

Minha mãe bufa.

— Não acho que esse seja o jeito de tratar sua mãe.

Eu contenho um sorriso de escárnio, claramente virando os olhos.

— Você sequer cuida de mim. — Abaixar o tom de voz requer um esforço enorme. Não consigo me manter calma e grito: — Que tipo de mãe deixa a filha só por um fim de semana inteiro?! — Deixo o pano de prato sobre a pia. Caminho até meu quarto, batendo os pés com um pouco de força no chão.

— Ainda precisa varrer esse chão, mocinha. Está imundo.

Chego à porta do meu quarto.

— Vai se foder, mãe! — Bato a porta, estremecendo meu quarto.

Presa no meu quarto escuro e abafado, é ruim saber que essa é a coisa mais próxima que tenho em relação a “lar”. Tudo à minha volta é casa, apenas um lugar que tenho para dormir em segurança. Meu quarto é onde todas as minhas frustrações estão presentes. Minha única companhia, cuidando de mim - atormentando-me - a cada segundo. Lar? Eu não tenho.

Escuto seus passos para fora de casa, ela bate a porta da entrada e estou sozinha. De novo. Agarro meus cabelos, sentindo a voz constante em algum lugar bem fundo e distante da minha mente fodida. Eu guardei esse lado obsessor, mas parece que ele está voltando, não sei se vou permanecer apenas com cortes se ela continuar a fazer minha cabeça pulsar de dor. Eu vou acabar surtando. Preciso do meu cigarro. Se eu não me controlar, a faca me espera na cozinha.

Enquanto eu fechava os olhos com toda a minha força, tentando não sentir a dor no meu peito, escuto um estrondo. Depois, gotas de chuva acertaram a janela do meu quarto. Naquele momento, pude me acalmar.

☆𝙳𝚊𝚗𝚌𝚎𝚛 𝚒𝚗 𝚝𝚑𝚎 𝙳𝚊𝚛𝚔☆Onde histórias criam vida. Descubra agora