Capítulo 1

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Eu me recuso a morrer.


Essas palavras ressoavam na mente do menino como um mantra revigorante, despertando-o abruptamente da névoa do desconhecido. Ele se viu em uma cabana rústica, com paredes úmidas e desgastadas, perdida em meio a uma floresta densa e misteriosa. O jovem rapaz, ainda confuso e desorientado, explorou cuidadosamente o ambiente, suas mãos buscando por lesões que não encontrou, seus olhos examinando os detalhes que nada revelavam sobre sua situação.

Então, um detalhe peculiar chamou sua atenção: o aroma suave de limão e menta emanando da lareira. Mas não era uma lareira comum; sua chama verde e inofensiva parecia desafiar as leis da natureza, e seu odor revigorante envolvia o ambiente com uma energia misteriosa e reconfortante.

De repente, a voz grave e imponente de um homem interrompeu seus pensamentos, ecoando pela cabana como um trovão distante. O homem, com olhos tão verdes quanto a floresta e cabelos tão escuros quanto a noite, estava parado à porta, vestindo um terno negro que contrastava com as ligeiras manchas de sangue. Seu olhar penetrante examinava o menino, como se buscasse respostas para o enigma de sua presença ali.

--- Quem é você ? --- O menino, estupefato, questionou a identidade do homem, e este, com um revirar de olhos ligeiro, respondeu com um sorriso sutil nos lábios.

--- Ah, sua mãe nunca te ensinou a agradecer quando alguém estende a mão, hein, garoto? --- ele ironizou, com um sorriso torto dançando em seus lábios.

--- Sua mãe também nunca te ensinou a bater na porta antes de entrar, ou a não sequestrar pessoas, velhote ? --- o rapaz retrucou, desafiador, seu olhar fixo no homem à sua frente.

O menino manteve sua postura firme, preparado para o pior vindo do homem de terno, mas este apenas sorriu, como se recordasse com nostalgia da atitude desnecessariamente defensiva do rapaz. --- Sequestrar? Essa foi boa, homenzinho! --- ele rebateu com uma leve ironia, acrescentando com seriedade --- Não te aconselho a sair por aí fazendo acusações sem provas, especialmente quando você deve sua vida à pessoa em questão. - Sua voz ecoa com uma autoridade serena, como se estivesse acostumado a lidar com situações desafiadoras.

O menino tremeu ao contemplar a possibilidade de estar em dívida com esse misterioso homem, cuja figura imponente se destacava no cenário sombrio, envolto em um terno que parece ser feito de enigmas e segredos.Porém, ele reconheceu que a hospitalidade é um gesto poderoso, capaz de transformar estranhos em amigos e desconhecidos em família. Se esse homem ofereceu abrigo em meio a uma tempestade feroz como aquela, certamente há algo mais profundo por trás de sua generosidade.

--- Me desculpe --- disse ele
 
--- Sem problemas ! Não há gesto mais nobre do que reconhecer nossos erros e nos desculpar por eles. --- As palavras fluíam suavemente dos lábios do homem de terno, impregnadas de profunda empatia.

O menino reflectiu profundamente diante da poderosa lição transmitida pelo homem de terno, seu coração ansiando por compreender mais. Quem era aquele homem misterioso, cuja generosidade e hospitalidade pareciam transcender as barreiras do tempo? Por que ele continuava a emanar tamanha bondade, como uma fonte inesgotável de calor humano em um mundo muitas vezes frio e impiedoso?

--- Á propósito, sou Dante --- disse o homem de terno com suavidade, como se estivesse sintonizado com os pensamentos do menino. - e você ?

--- Eu... --- O menino abriu a boca para pronunciar seu nome, mas uma sensação estranha o dominou, deixando-o sem palavras. Um nó se formava em sua garganta, impedindo-o de emitir qualquer som.

--- Oque foi ? --- indagou Dante

--- Eu... Não me lembro --- Continuou o menino

Dante se dando conta da inquietação do menino indicou a poltrona gasta no meio da sala para que ele se sentasse envolvendo-o com seu olhar profundo parecendo atravessar as camadas de confusão que envolviam o rapaz.

--- Qual é o seu nome? --- perguntou ele, sua voz ressoando no silêncio tenso da cabana.

--- Eu não sei... --- murmurou o menino, sua expressão sombria refletindo a angústia de sua mente em branco. --- Tudo que eu me lembro são sons, emoções, e o resto é tudo tão... vago!

Naquele momento, o menino se viu envolto em uma névoa de dúvidas, atormentado pela possibilidade de nunca recuperar sua verdadeira identidade. Ao lado de Dante, cujas feições exalavam um ar de mistério indecifrável, ele se via navegando em um mar de incertezas, sem saber onde suas memórias perdidas o levariam.

Helm Saga: Path of SephirothOnde histórias criam vida. Descubra agora