Prólogo

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Há exatos vinte e um anos, em uma periferia no México, onde casas ficavam em morros uma juntas das outras, em uma delas vivia uma mulher de vinte e sete anos e sua filha de apenas seis anos, elas sobreviviam com as marmitas que a mulher mais velha preparava para a base militar que protegia aquela área, era muito raro receberem dinheiro do suposto homem que deveria ser marido e pai das duas pessoas que ainda viviam naquela casa, e isso aconteceria se ele ao menos de importasse com elas. Um homem que só se importava consigo mesmo e com o trabalho. A pequena Mikaela não entedia muito bem porque seu pai não voltava para casa, mas ela não tinha tempo para pensar no homem que não estava lá, apenas se importava com sua mãe que cuidava tão bem de si e principalmente de se divertir com as outras crianças, muitas mais novas que si, e com o único professor que ensinava aquelas crianças pobres já que o local não tinha estrutura para montar uma escola decente. Na rua principal, sentadas no chão, as crianças olhavam para o professor com um quadro e giz branco e ensinava a elas tudo que sabia do mundo, desde matemática básica até mesmo outros idiomas como inglês e italiano sempre rindo da pronúncia de seus alunos. Ele era um homem que antes era mal, um traficante, mas após fugir do cartel que pertencia anos atrás, ele apareceu naquela periferia e decidiu começar uma nova vida com o trabalho que sempre quis de verdade, ser professor.
   
Mas ele não podia apagar seu passado, em uma noite, seus ex-colegas apareceram na periferia e sabiam como aquele homem se importava com aquelas crianças e cada uma fora sequestrada de suas casas. Naquela noite, apenas se escutou gritos vindo de crianças, mães e pais que tentavam salvar seus filhos muitos levaram tiros por conta disso e outros acabaram mortos, foi deixado para trás um bilhete para que o professor reunisse dinheiro e drogas suficientes para pagar o resgate das crianças, mas infelizmente ele não tinha o que eles precisavam e assim as crianças foram levadas.
   
Mikaela era a mais velha, a única com seis anos de idade, e por ser a mais velha tinha que proteger os mais novos, eram suas família não as abandonaria, faria tudo por elas. Incluindo ser o brinquedo daqueles homens. Ela fora sequestrada, torturada, espancada e estrupada pelos seus sequestradores até seus dezesseis anos com o pretexto que precisava proteger os mais novos que as vezes tentavam protege-la, mas era tudo em vão.
   
Dez anos com toda bagagem de crueldade que ela não merecia, o resgate nunca veio nem do professor e nem dos militares que deveriam ter lhes protegido, Mikaela perdeu as esperanças. Em um momento durante uma tentativa de enterra-la viva, Mikaela fechou os olhos enquanto era colocada em um buraco no meio do deserto e quando sentiu o primeiro punhado de terra cobrir seu corpo, ela piscou e ao invés de se deparar com um dos seus sequestradores, se deparou com uma caveira. Ela havia aprendido com o professor que a caveira podia ser o perigo, a morte, era a Dona Morte, e foi isso que a mente de uma adolescente quebrada pensou, "A Dona Morte veio me buscar", o pensamento de está morta lhe veio a cabeça, mas quando viu a caveira começando a se afastar de si, ela reuniu forças que nem sabia que tinha e de agarrou àquela figura começando a gritar com sua garganta seca:
   
- Não me deixe Dona Morte!!! Me leve com você!!! Não me deixe, por favor!!! - Mikaela gritava sentindo o gosto ferroso do sangue subir por sua garganta e sem se soltar da Dona Morte que lhe olhou com aqueles olhos inexpressivos.
   
Ela continuava a gritar sem descanso, sem notar as outras pessoas ali tentando lhe segurar e lhe manter parada, que nem mesmo aquela figura tentava se soltar dela, ela queria ser levada pela morte, ela não tinha mais motivos para viver. A Morte conseguiu se soltar das mãos de Mikaela, mas antes de se afastar, lhe entregou algo as colocando em suas mãos e deixando perto de seu peito. Mesmo assim, Mikaela continuou gritando para que a Dona Morte a levasse consigo, mas foi então que tudo ficou escuro e Mikaela ficou calada.
   
Duas semanas, esse foi o tempo em que Mikaela ficou desacordada desde que foi resgatada dos traficantes, não foi o mesmo tempo em que ela e seus amigos ficaram presos e jamais compensaria qualquer pedido de desculpas vindo dos militares ou de qualquer um, e o professor sabia disso. Quando Mikaela abriu os olhos recebeu de primeira um forte abraço de sua mãe que estava um pouco mais velha, trinta e sete anos, a mulher chorava pela sua menina com o corpo todo enfaixado incluindo seu olho direito no qual ela sabia que não existia mais. Mikaela recebeu visita do Professor Scott, o homem não se desculpou sabia que não adiantaria nada dizer aquelas palavras pois não mudaria o que aconteceu, o comandante dos militares que deveria ter protegido as crianças sequestradas apareceu, mas também não disse nada sobre o incidente porém apresentou uma pessoa, John Price, o capitão da operação que ajudou no resgate porque um dos traficantes era o alvo de sua equipe, que infelizmente havia fugido quando ele e equipe haviam chegado. O homem não disse palavras bonitas para amenizar a situação de Mikaela, e a mesma não ouviu muita coisa pois estava concentrada na bandeira no colete de Price e sua voz saiu depois de tanto tempo:
   
- A Dona Morte...
   
Price parou de falar ao ouvir a voz rouca das garganta seca de Mikaela.
   
- A Dona Morte está com você...? - Mikaela apontou para a bandeira da Inglaterra em seu peito. - A Dona Morte tinha a mesma que você...
   
Price tocou na pequena bandeira em seu peito e sorriu ao entender de quem Mikaela estava falando.
   
- Sim, o "Ghost" veio comigo.
   
- Ghost?
   
- Esse é codinome dele.
   
- Agradecer...
  
E mais uma vez, Price entendeu o que Mikaela queria, então pegou de seu bolso um bloco de notas e uma caneta e estendeu para ela.
   
- Quer tentar?
   
Mikaela não o respondeu, e com muita dificuldade e com a paciência de espera de Price, Mikaela escreveu um "Thank You" com sua letra tremida, fazia muito tempo que não escrevia ainda mais com uma caneta, pois sua primeira vez foi a dez anos e com um giz de lousa.
   
- Entregarei a ele, Mikaela. Eu prometo.
   
E assim, Price saiu da área hospitalar, Mikaela olhou para o Scott e para o comandante e perguntou olhando para eles:
   
- Com quantos anos eu posso me alistar para o exército?
   
E foi com essa pergunta e dois anos depois, que ela nasceu. Phantom, as cinzas de Mikaela haviam transformado-a naquela que se vingaria de todos. E como um fantasma, ela os assombrariam até depois de suas mortes.
   
Essa é a Phantom.

Phantom and GhostOnde histórias criam vida. Descubra agora