︓ ° #    III . ANAMNESE

370 38 43
                                    

[Anamnese] '
substantivo feminino
1. medicina
histórico que vai desde os sintomas iniciais até o momento da observação clínica, realizado com base nas lembranças do paciente.

2. lembrança pouco precisa; reminiscência, recordação.

︓† 🌿 . 𖦹 Jackson, 5:52
- 13 de fevereiro.

A madrugada anterior havia sido esquisita. O que era uma tentativa de tentar se livrar momentaneamente de seus pensamentos, pareceu só trazer mais e mais perturbações para seu cérebro. Nunca antes o dia da fogueira teve tantos acontecimentos inusitados quanto ontem.

Não sabia que horas poderiam ser naquele momento mas sabia que não tinha voltado tão tarde para casa e, mesmo possuindo vários segundos, minutos e horas para descansar, isso não foi feito. Ellie tentou, mas o fechar dos olhos e encontrar o estado de uma falsa inconsciência nunca aconteceu naquela madrugada. Achava que se tivesse conseguido dormir, teria sonhado com aquilo.

Não conseguia nem tentar depositar suas preocupações na frase que havia escutado da pirralha de cicatrizes estranhas na noite anterior. Realmente não tinha o conhecimento do porquê estava pensando mais na dúvida que tinha com o Joel do que com o passado que voltou repentinamente em sua cabeça.

Bom, a frase podia ser falada por qualquer um, não era exclusiva só daquela específica pessoa. Chegou até ficar desconcertada, tais sequências de palavras não era raro de se escutar e, comumente, pessoas mais religiosas costumavam usar com certa frequência para um ser que eles acreditavam estar acima deles, no céu. Zelando por eles e essas baboseiras que Ellie não acreditava.

Sem perceber, a ruiva já estava sim a depositar suas preocupações na frase que tinha escutado. Sem perceber, já lembrava novamente dos olhos que um dia mais gostou de encarar. Os olhos que gostava de comparar com um céu escuro, sem a companhia de estrelas.

Um dia acreditou que as estrelas que tanto faltava naquele céu, estava em seus próprios olhos ao mirar eles para aquela garota.

— Eu sou um bosta. — Se xingou sozinha no quarto, deprimindo-se com os pensamentos que tinha. Ellie namorava Catherine algumas semanas atrás, mas veio a terminar com ela depois de perceber que não, ela não conseguia sentir nada verdadeiramente pela a asiática.

Se sentia culpada ao comparar a garota diversas vezes com outra. Havia se passado meia década e ainda estava na mesma. Não considerava um sentimento romântico, mas sim, um bloqueio emocinal fudido que ela acabou desenvolvendo por conta de uma tormenta do passado que odiava com todas suas entranhas.

Sentia algo semelhante à humilhação. As chances da menina que começou a pensar novamente se encontrar insana, sem nenhuma autoridade sobre a própria alma e mente, com seu corpo sendo substituído por uma ossada coberta por fungos era demasiadamente alta. Preferia assim, na verdade.

Seria uma ótima maneira do universo devolver na mesma moeda. Devolver com o mesmo motivo que tinha feito ela deixar a ruiva sozinha, sozinha para enlouquecer poeticamente, num luar que nem pôde ver de dentro daquele shopping.

— Ah, vá se foder, Ellie. — resmungou diante da abundância de pensamentos que ela mesmo tinha, deslizando seu rosto para baixo com a palma das mãos. — É só uma frase qualquer.

Riu desacreditada, estava falando sozinha e se auto xingando. Ficava verdadeiramente frustrada como um pequeno detalhe à fazia se enlouquecer com o que sua própria mente obrigava ela à pensar.

E mais uma vez, na intenção de tentar se distrair e abandonar todos aqueles pertubadores pensamentos, escrevia o que não chegou a terminar de sua música, na qual iria cantar ontem, porém fora interrompida. Todavia, nem assim conseguiria manter sua cabeça de lhe pregar as mais cruéis peças em si mesma.

DELIGHTFUL DISHONOR, ellie williams.Onde histórias criam vida. Descubra agora