Prólogo

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Quem sou eu?

Onde estou?

Por que meu corpo não responde?

E por que está tão escuro?

Que sons são esses?

Minha mente é invadida por uma enorme onda de pensamentos, sentimentos distantes que reconheço como não sendo meus, enquanto meu corpo segue caminhando pela suave textura de neve macia sob meus pés descalços. Por alguma razão, mente e corpo parecem desconectados, incapazes de se sincronizar.

Não consigo enxergar nada, mas surpreendentemente minha audição, olfato e outros sentidos estão extraordinariamente aguçados, obrigando-me a permanecer alerta a todos os sons, odores e outros detalhes ao meu redor.

O som de uma brisa forte de inverno atinge meus ouvidos, indicando que provavelmente estou no meio de uma tempestade de gelo.

Mas por que não sinto frio?

Por que não sofro de hipotermia?

Confuso e sem respostas, meu foco se desvia para um som estridente vindo dos meus pulsos e tornozelos. Correntes, imagino.

O que teria feito eu para merecer um castigo destes?

A mera possibilidade me deixa apavorado, agravando ainda mais as dores de cabeça que acompanham minhas tentativas de recordar o que me trouxe a essa situação.

Este cheiro...

Não pode ser! Madeira queimada?

Será que há um incêndio florestal nas redondezas?

É inconcebível haver incêndios florestais durante tempestades de neve intensas como essa!

Sinto o cheiro de madeira queimada se intensificando, meus poros se abrem diante deste detalhe.

Minha atenção é totalmente desviada para o som de uma violenta batalha sendo travada, o desejo profundo de ruína que um nutre pelo outro, tanta raiva, inveja e uma avassaladora sede de sangue acompanhada por um odor que reconheço como sendo o cheiro da morte, repulsiva e agonizante, toma conta das minhas narinas, enquanto as palavras que eles vociferam um para o outro são carregadas de um cru e duro ressentimento em Latim:

--- ...Puoi scappare, ma non puoi nasconderti! --- a voz grave deste homem soa com uma mistura de raiva e determinação, como se estivesse desafiando o outro homem a enfrentar as consequências de suas ações.

--- Per favore... Non uccidermi, ti supplico in nome dei vecchi tempi! --- a voz do outro homem soa desesperada e suplicante, carregada de medo.

--- Sei un mafioso fino alla fine... Hai avuto il sangue freddo sufficiente per uccidere tre membri della famiglia, tradire la famiglia e ingannarmi alla fine. Quindi smettila di agire come un topo e accetta la tua morte come un uomo perché entrambi sappiamo che tutto questo è il risultato delle tue azioni. --- o homem da voz grossa transborda uma combinação de raiva e desdém, como se tivesse seu senso de justiça ferido.

O termo Família me impacta profundamente, enternecendo cada átomo do meu ser quando deixa sua boca. Uma risada insana preenche o ambiente em redor, fazendo meu corpo estremecer, enquanto sinto algo sombrio emergindo em algum lugar dentro de uma das silhuetas.

--- Non mi pento di nulla... Tutte le persone che ho ucciso, l'alleanza che ho stretto con la Flotta dell'Salverza. --- a voz do outro homem, outrora amedrontado, sofre uma reviravolta dissimulada, ficando orgulhosa e desafiadora.

--- Quindi hai già fatto la tua scelta. --- a voz grossa é impregnada com resignação e uma pitada de tristeza.

--- Non importa quello che fate, le tradizioni continueranno a emergere in quella famiglia di giochi... Il seme è stato piantato! Presto ci saranno altri come me che aspireranno al vero potere! 'Loro' stanno arrivando!!! La Salverza... --- a voz do outro homem é carregada com um misto de triunfo e ameaça.

O som de uma chama corta o vento, e me sobressalto apavorado diante do som de algo que meu cérebro reconhece como pele sendo dilacerada - Ah meu Deus! O que está acontecendo aqui? - sucede-se um silêncio lúgubre. Sinto que aquela energia sombria crescendo cada vez mais se libertando em um pulso devastador que abala a maior parte dos elementos envoltos da floresta, acompanhado de um rugido faminto como os pesadelos.

Diante desta avalanche de pavor e insanidade, suplico para que meus músculos me obedeçam e corram o mais rápido possível para longe dali. Eles se mantêm irredutíveis até que...

Uma luz resplandecente incide pelas minhas vias oculares atrofiadas, acompanhada de um enorme desconforto diante dela, comparado a um recém-nascido. Sinto uma dor muscular absurda, resultado dos arranhões que só agora me dou conta. Meu tornozelo está atrofiado, minhas costelas quebradas. O meu estômago ronca de modo voraz, a boca se encontra ressecada como o Deserto do Saara, e o frio é feroz e implacável sobre minha pele sensível.

Ao ser tomado por tantas dores em simultâneo, tropeço em algo no caminho, e meu corpo se recusa a responder - novamente - desta vez não me restando nada além de minha visão embaçada sobre a tempestade e o desespero que me consomem.

Será que vou morrer aqui, alheio à minha identidade?

Estes minutos de devaneios afincados parecem insignificantes diante da dor e do desespero que se abatem sobre minha estrutura. A ideia de partir sem ter experimentado nada na vida ou de ter descoberto mais sobre mim mesmo chega a ser angustiante. Se é chegada a minha hora, então me estou profundamente arrepen...

Não !

Por que essa palavra parece tão pesada na minha boca? Sinto que não consigo ou devo pronunciá-la. Talvez seja um sinal para parar de me lamentar e imaginar o que poderia ter sido experimentar o sentimento de ser amado, respeitado, de me conectar com alguém através da minha comunicação, de me tornar digno da confiança de alguém, de ser compreendido, e de ganhar o apoio de alguém.
corpo está cada vez mais fraco, e minha mente se perde em um  sem fim, me consumindo em meio a escuridão enquanto minha consciência se esvanesce.

Acredito que esse seja o fim...

Helm Saga: Path of SephirothOnde histórias criam vida. Descubra agora