Capítulo 05 - Momento de Lazer

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Kara Zor-El | Point Of View





Eu estava sentada no sofá da sala, um espaço que conhecia linha por linha, contorno por contorno. A ausência de visão nunca foi um obstáculo para sentir e apreciar a beleza que me rodeia, especialmente quando se tratava da música. Era uma manhã tranquila, e eu podia ouvir o som suave de “Corazón Partío” de Alejandro Sanz flutuando da cozinha, onde Sabá preparava o café da manhã. A melodia era familiar, uma que há muito tinha encontrado um lugar especial no meu coração.

Comecei a cantarolar junto, cada nota um fio delicado que tecia através do silêncio da sala…

— Para qué me curaste cuando estaba herio’ si hoy me dejas de nuevo el corazón partío’. – Minha voz se misturava com a dele, criando uma harmonia que só nós dois poderíamos compreender.

O aroma do café recém-feito começou a se espalhar pelo ar, trazendo com ele um calor reconfortante que só complementava a atmosfera.

— ¿Quién me va a curar el corazón partío'? – Continuei, sentindo a energia da música passar por meu corpo como uma corrente elétrica.

Eu sorria, não porque podia ver o sorriso de Sabá em resposta, mas porque podia senti-lo em cada acorde que vibrava no ar. Era como se a música criasse uma visão própria, uma tapeçaria de sons e sensações que pintava uma imagem mais vívida do que qualquer coisa que os olhos pudessem ver.

Sabá começou a cantar também, sua voz se unindo à minha em um dueto espontâneo que parecia tão natural quanto respirar.

— Y bajará la Luna para que juguemos? Dime, si tú te vas, dime, cariño mío ¿Quién me va a curar el corazón partío'? – Cantamos juntas, e eu podia imaginar seu sorriso, aquele que sempre me fazia sentir como se estivesse vendo o sol pela primeira vez.

A canção chegou ao seu fim, mas a energia que ela havia criado permaneceu, vibrando no espaço entre nós. Sabá voltou da cozinha, colocando uma xícara de café cuidadosamente em minhas mãos.

— Eu amo quando você canta! – Ela disse, e embora eu não pudesse vê-la, eu sabia que ela estava sorrindo.

Naquele momento, sentada no sofá da minha sala, com a música ainda dançando em minha mente e o aroma do café enchendo o ar, eu soube que a verdadeira beleza não precisava ser vista. Ela podia ser sentida, vivida, e acima de tudo, compartilhada. E com Sabá ao meu lado, cada dia era uma nova canção, uma nova oportunidade de ver o mundo não com os olhos, mas com o coração.

Segurava a xícara de café entre as mãos, sentindo o calor que emanava dela, um contraste agradável com o ar fresco que se infiltrava pela janela aberta da sala. O aroma rico e terroso me envolvia, trazendo um conforto imediato. Enquanto o sabor amargo do café preenchia minha boca, comecei a cantarolar suavemente, uma melodia que parecia espelhar minha atual tranquilidade.

Esses momentos de paz eram novos para mim, especialmente após a grande mudança que fiz em minha vida. Decidir aceitar as aulas em Juilliard e me mudar para Nova York foi uma decisão monumental, não apenas para minha carreira, mas para minha vida pessoal também. Desde que perdi minha visão, lutei contra a solidão e a dificuldade de me conectar socialmente. Tudo parecia tão intransponível, até agora.

Nas duas semanas que se passaram desde a noite que fui ao pub, encontrei não apenas um novo lar, mas um novo círculo social. Luiza e Valentina sempre estiveram ao meu lado, mas agora Alex, Sam, Nia e Lena também faziam parte da minha vida. Elas eram espetaculares, cada uma com sua personalidade única, trazendo cor e música para meus dias de uma forma que eu nunca imaginava ser possível novamente.

Love Blind - Adaptação KarlenaOnde histórias criam vida. Descubra agora