Capítulo 28 - Natal

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Kara Zor-El  |  Point Of View 




Sento-me ao piano, sentindo a suavidade das teclas de marfim sob meus dedos. A sala está impregnada com o aroma de pinho fresco e canela, enquanto a melodia de "Have Yourself a Merry Little Christmas" de Frank Sinatra começa a fluir pelas minhas mãos. Cada nota é um tributo ao passado, uma lembrança das celebrações de Natal de minha infância, quando meus avós ainda eram vivos e a casa se enchia de risos e histórias.

Naqueles tempos, o Natal era a época mais mágica do ano. Recordo-me das luzes piscando, do cheiro de biscoitos assando no forno e da voz reconfortante do meu avô, que sempre tinha uma história nova para contar ao pé da árvore. As lembranças desses dias são como tesouros, guardados com carinho no coração.

Mas este ano, o Natal tem um brilho diferente, um toque especial que aquece minha alma. É o primeiro Natal que passo com Lena, minha luz em meio à escuridão. Apesar de não poder ver seu sorriso, sinto-o em cada palavra, em cada gesto. A presença dela transforma a música que toco, infundindo-a com uma alegria que eu achava ter perdido para sempre.

A sala está cheia, e mesmo sem enxergar, posso sentir a vibração da vida ao meu redor. A família de Lena, misturada com a minha e com amigos queridos, enche o espaço com uma sinfonia de vozes e risos. O calor humano é palpável, um abraço constante que me lembra que, embora as coisas mudem, a essência do Natal permanece: o amor e a união.

Minha mãe deve estar perto, provavelmente na cozinha, supervisionando a preparação do banquete de Natal. Posso imaginar a mesa farta, os pratos decorados com esmero, como ela sempre fazia quando eu era criança. A música flui de mim para a sala, misturando-se com o burburinho das conversas, criando uma tapeçaria sonora que envolve a todos.

Cada tecla que pressiono traz uma nova onda de recordações. Penso na alegria que sentia ao desembrulhar presentes, nos abraços apertados dos meus avós e na sensação de pertencimento. Embora a ausência deles ainda doa, a presença de Lena e das nossas famílias faz com que a dor seja mais suave, como um eco distante em meio à melodia alegre.

Lena deve estar sentada próxima a mim, talvez de olhos fechados, sentindo a música assim como eu. Ela sempre diz que, quando toco, posso ver através do som. E, de certa forma, é verdade. A música é minha visão, meu modo de conectar com o mundo ao meu redor e com as pessoas que amo.

À medida que a canção se aproxima do fim, ouço aplausos suaves, um reconhecimento carinhoso do meu esforço e da beleza do momento. Sinto Lena se aproximar, e ela deposita um beijo suave na minha testa, uma promessa silenciosa de que, independentemente do que aconteça, ela estará ao meu lado.

O piano ainda vibra com as últimas notas da música, e o som se dissolve lentamente na sala, misturando-se com o barulho distante de crianças rindo e adultos conversando. Este Natal, cercada por todos que amo, percebo que, mesmo na escuridão, há uma luz que nunca se apaga: a luz do amor e da memória.

Com um suspiro contente, deixo minhas mãos repousarem sobre as teclas e me volto para Lena, sentindo a alegria deste momento especial. Este é o nosso primeiro Natal juntas, e tenho certeza de que será o primeiro de muitos. A magia do Natal está viva e bem, não só nas minhas lembranças, mas no presente vibrante e cheio de amor que estamos criando juntas.

Enquanto a última nota ainda paira no ar, levanto-me do banco do piano, guiando-me pelo som da música e pelo calor da presença de todos ao meu redor. Sinto a textura familiar do chão de madeira sob meus pés e a suavidade da brisa que entra pela janela aberta, trazendo consigo os cheiros festivos da cozinha.

Dirijo-me para onde sei que Lena, minhas amigas e seus irmãos estão reunidos, mas uma voz familiar me chama de repente.

— Kara, pode vir até aqui um instante? – É meu pai, chamando-me do escritório.

Love Blind - Adaptação KarlenaOnde histórias criam vida. Descubra agora