Capítulo 7

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A roupa sem forro ou bolsos foi novamente colocada em meu corpo antes que eu me encarasse no espelho básica, com os cabelos presos em um rabo baixo e a chinelas brancas.

Deixei a casa, trancando em seguida, entrei no carro e desejei um bom dia pro cara que não fez questão de me responder enquanto dirigia.

Peguei a sacola de comida que estava no banco ao meu lado e desci do veículo vendo que a fila já começava a crescer.

— Duas visitas seguidas?— Uma mulher loira que usava coque e uma roupa semelhante a minha sorriu ao me ver chegar — Já dá pra chamar de cunhada.

Cunhadas, o termo que usam pras mulheres dos "irmaos".

— Acho que duas visitas não fazem de mim mulher de preso — Tentei soar calma mesmo estranhando a forma repentina de que ela resolveu falar comigo.

— Tem razão, basta uma pra que ele te coloque no nome dele e te obrigue a vir todas as outras até enjoar e querer uma novidade.

— Me parece um caso bem específico.

— Meu marido tá aqui faz seis anos, já vi muitas histórias — Deu um sorriso fraco — Mas eu sigo firme, porque a liberdade dele vai vir em qualquer momento.

Não quero nem saber o que esse tal fez pra estar aqui há seis anos.

— Você tem visitado o Aranha, foi assunto na última semana — Contou — Vem e vai de motorista, todo mundo notou.

Isso não é bom. Se todo mundo viu e o assunto rendeu, eu tô marcada o que vai me limitar de ir e vir entre outros morros.

— Ele paga bem pras visitas e eu tô precisando.

— Já ouviu falar de carteira de trabalho?

Sim, inclusive odeio.

Assenti.

— Te pouparia de muito sofrimento e problemas — Aconselhou — Vai por mim, é mais fácil se virar sozinha quando ele está lá dentro, porque quando sair toda a magia acaba.

— Mais histórias de outras cunhadas ou essa é sua?

— Essa é a de todas nós, quando eles saem querem curtir e isso não inclui a mulher que passa por isso tudo pra estar ao lado.

— Por que vem a seis anos se tem tanta certeza?

Ela sorriu.

— Porque eu errei em me apaixonar e ele ainda tem mais três anos, não posso deixá-lo sozinho pela incerteza.

Preferi não responder, mas me pareceu uma vida triste.

Logo a fila começou a andar.

Depois de passar por uma rigorosa revista pude ir para o pátio.

Sozinho na mesma mesa, aranha fumava.

Me sentei à sua frente.

Hoje não é visita íntima, ele não fez questão de me cumprimentar antes de abrir a sacola tirando um Tupperware dali, ele a abriu logo alcançando uma colher e começando a comer.

Estiquei o pescoço pra ver o arroz branco com alguns pedaços de carne, é sério que ele espera a semana toda pra comer algo que se assemelha a comida de cadeia?

— Quem cozinha pra você?

Ele não fez questão de responder, só levantou os ombros.

— Na próxima visita, eu vou — Falei com firmeza — Posso não ser a melhor das cozinheiras, mas eu me viro melhor do que quem preparou isso aí.

— A comida não importa.

— Isso porque você não come algo bom há um ano.

— Eu não sei do teu irmão.

Falou do nada fazendo minha boca se fechar no mesmo segundo, precisei recuperar o fôlego antes de respondê-lo.

— Não quero falar sobre isso.

— Mas parece que esse é o motivo de você estar aqui, pegar informações e pagar de x9.

— Meu irmão está desaparecido há um ano, acha mesmo que se eu precisasse de informações demoraria tanto pra vir atrás delas?

— Tá aqui, por que então?

— Dinheiro.

— Black tem que te mandar uma grana pelo teu irmão, não tá rolando?

Ele afastou a vasilha e apoiou as mãos sobre a mesa me encarando com seus olhos intimidadores.

Você se preparou pra isso, se preparou mesmo, Rayra.

— Meu irmão ganhava muito trabalhando com você, o que o Black me dá não mantém o luxo com que eu estou acostumada.

— Então você acha que fuder comigo já une duas coisas boas em uma.

Aí gente tô sendo mal paga, vou renegociar ainda hoje porque não é possível que eu tô ouvindo isso.

— Eu não diria isso, até porque não dá pra considerar uma coisa boa o que não me faz gemer e mal caminhar.

Ele fechou um pouco os olhos como se estivesse realmente me lendo.

— Agora entendi com quem ficou a marra da família do Rael, aquele lá era um bunda mole.

— Ele não tá morto, não fala no passado.

— Ah, é? E quem te disse isso?

Ele agora me encarava desafiador, mas não acho que ele tenha transparecido tanta certeza em sua voz.

Tá mais pra uma óbvia resolução.

— A Paloma.

O homem alto se levantou e fechou a vasilha a colocando de volta na sacola de onde havia a tirado.

— Vamos conversar em outro lugar.

— Pensei que não fosse dia de visita íntima — Tentei mudar de assunto.

— Eu sou um dos homens mais perigosos e vigiados desse país, Preta, tenho privilégios.

Mulher de presoOnde histórias criam vida. Descubra agora