Capítulo II - Eu engano um homem

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 Alicia

 A palestra de hoje é sobre as Leis Irmãs, mas não estou prestando atenção. Não posso ser julgada, afinal, essa "aula" é uma chatice. Já conheço essas benditas leis, não preciso decorá-las novamente. Ao invés disso, me dedico a desenhar pequenas flores e uns passarinhos em um pergaminho. Dou uma olhada por cima do ombro, procurando por Ryan. Ele está sentado na outra fileira, nas últimas carteiras. Quando percebe meu olhar, ergue uma sobrancelha, como se perguntasse:

"Não devia estar prestando atenção, mocinha?"

"E você? Está 'falando' comigo, não?"

"Você que começou, boba."

"Não tenho culpa se isto está uma chatice."

"Realmente. Preferia refazer a prova de matemática."

"Eu faria ela três vezes e daria dez voltas ao redor da escola com um pé só"

Ryan dá uma risadinha, embora disfarce rapidamente. Volto a olhar para frente, rezando para que o palestrante não tenha notado.

Não tive tanta sorte.

Dylan está olhando diretamente para mim, em completo silêncio. Ele tem a pele negra como a minha, embora seja um pouco mais clara. O cabelo castanho está cortado em estilo militar e tem uma barba por fazer. A estrela única em seu ombro direito indica que ocupa a patente de tenente. Carrega um facão na bainha da calça e parece fazer questão de exibi-lo por aí. Um verdadeiro idiota.

Dylan desvia seu olhar e volta a encarar os alunos. Ele dá um sorrisinho.

- Bom, continuando - o sotaque arcadiano ressoa em cada palavra - Vocês, kinder, são o futuro deste saudoso reino! E para que possam orgulhar seus pais, é preciso que pelo menos tenham um conhecimento básico sobre as Leis Irmãs. A primeira eu acabei de explicar, bossa Lei Anti-Magia, que impede que os malditos bruxos corrompam Lúrien com sua magia suja - Dylan retorce seu nariz, enojado - A segunda Irmã é a Lei do Alistamento. Esta é muito simples. No final do ano, os garotos e as garotas que completaram dezessete anos e dezoito anos, respectivamente, passam um pequeno teste para entrar em nosso exército. É uma experiência única e bem agradável. Eu poderia contar mais sobre, mas decidi trazer uma pessoa mais jovem para compartilhar a experiência dele com vocês. Alister, pode se levantar, por favor?

Alister, o rapaz que Dylan mencionou, ergue a cabeça na direção do tenente. Ele está sentado de pernas cruzadas, girando uma flecha por entre os dedos desde que a palestra começou. O cabelo está cortado no mesmo estilo que o de Dylan e seu uniforme é um pouco mais simples. Utiliza luvas de couro. Deve ser para proteger as mãos na hora de atirar suas flechas por aí.

- Essa é minha deixa pra me levantar? - Alister franze a sobrancelha

Dylan dá um suspiro irritado.

- Sim, Alister, essa é a sua "deixa". Poderia fazer a gentileza de se levantar, por favor?

- Já que pediu com tanta educação.

Alister se levanta e guarda a flecha em sua aljava. Ele caminha na direção de Dylan e para ao seu lado. - Bom, não tenho muito o que falar sobre minha experiência, afinal, estou no exército a pouco tempo - diz Alister - Mas posso dizer que o teste foi bem difícil. Tive que fazer uma porção de exercícios pra provar minha aptidão física. Não tenho ideia de como voltei pra casa naquele dia. A minha rotina não ficou mais leve quanto fui selecionado. Acordamos antes das galinhas e só vamos dormir de madrugada. É um verdadeiro inferno. Embora esteja fora do meu campo de visão, percebo que Dylan deve ter dado um chute em Alister pela careta que ele faz. - Mas admito que há coisas bem legais. As formaturas semanais e as cerimônias costumam ser bonitas. E esse uniforme até que é... agradável.

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