Capítulo 2

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Tô ficando maluco.

Papo de coringar de vez aqui dentro.

Peguei o celular debaixo do colchão de selecionando o único número nele salvo, chamou três vezes antes de ser atendido.

— Fé — Ouvi a voz de Black, meu braço direito, o cara que já deveria ter dado um jeito de me tirar daqui.

— Fé é o caralho, por que tu ainda não resolveu meu bagulho?

— Tá achando que é fácil, veado, tudo tá sendo vigiado, os cara tá até documentando. Se eu entrar nessa vai ficar nois dois aí dentro.

— Se vira — já ia desligar quando ele voltou a falar.

— Oh já organizei a visita de domingo, vai ter novidade pra animar meu irmão.

— Pra me animar aqui dentro só um 38 pra atirar na minha cabeça, cuzao do caralho — Encerrei a chamada colocando o celular no mesmo lugar que antes.

Apoiei meus cotovelos sobre as pernas e meu queixo sobre as mãos encarando aquela parede nojenta à minha frente.

As horas nessa porra parecem anos.

Quando o guarda apareceu, andei em silêncio pelo corredor até o pátio passando por celas onde olhares tortos eram mirados na minha direção.

Minha posição lá fora me trás respeito aqui dentro, mas não posso baixar a guarda, os cara fariam de tudo pra tá no meu lugar.

Haviam poucos no pátio aquela hora, me sentei em um dos pontos de sol acendendo um cigarro.

Mas a única coisa que passa por minha cabeça é voltar pra minha vida, pro meu morro.

Já faz um ano que eu caí e não sei por quanto tempo ainda vou suportar esse inferno.

As únicas visitas que recebo são as mulheres que Black manda, cada semana uma nova.

Em um ano não vi a mesma mulher.

Deixei bem claro que não quero ninguém no meu pé quando eu sair daqui e não quero ninguém lá fora se nomeando minha fiel.

Fiel a mim só eu mesmo.

Mulher de presoOnde histórias criam vida. Descubra agora