2 - Uma surpresa de jantar

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E então em uma noite, estava sozinha em casa, abri minha geladeira e apenas senti o frio me atingir, nada para comer, minto! Tinha uma cenoura, peguei! Mordi!, estava péssima! Logo me arrependi de não comprar algo no caminho de volta pra casa, poderia chamar... Wanda? A quem quero enganar? Ela odeia interagir  com as pessoas, nunca! Então meu celular tocou, o visor mostrava o nome de Natália.

- Alô, Carol?! Que tal se a gente fosse jantar juntas, heim? Lá naquele bistrô rizi! Gosto muito desse lugar, heim? O que acha?

- Eu e você?! Juntas? – Olhei pra cenoura seca. – Tá bom! Topo!

- ótimo, perfeito! Beijo, Carol!!!! – falou empolgada.

Me arrumei de pronto e fui até o bistrô combinado, avistei Natália ao longe, sentada acompanhada de um homem grisalho,  sorri sem graça ao chegar perto da mesa...

Entendendo minha confusão e a do homem, Natália sorriu, me apresentando para Pedro, seu meio irmão.

- Desculpa! – falei sorrindo. – Natália não me avisou que teria mais alguém.

- Ela também esqueceu de me avisar! – estava sem graça, afinal, é difícil manter uma conversa quando tem um estranho entre nós, quer dizer, Eu conhecia de vista o irmão mais velho da Natália, 25 anos atrás ele foi buscá-la quando houve o acidente com Bruno, mas nada além disso.
 
Olhei para Natália e ela logo foi fazendo seu pedido, tentando desconversar.

- Então Carol, como está sua vida? Pedro, sabia que Carol é doutora em fisioterapia? Está com um projeto de pesquisa de exoesqueleto, se tudo der certo, ela vai poder ajudar muitas pessoas com a sua pesquisa.

Arregalei meus olhos, não sabia que ela tinha tantas informações sobre mim, quer dizer, no reencontro eu comentei por alto, sobre o assunto, mas ela estava dando um banquete de detalhes. – Peguei a taça de água, nervosa.

- Meu Deus, Natália... como você sabe de tanta coisa assim?

- Você me disse! Tenho certeza! – Não, Eu não tinha falado TODOS OS DETALHES.

– Bem, com licença meninos, mas vou ao banheiro rapidinho! Já volto. – Ela correu em direção ao corredor mais próximo.
 
- Minha irmã pesquisou tudo sobre você, Carol!

- Oi?! – comentei fingindo surpresa.

- Você pode por gentileza perdoar minha irmã? Preciso te avisar, ela acha que a morte do Bruno não foi acidental, então na cabeça dela, uma de vocês pode ter empurrado ele! E por algum motivo, você foi a primeira escolhida, ela me disse que lembrou de uma discussão entre vocês dois e que você teria motivos pra se vingar dele, mas não me disse o quê, e se você não percebeu, ela está tentando me jogar pra você! Com o intuito que eu ajude nesta ideia de maluco. – Fiquei boquiaberta, quer dizer, Eu não mataria uma mosca... claro que Bruno merecia, mas eu nunca faria isso!
 
- Eu nem sei o que dizer, bem... primeiramente, sou inocente! Não matei o Bruno! Longe disso...

- Relaxa, já sabemos disso! No fundo, até Natália sabe que essa história está mais que resolvida! Acho que os filmes antigos de investigação afligem a mente fraca da Natália. Ela ficou completamente louca quando perdeu o Bruno. Foram anos internada, e esse reencontro foi derradeiro pra ela. Sabe, tudo de volta.
 
Os passos de sua bota ecoaram no silêncio que me pertencia, uma filmagem do passado transpassando minha mente turva, o que eu vivi com Bruno e aquele dia estranho... escutei a voz ao longe.
 
- olá, retornei! Já encontraram algum assunto em comum? Pedro é um homem maravilhoso, sabe? – aqueles olhos instigantes me fitando, sorrindo para que eu pegasse a isca de me envolver com Pedro.

- Tenho certeza disso! Mas, vamos falar de você? Quero saber tudinho sobre suas fotos, já pensou em fazer uma exposição ?! Investir no assunto? Você é maravilhosa, Natália! Anda, quero ver o que perdi de sua arte nesses anos distante.
 
- Natália ficou boquiaberta, as bochechas ficaram rosadas. Não tinha visto ninguém mais entusiasmada com ela do que Carol, nem seu próprio irmão demonstrava tanta animação.
 
- Ah, bem, se você acha que eu devo... vou começar a estudar o assunto, durante esses anos, fiz algumas fotos, principalmente na clínica! É um lugar lindo! Você não faz ideia, ficamos rodeados de árvores, claro que muitos pacientes nos transmitem uma grande melancolia, fúria, tristeza... mas no fundo, estamos todos sempre a procura de algo para nós manter em sã consciência, Lígia vivia tentando me manter focada no agora, sabe? O passado era muito difícil, então... as fotos me mantinham no presente. – Peguei as mãos de Natália entre as minhas, apertei com carinho... era muito triste pra mim reconhecer que ela viveu todo esse inferno sozinha.  -Aquele nó  se formando em minha garganta, meus olhos lacrimejando horrores.
 
- Ah, minha querida Natália! Eu preciso te pedir desculpas, sabe? Não deveríamos ter nos distanciado por causa do que ocorreu, foi difícil, muito difícil! Mas prometo que não vou mais te deixar, viu?! Nunca mais! – E nesse momento, não parecia que havia três pessoas naquela mesa, naquele momento, éramos apenas Natália e eu, nossas mãos entrelaçadas, e logo um abraço apertado. Era bom demais sentir   Natália perto de mim...

Pedro fez um barulho, e só assim lembrei que tinha mais alguém ali, sorri sem graça, Natália também sorria, agora mais espontânea que nunca, achei que seria uma boa deixá-los bater um papo rápido, levantei com a mesma desculpa que Natália e segui rumo ao banheiro.

Narrador onisciente:
Enquanto Carol de distanciava, Natália puxava Pedro para mais perto, sussurando:

- Pedro, esqueça tudo! Tudo o que falei sobre achar que Carol era culpada. Ela não faria isso! Esquece todo o plano, inclusive o de fingir que está interessado nela... entendeu?!

Pedro concordou com sua irmã e sorriu, estava mais do que na cara que aquela partida tinha sido ganha por Carol, e depois do que ele havia presenciado, ele não tinha chance alguma com a célebre doutora Ana Carolina Sofredini.
 

Inefável - NarolOnde histórias criam vida. Descubra agora