Capítulo 31 - Cirurgia

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Lena Luthor | Point Of View




Me levantei sentindo meu corpo agradecer, nem sei quanto tempo fiquei sentada praticando um mantra de positividade e boas energias. Precisei dar poucos passos para alcançar a enorme janela que dá para o jardim bem cuidado do hospital, se não estivesse tão frio eu me arriscaria a ir até lá.

Fazem apenas três horas desde que Kara foi levada para o centro cirúrgico, todos estamos cientes de que essa será uma cirurgia demorada e delicada. Mas a ansiedade e o nervosismo que a espera causa, às vezes se torna impossível de controlar.

Eu me recordo de quando vi Kara pela primeira vez, quando ela entrou na sala dos professores, a forma graciosa e leve como ela se movia, seu cheiro natural que me atraiu quase imediatamente. A verdade é que eu não mudaria absolutamente nada em Kara, eu a amo do jeitinho que ela é.

Sei que muitas pessoas me olham como se eu fosse louca, como se namorar uma pessoa deficiente fosse algo de outro mundo. Mas eu nunca me importei com o que pensam de mim e do meu relacionamento com Kara, pois somente uma pessoa tola e vazia não é capaz de abrir a sua mente para enxergar o mundo do ponto de vista de pessoas que sente o mundo de uma perspectiva única.

Kara desbloqueou em mim, uma nova forma e ver o mundo ao meu redor. Ela ampliou minha mente e visão, me fez sentir tudo novo, mais intenso e verdadeiro.

Olhei para o jardim do hospital, seus contornos suavizados pelo gelo que cobria as folhas e galhos. As plantas lutavam contra o inverno, sobrevivendo com uma força silenciosa que me lembrava de Kara. Cada folha, cada flor, mesmo adormecida sob a neve, representava uma promessa de renascimento. Fechei os olhos por um momento, tentando imaginar como seria quando Kara pudesse ver tudo isso de novo.

A cirurgia a que Kara estava sendo submetida era um procedimento arriscado, mas o doutor Donavan tinha nos dado esperança. Eu repetia isso para mim mesma como um mantra, segurando na fé como se fosse uma âncora. A visão dela poderia voltar. Ela poderia ver de novo.

Meus pais e os pais dela conversavam baixinho em um canto da sala. Tentavam manter o tom leve, mas a tensão era palpável. As mãos de Alura tremiam ligeiramente quando ela tomava um gole de café, enquanto meu pai, que sempre fora uma rocha de calma, andava de um lado para o outro, olhando o relógio a cada poucos minutos. Eu sabia que todos nós estávamos ali para dar força uns aos outros, mas eu precisava de um momento sozinha, para organizar meus pensamentos.

Voltei minha atenção para o jardim. As estátuas de pedra cobertas por uma fina camada de neve pareciam vigias silenciosas daquele pequeno espaço de natureza preservada em meio ao concreto. As árvores, desfolhadas pelo inverno, estendiam seus galhos para o céu cinzento, como se em uma prece silenciosa própria. Inspirei profundamente, sentindo o ar gelado preencher meus pulmões.

Rezei. Em silêncio, pedi a Deus, ao universo, a qualquer força que estivesse ouvindo. Pedi para que a cirurgia desse certo, para que Kara pudesse voltar a ver. Ela merecia essa chance. Merecia ser feliz. Ela tinha me mostrado o mundo de uma forma que eu nunca tinha visto antes, ensinando-me a valorizar cada detalhe, a encontrar alegria nas pequenas coisas. Agora, tudo o que eu queria era que ela pudesse ver de novo, ver a beleza que ela havia me ajudado a descobrir.

Perdida em meus pensamentos, não percebi o tempo passar. As horas se estendiam como uma eternidade, cada minuto marcado pela batida do meu coração ansioso. O sol começou a descer no horizonte, tingindo o céu de um laranja pálido que se refletia nas janelas do hospital. O jardim parecia ainda mais sereno sob essa luz suave, um contraste calmante com a tempestade de emoções dentro de mim.

Love Blind - Adaptação KarlenaOnde histórias criam vida. Descubra agora