1 - Entre o passado e o presente

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E quando a cumplicidade da amizade nos faz sentir completos? Apenas essa definição basta? Estaria eu confundindo minhas emoções? Aquela sensação de frio na barriga, a necessidade de pegar em sua mão sempre que possível, meus olhares descendo para seus lábios... todos esses tópicos me faziam parar e analisar cautelosamente, o que eu estava sentindo por ela, não poderia ser apenas amizade, poderia?


Naquele reencontro, eu era apenas uma nerd tentando encaixar  a doidinha da galera, dar um leve suporte, afinal, já senti na pele como era difícil ser excluída, calada, sem amigos, sem os pais! Natália tinha apenas Pedro em sua rede de apoio, mas ele não a compreendia! Não dava o afeto e respeito que ela necessitava naquele momento instável! Rever todas as pessoas que estavam naquele fatídico dia em que ela perdera seu amado irmão Bruno... além disso, todos seguimos nossas vidas enquanto Natália esteve em uma clínica psiquiátrica, revivendo aquela tragédia, dia após dia.


Então Lara surgiu, marcando um encontro com todos! Quase faltei, usando a velha desculpa do meu projeto, agradeço aos astros por não ter desistido, afinal.


Depois de 25 anos, revi minhas "amigas", podemos ser sinceros, Não é mesmo? Não havia amizade, éramos colegas de um cursinho de inglês, eu era... simplesmente fascinada por Bruno, o popular! Relembrar tudo o que vivi com ele era traumático, precisei de várias sessões de terapia para conseguir continuar com a vida...


Natália vivia ao redor do irmão. Naquela época, não tínhamos ideia de quão manipuladas nós éramos.


Então ela entrou, com seus olhos arregalados, suas falas desconexas, perguntando se tinha sido mesmo convidada, não parecia mais aquela menina de anos atrás, dava pra sentir o peso da tragédia em seu rosto, mas ela sorria, levemente, tentava se entrosar ao grupo bem como eu.

Sinceramente éramos as duas esquisitas do grupo, e isso era um motivo e tanto para nos aproximar.


Flashback:


- Oi, Natália?! Tudo bem?! É Carol! – falei desconcertada, oferecendo minha mão como cumprimento. Seus olhos escuros me fitaram com intensidade.


- Carol?! Tudo bem? Como foram todos esses anos pra você?! – em tom agradável.


- Ah, bem... eu me formei fora, fiz doutorado! Retornei ao Brasil não faz muito tempo, vim pelo meu projeto! Qualquer dia desses, se você quiser, mostro pra você sobre o que é! Acho que pode gostar! E você, o que fez durante todo esse tempo? – senti seus olhos perderem o foco, e um muxoxo nos lábios se formar, me arrependi na mesma hora sobre pergunta intrusiva.


- Eu? Não fiz... nada de significante. Depois que meu irmão morreu eu fiquei alguns anos em uma clínica psiquiátrica, fortes crise de pânico, os anos não foram gentis, confesso! mas que bom!! Fico feliz que você tenha conquistado tanto! Você sempre foi a nerd da turma!


- Ah, que isso! Era nada! E olha, não vamos nos distanciar mais, heim! Quero manter nosso contato! Aliás, você ainda fotografa?! – Senti um alívio quando Natália esboçou seu sorriso perfeito, radiante!


- Sim! Você... como você lembrou? Quer dizer, achei que na época você só tivesse olhos para o Bruno...


- Oi?! Bruno?? Não, não!!!!Você sempre tirava fotos espontâneas nossas, lembra? Até ganhou um concurso! Como poderia esquecer ? Você era ótima, ou melhor, é ótima! Tenho certeza disso.


- Melhor não colocar sua mão no fogo por mim, viu?


- Você não aceitou o prêmio do concurso? Era uma viagem internacional, certo? Por que não aceitou? Até hoje me questiono sobre.


- Eu queria muito! Mas Bruno pediu, implorou para que eu não o fizesse, então cedi, como sempre! E no final eu fui abandonada! – Seu olhar absorto retornara.


- Amiga, não fica assim! Olha aí, estamos todas aqui, dispostas! Em plena idade! Vamos recuperar o tempo? Quer dizer, sei que é mais difícil para você, mas eu posso te ajudar! Eu quero... você aceita? Podemos ser amigas? – seus olhos lacrimejando, tal qual os meus.


- Claro!!! Nossa, Carol! Você definitivamente me surpreendeu! Não sabia que era assim... nossos olhos se encontraram e nós sorrimos, abracei com força minha velha nova amiga. Seria bom para nós duas termos a amizade uma da outra.


Era o que eu imaginava, no início.

Inefável - NarolOnde histórias criam vida. Descubra agora