"Acho que não sei quem sou"

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Denise acordou no meio da madrugada com um barulho estranho dentro de casa, um estampido, como se algo tivesse caído no chão. Sentou-se na cama preocupada e ouviu gemidos vindos do quarto do filho. Ao acender a luz, o encontrou se contorcendo sobre a cama com os braços enrolados no abdômen. Ela correu para socorrê-lo perguntando o que estava acontecendo, e ele só rolava de um lado para o outro dizendo que estava doendo. De repente ele começou a fazer vômito. Ela o ajudou a se levantar da cama para ir ao banheiro, mas não deu tempo, sujou o chão do quarto e o do banheiro antes de chegar ao vaso sanitário. Começou uma crise de vômito sem fim. Por fina, só saía um líquido alaranjado. Sem forças, ele sentou-se encostando na parede, suado e pálido, com as mãos sobre o estômago, respirando com dificuldade.

Envenenamento!

As palavras do médico abriram um buraco no chão onde Denise caiu de cabeça. Ainda bem que estava sentada quando o médico falou. Simplesmente girou a cabeça para olhar para Arnaldo, que evitou o olhar dela. Ambos sabiam que não tinha sido acidental.

Arnaldo não morava mais com eles nessa época, mas não relutou quando Denise ligou para ele contando o que tinha acontecido. De certa forma, ele ainda se preocupava. Ou tinha esperanças do filho voltar atrás em sua decisão.

Com o filho em estado grave no hospital, Denise fez a promessa de que se ele sobrevivesse, ela iria aceitar, apoiar e ajudá-lo a ter uma vida feliz. Ou melhor! Ajudá-la. Tentou convencer o marido a repensar sua decisão, mas foi em vão. E por medo de que a filha não suportasse outras decepções, ela insistiu preocupada.

- Ele te beijou? O que isso significa?

Amanda não tinha parado para pensar sobre isso. Ainda estava difícil acreditar no presente, não havia parado para pensar no futuro, no que aquele encontro pudesse resultar. Foi legal se conhecerem. Tinham combinado de se encontrar no dia seguinte. Ele pareceu estar sentindo o mesmo que ela, mas não sabia no que aquilo ia dar.

- Ah, eu não sei... A gente ainda tá se conhecendo.

- É melhor você esquecer isso - querendo sacudir a filha para ela acordar. Não podia permitir que ela tivesse outra decepção. A última ainda era tão recente. Tinha medo de ela não aguentar e cometer outra loucura - Você tem que ficar longe desse garoto.

Amanda enrugou a testa confusa e inconformada - Como você pode me dizer isso? É a primeira vez que alguém se interessa por mim de verdade. Você não quer me ver feliz?

- Tudo o que eu mais quero é que você seja feliz, por isso eu me preocupo tanto!

- Ele é carinhoso, e gentil... Ele é lindo!

- Até descobrir a verdade.

Amanda lançou um olhar confuso para ela e ela percebeu que suas palavras foram duras demais.

Amanda soltou os braços das mãos de Denise de forma rude. Nunca gostou da forma como sua mãe falava sem um pingo de empatia e estava cansada de discutir com ela por causa disso. Já tinha dado essa causa por perdida, por isso, simplesmente se virou e saiu.

- Não foi isso que eu quis dizer - queria concertar, mas não sabia como.

- Nem todo mundo é igual a você e o papai - andando de costas em direção ao quarto.

- Eu quis dizer que nós não sabemos como ele vai reagir quando souber... - indo atrás dela.

- Ele vai entender - disse em voz alta para poder acreditar nas próprias palavras - Ele é especial!

Amanda entrou no quarto e fechou a porta rompendo a conversa com sua mãe. Encostou as costas na porta e deixou seu corpo escorregar até se sentar no chão, onde abraçou as pernas. Essa era a hora em que todo seu passado invadia seus pensamentos e o choro forte e incessante preponderava. No entanto, algo novo e surpreendente aconteceu, e o que tomou conta de seus pensamentos dessa vez foram as lembranças do dia maravilhoso que desfrutou ao lado de Renato. Só conseguia pensar naquele rosto iluminado, no abraço aconchegante e no beijo doce. Sua boca curvou-se num sorriso, e tocou os próprios lábios em êxtase.

Hoje a noite não tem luarOnde histórias criam vida. Descubra agora