Chapter Two - Hot Chocolate

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Ingênuos foram Ieiri, Satoru e Suguru ao alimentar a esperança de que o fim de semana lhes concederia a merecida regalia do descanso. Isso obviamente não ocorreu.

Os celulares, emitindo sinais sonoros agudos e constantes, rompe o silêncio matutino às sete horas da manhã, ecoando mais como punhaladas diretas no cérebro do que simples toques eletrônicos. A ressaca dos excessos da noite anterior torna cada som um tormento ainda maior. Apesar disso, diante da convocação, Ieiri e Suguru se veem obrigados a abandonar os confortáveis e aconchegantes colchões para iniciar os trabalhos. Enquanto isso, muito distinto deles, Satoru permanece adormecido, esparramado no colchão como se não tivesse qualquer responsabilidade.

— O Satoru é um vagabundo folgado. — Shoko proclama, seus olhos se estreitando enquanto observa a figura adormecida com desdém.

— Você não viu nada. — Suguru murmura, passando os dedos pelos fios antes de prendê-los em um coque com um elástico preto. — Tem vezes que —

Antes que possa concluir a frase, é interrompido por resmungos sonolentos.

Satoru tateia toda a extensão do colchão, não encontrando nada além de travesseiros e cobertores, o que resulta em um resmungo ainda mais audível, dessa vez de frustração. Ieiri simplesmente o ignora, desaparecendo pelo vasto corredor para dirigir-se ao banheiro social no intuito de realizar suas higienes e também trocar de roupa.

— Por que você não está na cama? — O recém acordado indaga, com a voz arrastada e ornada de rouquidão, enquanto esfrega os olhos para afastar o sono.

— Seu celular é o que mais está tocando e você tem a cara de pau de me perguntar o porquê? — Suguru questiona, erguendo uma das sobrancelhas com um ar de reprovação. — Anda logo, levanta esse corpo preguiçoso da cama, nós temos trabalho a fazer.

— Sua gentileza matinal nunca falha em me deixar encabulado. — Satoru replica com um sarcasmo leve, recebendo um revirar de olhos como resposta. Ele estica todo o corpo, se espreguiçando, e em seguida estira as mãos para o alto. — Me ajuda aqui.

Suguru mira-o com incivilidade, mas se aproxima para ajudá-lo.

Ele estica as mãos até que alcance as de Satoru e então as segura, sentindo a textura áspera e quente da pele sob seus dedos. Com um esforço concentrado, Suguru tenta erguê-lo, buscando ajudá-lo a se levantar. No entanto, Satoru demonstra sua ligeireza ao reagir com rapidez. Com uma única manobra, ele puxa Suguru para baixo, surpreendendo-o e fazendo com que ele caia no colchão com um baque surdo. Um sorriso travesso dança nos lábios do albino enquanto engenhosamente enlaça Suguru em seus braços, aprisionando-o em um abraço apertado.

O moreno solta um suspiro exasperado. Cada movimento para se libertar é recebido com uma pressão ainda maior por parte do outro, como se ele estivesse determinado a mantê-lo ali cativo em seus braços. O calor do corpo de Satoru morosamente o envolve, criando uma contenção que, apesar de inicialmente frustrante, se torna inevitavelmente confortável. É como estar envolvido por um cobertor felpudo em uma manhã gelada enquanto saboreia uma xícara de chocolate quente.

Após desistir de tentar desvencilhar-se, resignado, ele levanta o queixo até que consiga fitar a face amassada do albino.

Suguru ergue a mão cautelosamente, seus dedos deslizando suavemente pela textura áspera da venda preta que cobre os olhos do outro. Com um gesto esmerado, desata o nó do tecido, permitindo que ele deslize lentamente para baixo. Quando a venda finalmente se desfaz, seus olhares se encontram e, nesse instante preciso, Suguru sente a indignação e a frustração primárias se diluírem, dando lugar a uma sensação cálida provocada pelas orbes intensamente azuladas que brilham diante dele, para ele. São como um pequeno universo, exibindo uma miríade de tonalidades que parecem mudar a cada piscar. Contemplá-las é como observar um oceano calmo ao nascer do sol, capaz de hipnotizar qualquer um.

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