A roupa sem forro ou bolsos foi novamente colocada em meu corpo antes que eu me encarasse no espelho básica, com os cabelos presos em um rabo baixo e a chinelas brancas.
Deixei a casa, trancando em seguida, entrei no carro e desejei um bom dia pro cara que não fez questão de me responder enquanto dirigia.
Peguei a sacola de comida que estava no banco ao meu lado e desci do veículo vendo que a fila já começava a crescer.
— Duas visitas seguidas?— Uma mulher loira que usava coque e uma roupa semelhante a minha sorriu ao me ver chegar — Já dá pra chamar de cunhada.
Cunhadas, o termo que usam pras mulheres dos "irmaos".
— Acho que duas visitas não fazem de mim mulher de preso — Tentei soar calma mesmo estranhando a forma repentina de que ela resolveu falar comigo.
— Tem razão, basta uma pra que ele te coloque no nome dele e te obrigue a vir todas as outras até enjoar e querer uma novidade.
— Me parece um caso bem específico.
— Meu marido tá aqui faz seis anos, já vi muitas histórias — Deu um sorriso fraco — Mas eu sigo firme, porque a liberdade dele vai vir em qualquer momento.
Não quero nem saber o que esse tal fez pra estar aqui há seis anos.
— Você tem visitado o Aranha, foi assunto na última semana — Contou — Vem e vai de motorista, todo mundo notou.
Isso não é bom. Se todo mundo viu e o assunto rendeu, eu tô marcada o que vai me limitar de ir e vir entre outros morros.
— Ele paga bem pras visitas e eu tô precisando.
— Já ouviu falar de carteira de trabalho?
Sim, inclusive odeio.
Assenti.
— Te pouparia de muito sofrimento e problemas — Aconselhou — Vai por mim, é mais fácil se virar sozinha quando ele está lá dentro, porque quando sair toda a magia acaba.
— Mais histórias de outras cunhadas ou essa é sua?
— Essa é a de todas nós, quando eles saem querem curtir e isso não inclui a mulher que passa por isso tudo pra estar ao lado.
— Por que vem a seis anos se tem tanta certeza?
Ela sorriu.
— Porque eu errei em me apaixonar e ele ainda tem mais três anos, não posso deixá-lo sozinho pela incerteza.
Preferi não responder, mas me pareceu uma vida triste.
Logo a fila começou a andar.
Depois de passar por uma rigorosa revista pude ir para o pátio.
Sozinho na mesma mesa, aranha fumava.
Me sentei à sua frente.
Hoje não é visita íntima, ele não fez questão de me cumprimentar antes de abrir a sacola tirando um Tupperware dali, ele a abriu logo alcançando uma colher e começando a comer.
Estiquei o pescoço pra ver o arroz branco com alguns pedaços de carne, é sério que ele espera a semana toda pra comer algo que se assemelha a comida de cadeia?
— Quem cozinha pra você?
Ele não fez questão de responder, só levantou os ombros.
— Na próxima visita, eu vou — Falei com firmeza — Posso não ser a melhor das cozinheiras, mas eu me viro melhor do que quem preparou isso aí.
— A comida não importa.
— Isso porque você não come algo bom há um ano.
— Eu não sei do teu irmão.
Falou do nada fazendo minha boca se fechar no mesmo segundo, precisei recuperar o fôlego antes de respondê-lo.
— Não quero falar sobre isso.
— Mas parece que esse é o motivo de você estar aqui, pegar informações e pagar de x9.
— Meu irmão está desaparecido há um ano, acha mesmo que se eu precisasse de informações demoraria tanto pra vir atrás delas?
— Tá aqui, por que então?
— Dinheiro.
— Black tem que te mandar uma grana pelo teu irmão, não tá rolando?
Ele afastou a vasilha e apoiou as mãos sobre a mesa me encarando com seus olhos intimidadores.
Você se preparou pra isso, se preparou mesmo, Rayra.
— Meu irmão ganhava muito trabalhando com você, o que o Black me dá não mantém o luxo com que eu estou acostumada.
— Então você acha que fuder comigo já une duas coisas boas em uma.
Aí gente tô sendo mal paga, vou renegociar ainda hoje porque não é possível que eu tô ouvindo isso.
— Eu não diria isso, até porque não dá pra considerar uma coisa boa o que não me faz gemer e mal caminhar.
Ele fechou um pouco os olhos como se estivesse realmente me lendo.
— Agora entendi com quem ficou a marra da família do Rael, aquele lá era um bunda mole.
— Ele não tá morto, não fala no passado.
— Ah, é? E quem te disse isso?
Ele agora me encarava desafiador, mas não acho que ele tenha transparecido tanta certeza em sua voz.
Tá mais pra uma óbvia resolução.
— A Paloma.
O homem alto se levantou e fechou a vasilha a colocando de volta na sacola de onde havia a tirado.
— Vamos conversar em outro lugar.
— Pensei que não fosse dia de visita íntima — Tentei mudar de assunto.
— Eu sou um dos homens mais perigosos e vigiados desse país, Preta, tenho privilégios.
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Mulher de preso
Teen FictionOnde Rayra passa a fazer visitas íntimas para um perigoso traficante com a intenção de descobrir mais sobre o desaparecimento de seu irmão.