E eu estou sem ela

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 Ueh? Já voltou? Nós achamos que vocês iam passar a noite juntos.

- Cadê a Amanda? Ela foi embora?

- Que cara é essa? Aconteceu alguma coisa?

- Você está bem? Você está pálido!

- O que aconteceu? Renato? Você está gelado!

- Gente, ele não tá bem.

- Renato, fala o que aconteceu. Vocês brigaram? Por que você tá com essa cara?

- Gente, acho melhor levar ele pra casa.

Renato não conseguia conectar corpo e mente. Seu corpo estava sendo praticamente carregado por seus amigos, enquanto sua mente estava parada diante de Amanda perplexa. Os olhos entristecidos dela, os braços caídos rente ao corpo, as pernas falhando...

Sentiu a dor do arrependimento e seus joelhos enfraqueceram.

- Ajuda aqui.

- Segura ele!

Seus amigos o sentaram em um espaço vazio de um banco no calçadão, longe do barulho do show, entre meio duas moças que não demoram muito a se levantar. Mateus e Helen se sentaram ao lado dele, um de cada lado. Ela colocou a mão nas costas dele confortando-o enquanto o outro casal foi comprar água.

Apesar que o show já estava perto de acabar, ainda tinha um movimento muito grande de pessoas por ali, indo e vindo, caminhando pelo calçadão da orla. Era tanta gente que ninguém nem percebia o que Renato e seus amigos estavam passando. As moças que se levantaram do banco, pensaram que ele estava bêbado, sendo acudido pelos amigos.

- Ele disse alguma coisa? - Yuri perguntou entregando uma garrafa de água para Mateus.

Mateus fez que não com a cabeça, respondendo Yuri e destampou a garrafa antes de oferecê-la a Renato.

Renato estava inclinado, com a cabeça nas mãos e os cotovelos nos joelhos. Sentia o coração acelerado, a respiração desregulada e pegou a garrafa de água com as mãos trêmulas.

Os quatro se olharam preocupados. A única vez que eles o viram tão atordoado foi quando recebeu a notícia da morte de seu pai. Mesmo assim ele ainda teve mais reação, pois ficou pedindo aos amigos para levá-lo ao local do acidente mesmo depois que eles ficaram sabendo que já tinham levado o pai dele para o hospital. Naquele dia, nem a chuva impediu Renato. Ele foi para o hospital correndo. Chegou antes de sua mãe, que foi de carro. Mesmo assim não chegou a tempo de ver o pai com vida.

- Você quer conversar? - sem tirar a mão das costas dele, Helen se inclinou aproximando-se de seu rosto.

- Deixa ele. Quando ele quiser ele vai falar.

Ele tomou um gole e devolveu a garrafa para o amigo sem fazer muitos movimentos. Com o olhar fixo em algo invisível à sua frente, ele falou com a voz falhando.

- Ela é trans.

Finalmente conseguiu dizer aquela palavra. Que não saiu na frente de Amanda. Que estava martelando na mente dele a ponto de deixá-lo louco.

- O quê?

Seus amigos perguntaram em couro. Mas não foi de espanto, é que ninguém conseguiu escutar. A música do palanque podia ser ouvida por quase toda a praia e eles estavam em um local consideravelmente perto.

- Ela é trans - repetiu levantando um pouco o corpo e a voz, deixando as mãos sobre os joelhos - A Amanda é transgênero.

Sentiu-se um pouco melhor depois de falar isso em voz alta e olhou finalmente para os rostos assustados de seus amigos.

Hoje a noite não tem luarOnde histórias criam vida. Descubra agora