XXXIV

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Giovanna colocou Pietro em sua cadeirinha no banco de trás afivelando bem o cinto antes de dar um beijo em sua cabeça. Ela se sentou no banco do motorista ajeitando o espelho para poder olhar o filho - Brincou bastante com as titias, furacão?

- Xim - Pietro sorriu animado e começou a enumerar as atividades que tinha feito pela manhã

- Que legal meu amor, hoje eu e o papai fomos lá naquela médica de bebê na barriga - Desde que Pietro nasceu Giovanna ganhou um melhor amigo pra vida, mas agora que ele estava crescendo parecia que o laço entre ficava cada vez mais forte. Dividir o que tinha feito com o pequeno era uma das suas partes favoritas do dia

- Tem fotinho? - Pietro perguntou com suas vozinha açucarada de criança

Giovanna sorriu olhando sempre pelo retrovisor para o filho - Tem sim furacão. Lá em casa o papai vai te mostrar a foto da sua irmãzinha

Pietro bateu palmas no banco de trás, mas o coração de Giovanna se apertou

Ela dirigir sempre preocupou Alexandre, ainda mais agora que ela estava grávida e ele praticamente não a deixava sair sozinha. Hoje Giovanna simplesmente o ignorou e o deixou descansando em casa para buscar o filho

Hoje ela desejou não ter feito isso

Pietro respondeu alguma coisa quando ela passou pelo semáfaro, mas ela não conseguiu entender. Tudo o que sentiu foi um empurrão e o som de um estrondo. Estava perto demais para se esquivar. A última coisa que viu foi o brilho dos faróis antes do mundo começar a rodar

Quando parou. Tudo estava doendo

Doía respirar, doía se mover e doía até abrir os olhos

E então ela percebeu um zumbido alto em seus ouvidos, abafando todo o resto. Ela não conseguia ouvir além do zumbido nauseante em sua cabeça

Ela piscou e abriu os olhos para ver como tudo se confundia em uma mistura de cores brilhantes. A luz só piorou o toque, e ele respirou fundo, o que aumentou o volume do zumbido, e fez sua cabeça latejar ainda mais

Além do zumbido em seus ouvidos, ele podia sentir a dor brotando de suas pernas... de seu peito... de seu ombro... Era como se a sensação estivesse subindo por seu corpo e entrando em sua cabeça, aumentando a sensação de agonia. Ela colocou a mão sobre a barriga, como se de alguma forma conseguisse proteger a sua filha ali dentro

- Maaaaaaaaaaaaaaaaae - Ela conseguiu distinguir o choro de seu filho no meio daquele mar de dor. Giovanna engoliu seco tentando reunir forças para se virar para ele, mas mal conseguiu se mexer sua perna estava imprensada pela porta

Ela fechou os olhos apesar de toda dor e começou a rezar para que nada tivesse acontecido com seus filhos. Tinha que sair dali e pegar Pietro que chorava inconsolavelmente

Foi preciso muito esforço para ela conseguir falar - Furacão, calma.. - ela piscou e tossiu - vão tirar a gente daqui... o papai vai vim pela gente

*

Correndo pela cidade, Alexandre tentava desesperadamente não pensar no pior. Ele precisava que sua esposa e seus filhos ficassem bem, eles mal tinham começado a vida juntos, eles ainda tinham tantas coisas que precisavam e queriam fazer

Não podia acabar assim de novo

Essa era a sua segunda chance

Ele não tinha forças para viver aquilo novamente

- Cadê ela? - A voz de Alexandre soa abafada e desesperada - Eu preciso.. Cadê ela?

Marcelo Serrado, o policial da cidade, se aproxima dele, pressionando a mão nas costas de Alexandre e olha para ele com uma expressão que lhe diz tudo o que ele precisa - Quando cheguei aqui, sua pélvis havia sido esmagada entre o paralama dianteiro do carro e uma árvore. Os órgãos internos do umbigo para baixo foram rompidos e machucados. Ela sangrou internamente - Ele continua falando, uma trilha monótona de palavras que Alexandre não quer mais ouvir aqui - Os paramédicos tentaram fazer tudo o que estava ao alcance deles, mas ela e o bebê não sobreviveram, me desculpa Alê, meus pêsames

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