Foi assim que eu a conheci

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À medida que o sol subia, o dia esquentava. Ela já sentia o suor brotando no pescoço e no meio das costas. Ele, apesar de estar com roupas mais leves, estava com a testa coberta de gotas de suor. As mãos dadas também estavam úmidas, mas isso estava longe de incomodá-los.

Ela caminhava de cabeça baixa, com os tênis pretos de cadarços, amarrados pelos cadarços brancos, pendurados no ombro. Poucas vezes levantava o rosto para retribuir as olhadas dele, preferia observar as ondas que vinham beijar a praia e molhavam seus pés e a beirada dobrada de sua calça skinny. Não estava acostumada com aquele sorriso insistente no rosto, por isso parecia querer escondê-lo.

- Você se mudou pra cá ou só está passando férias?

Disse para quebrar o silêncio, mas era algo que ele realmente queria saber. Há dias a presença dela na praia o deixou curioso.

- Me mudei... - impressionada com a observação dele - Como você sabe?

- Eu cresci nessa praia - pensou em como falar aquilo sem demonstrar entusiasmo, por isso trocou: "estou te vendo por aqui há alguns dias", por: - Nunca te vi por aqui antes.

Ela não era uma pessoa que podia ser confundida, muito menos que passava despercebida, mas aquele look preto na praia era apenas consequência, nunca teve o intuito de chamar atenção. Pelo contrário. O objetivo do moletom era exatamente esconder. No entanto, não era capaz de esconder sua beleza.

Ele percebeu que ela parecia um pouco tensa, mas demonstrava estar gostando da companhia dele, até porque, ainda estavam de mãos dadas. Ele mantinha o rosto erguido, hora observando as pessoas que caminhavam pela areia, hora observando o mar, e de vez em quando olhando para o rosto dela para ver sua expressão.

- Você já foi até a ponta do píer? - apontou naquela direção e viu que o olhar dela seguiu seu dedo.

Mesmo Renato tomando cuidado com as palavras, soou como um convite. E de fato foi um convite.

Um convite para o píer, para os moradores do bairro, era o mesmo que convidar alguém para o motel. Na verdade um pouco pior. Muitas garotas dali se sentiriam ofendidas. Ou simplesmente recusariam. Não que as pessoas só iam lá para isso, mas depois que um casal foi flagrado lá, os rumores se espalharam pela cidade e o lugar ficou mal visto e pouco frequentado.

- Várias vezes - ela disse naturalmente.

Ufa! Além de não se importar, ela aceitou. Talvez porque era uma garota recém chegada e ainda não conhecia os costumes da cidade.

- Sério? Eu que moro aqui só fui uma vez.

O píer tem um formato de cabo de guarda chuva, por isso, a ponta dele fica escondida pelas pedras, tornando o local totalmente privado, impossível de se ver da areia da praia. Ele ficava há uns 30 minutos de caminhada do local onde eles estavam, e, levando em conta a velocidade que eles andavam, poderiam levar até 1 hora para chegarem lá.

- Mas vai ser minha primeira vez acompanhada - sentiu necessidade de informar.

Talvez ela já tivesse ouvido falar. Só não achou o convite tão ofensivo como as garotas da cidade acham.

- O que você faz lá sozinha?

- Respiro...

Ele olhou para o rosto dela estranhando sua resposta e viu que ela tinha um olhar fraterno naquela direção.

- É um lugar bom pra pensar... - preferiu não falar que em casa, na companhia de sua mãe, se sentia tão sufocada que não conseguia respirar, nem pensar direito.

Hoje a noite não tem luarOnde histórias criam vida. Descubra agora