Bloody Mary

13 2 2
                                    

Marina dançava frenética, os cachos voando e as luzes piscando em tantas cores, tantos flashes, estava ficando com a boca seca, mas não se deu conta disso, era música demais, gente demais, movimento demais.

Luzes demais

Seus lábios eram grossos, carnudos e ela tinha um nariz largo, olhos de diamante negro. Linda. Marina dançava tão linda. Bela e negra como o céu sem estrelas daquela noite. Cabelos na altura dos ombros e perfume de lavanda no pescoço. Cobiçada naquela casa de paredes brancas e portas cinzentas. Festa de Ano Novo. Mini Rave.

O cheiro forte de bebida impregnava junto com o perfume e o suor dela. Ainda dançando.

Marina era simplesmente maravilhosa e o único defeito que poderia ser apontado eram as duas marcas no lado esquerdo do pescoço. Dois pequenos orifícios que sangravam pouco. Dois pontinhos vermelhos.

Os demais jovens, pardos, brancos e pretos dançavam ao som de Skrillex e abusavam de um coquetel de substâncias, grande e variado.

Bebidas, comprimidos, injeções, cachimbos e tudo misturado. Só mudava a origem e procedência.

Boca seca, agora Marina se dava conta disso

Era música demais, gente demais, suor demais e também tinha....



Sangue







Sangue?





Marina sentia cheiro de sangue também, era um cheiro estranho, forte e desagradável. A ponto de fazer ela parar sua dança e sentir uma vontade estranha, tinha ficado com um rapaz que perdeu de vista, há uns 30 minutos atrás e durante a troca de carícias se lembrou dos beijos no pescoço. Passou a mão nessa parte do corpo quando se lembrou da sensação.

Poderia ficar com outra pessoa, podia ser mulher, não importava. Ficou observando, procurando alguém com os olhos. Os cheiros se misturavam e com a boca fechada ela passou a língua pelos dentes superiores, sentiu os caninos meio compridos demais.

Depois sorriu e repetiu o movimento com a língua exposta.

Os olhos começavam a arder e uma leve colocação vermelha preencheu o mundo apresentado pela sua visão. Pretendentes vermelhos. Depois uma leve ânsia.

Tossiu e colocou a mão na boca...

— Ei! Cuidado aí!! Maluca! — resmungou uma das pessoas por quem ela foi passando e com a mão esticada foi abrindo caminho.

— Ah lá, agora bateu! — comentou com desdém uma outra pessoa por quem ela passou.


Com a outra mão cobriu a boca e apertou o passo até começar a correr, quando encontrou o banheiro vomitou e vomitou cada vez mais. O cheiro de sangue era angustiante e de uma forma preocupante ela começava a grunhir, uma moça vendo aquela cena resolveu ajudar:

Segurou seus cabelos e ficou perto dela.

Até que depois de alguns minutos Marina agradeceu, aquela moça perto dela parecia tão linda de perto, seu rosto era bem arredondado e com covinhas, tinha um sorriso tão fofinho.

Ficou perguntando se ela já conseguia voltar pra festa, Marina em um impulso rápido abraçou a moça. Mas não podia ficar só no abraço, respirou fundo perto do pescoço dela que já estranhava a situação do abraço e se arrepiou quando sentiu seu hálito quente, ficou com as mãos abertas esperando aquilo acabar e só depois de alguns segundos que apoiou as mãos nas costas de Marina. Impaciente.

Mas o que era um apoio virou uma pequena pressão, disso evoluiu pra um apertão e por fim veio o gemido. Gemido que evoluiu pra um grito, gritou de pânico e horror quando sentiu Marina cravando os dentes no seu pescoço e saboreando seu primeiro gole de sangue, Marina bateu a moça de covinhas contra a parede e mordeu ela de novo com mais vontade. Agora bebeu pra valer e não ouviu os gritos de clemência dela, também não sentiu as pancadas impotentes das mãos dela nas suas costas e quando tudo terminou a moça desfalecida escorregava as costas na parede e adormecia lentamente.

Para sempre.

Marina saiu do banheiro limpando a boca com as costas da mão direita e se sentindo bem melhor, apesar do cheiro desagradável o gosto do sangue era delicioso e os jovens ainda estavam vermelhos pra ela. Andou meio cambaleando, embriagada pela sensação nova de beber o sangue de alguém.

Uma sensação de prazer.

Abriu espaço entre os jovens do mesmo jeito que havia feito pra ir ao banheiro. A boca não estava tão seca, gente demais, música demais, barulho demais. Todos vermelhos. Suculentos.









Sede


Mais sede

Muita sede








Euforia quando mordeu o primeiro distraído da festa que deixou o celular se espatifar no chão e tudo piorou de vez. Marina ficava enfurecida. Música demais, barulho demais e gritos demais, não morriam quietos, mal podiam correr. Mas gemiam, berravam desesperados

A sede aumentava

Fácil demais

Marina se descobriu vampira em meio a um banquete de sangue.

Música demais, mortos demais e agora sim

Finalmente


Paz.


Só faltava achar um caixão pra dormir.

Parabéns Você Morreu Onde histórias criam vida. Descubra agora