E de repente a magia se findou quando Carol soltou os pulsos de Natália, ainda sem compreender os gestos da cientista, Natália continuou a refletir o arrepio frio que a acometeu, os sentimentos paradoxais que surgiram em milésimos de segundos, lembrou instantaneamente do dia em que brigou com Bruno, quando descobriu o quão sujo ele fora com Carol, como a usara e descartara, sem ao menos levar em consideração o quão apaixonada ela estava. - Natália deixou seu corpo cair no sofá, o silêncio era palpável naquele momento, os olhos castanhos marejados, ela buscava entender o que aquela memória realmente lhe dizia:
- Por que você se importa tanto assim com o que eu faço ou não com aquela nerdzinha? Você gosta dela, não é? gosta da nerd... - As palavras de Bruno findaram com o tapa intenso que recebera de sua irmã. A mesma não ousou responder, apenas saiu do quintal, deixando o irmão furioso.
Aquela resposta na verdade, era algo que Natália evitava responder até mesmo para si. Ela de fato sabia a resposta, mas parecia que não queria ter que lidar com toda a problemática envolvida, não por gostar de uma mulher, em especial, apenas uma durante toda sua vida, mas sim por ser aquela que parecia inalcançável, que só tinha olhos para seu irmão. Era uma batalha perdida, não valia apena arriscar suas poucas fichas em uma relação impossível.
Natália de algum modo conseguira com o passar dos anos esconder esse sentimento dentro de uma caixa forte, protegida, impossível de adentrar, contudo, quando se reunira com todas as amigas e Carol lhe dedicara uma atenção especial, mesmo jogando Pedro nos braços dela a esperança de um talvez fizera essa caixa abrir uma brecha, no entanto Natália se recusava a se dar uma chance...
Carol olhou a distância no olhar de Natália, percebeu seus olhos lacrimejando, fixados ao chão, a respiração entrecortada, sintomas de uma crise de ansiedade? Tinha receio de piorar a situação, mas era seu dever tentar ajudá-la, sentou lentamente, chamando seu nome em uma leve intensidade.
- Natália? Você precisa de alguma coisa? - Os olhos escuros fitaram os claros, Carol sentiu seu peito apertar... Natália, o que aconteceu? Aproximou-se aos poucos e seus braços enlaçaram a outra, sua mão acarinhava as costas da outra, era possível sentir e escutar o soluço choroso dela. Carol sussurrava um "calma, está tudo bem...", todavia a cada frase, Natália chorava um pouco mais... - Carol deixou a outra chorar tudo o que precisava, sentia que aos poucos aquele fardo que Natália carregava ia ficando mais leve, e seu choro perdia a intensidade.
- Eu dei um tapa nele... No dia que ele morreu, Carol, estávamos brigados naquele dia. - Falou fraca sem olhar a outra.
- Brigados? Mas por qual motivo? Nada abalava vocês...
- Você! - Respondeu de uma vez por todas, decidida a não postegar a resposta.
- Eu? - Natália acenou com a cabeça.
- Eu acompanhei toda a história de vocês, Carol, suas interações com ele, o modo como você fazia tudo pra ele, atividades, trabalhos, tudo para se aproximar do Bruno, e tudo bem... Achei que não aconteceria nada, Bruno não gostava de ninguém... Só gostava de usar as pessoas... Pensei que ele iria apenas não te corresponder, sabe? mas naquele dia... escutei uma conversa dele com os meninos, falando o que tinha feito com você, que como já tinha feito o que queria com você, ia te dispensar.... Carol, eu fiquei louca quando escutei aquilo, eu estava furiosa, não queria acreditar naquilo.... Ele era o pior tipo de homem... Não acreditava... Então, quando tive oportunidade, fui tirar satisfação... Então ele me disse algo que realmente me abalou e eu dei um tapa nele.... e saí... - Carol não sabia o que comentar, apenas queria ajudá-la.
- O que ele disse para te desestabilizar tanto assim, Natália?! - Falou preocupada.
- Ele falou que eu estava transtornada porque gostava... de ... você... ele sabia e mesmo assim... ele ...
- Você o quê? - Carol falou boquiaberta.
- Eu nunca tinha assumido esse sentimento em voz alta Carol, era um sentimento sigiloso, mas ele sabia, óbvio que sabia, ele conseguia me ler como ninguém, mas não precisa ficar tensa comigo, ok? a última coisa que quero é me distanciar de você, por favor! Acho que gostei de você assim, no primeiro momento, sabe? à primeira vista, mas a cada dia, a cada gesto seu, esse sentimento ficava maior... até que percebi que você só tinha olhos para Bruno, claro...
- Natália... Nunca percebi nada! Naquela época eu era tão sonhadora, imatura e realmente estava cega por Bruno, criei na minha cabeça que aquele tipo de relação era normal, Bruno foi a pior escolha que fiz, mas Natália... me perdoe, eu não tinha ideia.
- Carol, não precisa pedir desculpas, você fez o que seu coração mandou, estava arriscando... eu nunca teria coragem de arriscar...
- Uma pena... não acredito que você sentia algo por mim... logo por mim?!
- Você era a menina mais inteligente, bondosa e interessante da sala, como não me interessar?
- Não Natália! eu não era bonita! parecia um caramujo, tentando não chamar atenção. - Natália sorriu - Lembra daquela vez que você foi para o cursinho com a camiseta de Kill Bill?! você ficava linda com ela! era tão justa que era possível ver a renda do seu sutiã. - Carol estava sem palavras, tanto pela afirmação que Natália sentira algo por ela quanto pelo fato dela lembrar detalhes assim de 25 anos atrás...
Então, continuando seu raciocínio, Natália disse:
- Se eu pudesse voltar no tempo, teria lutado por você desde o início, teria tentado chamar sua atenção... Provavelmente sairia traumatizada, e extremamente arrependida por me expor, mas teria um "e se" diferente... - Carol pegou as mão de Natália entre as suas, com a voz embargada e os olhos vermelhos, falou:
- Eu gostaria que você tivesse lutado por mim... - Os olhos de Natália se arregalaram, não apenas pela frase, mas por sentir os lábios de Carol nos seus, sentir o beijo tão aguardado desde sua adolescência acontecer sem aviso prévio, sentir as mão de Carol segurarem sua cintura e a língua da outra invadir sua boca. - Natália estava a mercê de Carol, não sabia se realmente estava acordada ou dormindo, mas sentindo a mão direita da doutora passeando em sua coxa e o joelho da outra fazendo sutis investidas no meio de suas pernas... Era impossível que aquilo não fosse realidade.
- Natália... Eu te amo com tudo aquilo que sou...
- Ama? - Falou incrédula, sentindo os beijos de Carol passearem por seu pescoço, provocando sensações inéditas em seu corpo, fazendo-a arfar, gemendo o nome da outra lentamente.
OBS: Obrigada pelos cometários, como disse, sou movida à comentários <3!!! :D amooooo.
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Inefável - Narol
RomanceEnquanto tudo se desenrolava acerca da morte de Bruno, a aproximação de Natália e Carol foi inevitável, e após 25 anos, algumas verdades necessitam vir a tona.