XVII

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Pietro decide dar muito trabalho para os pais na parte da noite. Ele não quer tomar banho, e hoje resolve fazer da tarefa um show à parte

A tensão entre Giovanna e Alexandre era palpável no ar, ainda mais porque a cada jato de água que o pequeno resolve em sua mãe ela se torna tão atraente quanto uma sereia, se isso fosse possível

Leva três vezes mais tempo para fazê-lo parar de brincar e realmente entrar no berço e, uma vez lá, ele chora por uma hora inteira

Alexandre está começando a entender o quão difícil pode ser ser pai solteiro para uma criança de quase um ano, e seu coração está pesado por Giovanna e por qualquer outra pessoa no mundo que tenha que fazer isso sem mais ninguém

Ele não sabe o que fazer enquanto Pietro chora, então apenas se senta na cama e morde o lábio inferior. A mulher está do seu lado observando o filho se esgoelar pedindo colo, então ele mesmo desliza para a cama e pressiona as mãos sobre sua cintura

- Com que frequência ele fica assim? - Alexandre pergunta

Giovanna não responde imediatamente. Ela fica de frente para a parede, imóvel como uma pedra, e então de repente cai de costas e vira a cabeça na direção dele - É normal - Ela diz - Agora que ele está ficando maior. É o que dizem os livros e sites, pelo menos. Ele só está tentando me fazer acalmá-lo, mas precisa aprender a fazer isso sozinho

Alexandre franze a testa. A dor se aloja em seu peito com os gritos do menino

- Eu sei - Giovanna suspira - Ele está meio agitado agora. É só porque ele quer mais atenção e tempo fora do berço. Não creio que ele estivesse muito cansado quando o colocamos lá

- Talvez ele esteja sentindo suas emoções - Sugere Alexandre

Isso lhe rendeu um olhar duro antes de Giovanna revirar os olhos e colocar a cabeça voltada para o teto novamente

- Ele pode estar - Giovanna murmura depois de ouvirem Pietro chorar por alguns minutos - Mas não há nada que eu possa fazer para ajudar a consertar isso

Ele percebe que ela está ficando irritada só pelo seu tom. Ela solta um suspiro pesado

- Tive que fazer isso sozinha desde o início e às vezes tem dias que é assim. O dia inteiro

Alexandre engole em seco. Ele estuda Giovanna e a maneira como ela coloca as mãos no rosto. Ela está tão linda sob o brilho pálido da lua que entra pela janela acima da cama

- Eu fui ficar com uma tia distante em Duque de Caxias - Ela sussurra - Quando engravidei e o pai de Pietro nos abandonou - Giovanna balança a cabeça e ri sozinha - Uma semana antes do nascimento dele ela me expulsou - Seu peito arfa - Eu tive o Pietro em um abrigo e não tinha condições de parar de trabalhar, então o escondi comigo no meu trabalho - Giovanna balança a cabeça novamente - Fui demitida quando meu chefe descobriu

O coração de Alexandre dói enquanto ele a ouve falar. Giovanna vira o rosto para ele novamente e ele vê lágrimas nos olhos dela

- Eu tinha alguns trocados, um carro surrado em meu nome e um bebê de poucos meses, e decidi que teria que fazer algo rápido - Giovanna respira fundo - Foi quando eu vendi o meu carro e todos os meus pertences e me mudei para o Rio em busca de um emprego, o nosso senhorio me deixou viver algum tempo na faixa até que eu me estabelecesse com o Pi. Mas eu não posso viver de caridade para sempre, resolvi voltar a estudar neste semestre

Alexandre não sabe bem o que motivou essa explosão de honestidade, mas sente que a entende agora. Ele pode ver por que ela sente que precisa fazer isso sozinha. Ela nunca teve ninguém disposto a ajudar de verdade

Aluga-se uma famíliaOnde histórias criam vida. Descubra agora