Migração
O sol que frio banhava a cidade
Mais parecia tomado por trevas,
Pois só se via decadência em tudo
Que se assentava sob o céu choroso.Certas pessoas sofriam em casa
E seus gemidos frágeis se perdiam,
O badalar do sino da igreja
Tanto implorava por perdão divino.Em meio ao sofrimento que crescia,
Os abutres migravam ao banquete,
E junto a eles, nós, os homens corvos,
Sinais da morte e do mau agouro.Olhos de vidro, manto e asas pretas,
E abaixo do chapéu, um longo bico.
Enquanto todos fugiam da peste,
Migrávamos em sua direção.
Necrópoles
Entrávamos na cidade decrépita
E abandonada por Deus,
Alguns homens nas ruas imundas
Se flagelavam,
No cheiro de sangue
Um clamor por perdão.Alguns tons de preto decoravam
Os enterros que aumentavam a cada dia,
Lástimas não se alastram lentamente.
Os corvos reinavam
Assim na terra como no céu,
A cidade cheirava a desespero.As pessoas procuravam
Algum raio de luz
Por trás dos nossos olhares de vidro,
Olhares estilhaçados,
Uma faísca de esperança
Que queria crescer como incêndio.E eu olhava aquelas vidas
Tomadas por miséria
Com compaixão e medo.
Dividiamo-nos
Para tratar e contar
Os doentes.
Ao trabalho
Uma rua imunda
Uma casa infeliz
Entre tantas outras iguais.Uma família em desespero
Mais uma vítima da peste:
Marido, pai e irmão.Isolado num quarto velho
A tosse ecoa pelas portas
Seu jardim de sangue.Uma feição de terror,
Agora duas.
Farei tudo por você.
Angustiante
Rosto abatido, expressão distante,
Para cessar a sua dor constante
Receito as ervas e diversos chás.Sem respirar, pelo seu peito espasma,
Então para afastá-lo do miasma
Água potável e o mais puro ar.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A tragédia do Homem Corvo
PoetryNa distópica e terrível Europa Medieval, uma doença cruel e misteriosa começa a se espalhar. Há muito misticismo em torno da peste e dos bizarros homens corvos, com seus tratamentos pouco piedosos... Quando a sombra da peste cobre o que um dia foi u...