Capítulo 4

2 2 0
                                    


A incerteza pairava no ar enquanto Dante contemplava o menino à sua frente. Quem era aquela criança? Por que estava acorrentada e jogada ao relento, como se não tivesse valor algum? E por que estava desmemoriado? Dante sentia-se envolvido por uma torrente de questionamentos, nenhum deles fornecendo uma resposta satisfatória. Desde o misterioso encontro na floresta até o inexplicável ressurgimento do menino na neve, sua mente era um turbilhão de enigmas não resolvidos. Entretanto, Dante era conhecido por seu ceticismo inflexível, uma postura moldada por suas origens humildes na Itália. Criado por um pai mecânico e uma mãe religiosa que acreditava em milagres, Dante aprendeu desde cedo a não se deixar levar por ilusões. Ele se tornara a materialização do próprio Inferno, acreditando que o paraíso só poderia ser alcançado após atravessar os abismos da realidade.

Sacudindo a cabeça para afastar esses pensamentos, Dante concentrou-se no presente conforme eles caminhavam pelas ruas. Não precisava de mais obstáculos em seu caminho, especialmente com pendências a resolver no centro.

--- Dante ! Dante ! --- Chamava o menino

--- O que foi? --- perguntou Dante, desconhecendo a atenção que atraiam enquanto caminhavam pela rua, parecendo protagonizar um desfile de moda peculiar.

As roupas rasgadas do menino e o terno ensanguentado de Dante não passavam despercebidos, atraindo olhares curiosos e julgadores.

--- É que... Tem muita gente olhando --- O menino, sentindo o desconforto crescer, murmurou.

Dante olhou ao redor, percebendo a verdade nas palavras do menino. Os olhares de julgamento e as conjecturas maldosas pairavam no ar, tornando a situação ainda mais desconfortável. Decidiu agir, custasse o que custasse.

--- Homenzinho! Acho que precisamos de roupas novas --- disse Dante, tentando disfarçar seu próprio desconforto.

O menino hesitou, mas antes que pudesse responder, Dante continuou indicando seu terno e as roupas do menino --- Você precisa entender que não temos muita escolha.

Concordando silenciosamente, o menino assentiu. Mas antes que pudessem resolver a questão, um policial corpulento surgiu à distância, aproximando-se com determinação.

--- Ah, merda! Como se a coisa não pudesse piorar... --- resmungou Dante, com um pressentimento desagradável.

--- O que foi? --- perguntou o menino, claramente preocupado.

--- Merda ! O idiota , vem mesmo em nossa direção ---  murmurou Dante, revirando os olhos. --- Mantenha a boca fechada e deixe que eu lido com isso.

O menino virou-se, sua visão embaçada pelo medo, enquanto o policial se aproximava. Ele assentiu às instruções de Dante, incapaz de articular uma palavra diante do nó que se formava em sua garganta.

--- Bom dia, senhor agente! --- cumprimentou Dante com um sorriso falso, seu rosto escondendo a tensão que se acumulava dentro dele.

O policial, com um ar de autoridade, direcionou sua atenção para Dante com uma pergunta direta.

--- O senhor é o responsável legal deste jovem? --- Sua voz era áspera, ecoando uma determinação que não admitia desafios.

Dante sentiu um aperto no peito diante da abordagem inflexível do policial. A ausência do clássico humor italiano que ele estava acostumado, os dias de celebração com a família, regados a Vinno Rosso, agora pareciam um mundo distante. Ele sabia que na Itália, a polícia muitas vezes fechava os olhos para suas pequenas transgressões.

--- Sou sim! Algum problema? --- respondeu Dante, sua expressão mudando friamente, ocultando qualquer vestígio de humor.

O policial insistiu --- Então o senhor precisa me acompanhar --- sua autoridade forçada permeando suas palavras.

Dante retrucou com um toque de sarcasmo --- Até onde eu sei, não cometi nenhum crime 'ainda' --- sua voz carregada de uma leve ameaça implícita.

O policial franziu o cenho, apontando para o terno ensanguentado de Dante e as roupas rasgadas do menino.

--- O senhor tem muito o que explicar --- disse ele, sua voz carregada de advertência.

Dante sentiu a fera interior se agitar, uma fome por confronto que quase o consumia. Por um momento, a imagem do homem elegante desvaneceu, revelando um lado mais sombrio, cheio de uma intensa sede de sangue. O menino e o policial se retesaram diante da mudança abrupta de atmosfera, seus olhares trocando preocupação e pavor.

Com um sorriso sutil, Dante virou-se de costas para o policial, como se desviando de uma briga inevitável. Seus olhos, porém, mantiveram um brilho desafiador, transmitindo uma mensagem clara:

'Persistir nessa ideia só resultará em problemas.'

O silêncio tenso que se seguiu foi quebrado apenas pelo suave ruído do vento, mas a aura de perigo pairava no ar, deixando claro que Dante não estava disposto a tolerar desafios.

Helm Saga: Path of SephirothOnde histórias criam vida. Descubra agora