Amanda voltou para casa com um sorriso insistente no rosto. Não morava longe da praia, apenas três quarteirões grandes, de condomínios residenciais. O apartamento em que morava com a mãe, era relativamente grande para as duas, mesmo tendo apenas duas suites. A sala era tão espaçosa, que foi dividida em dois ambientes. Com o jogo de sofá marrom, em formato de L, perto da varanda e a mesa de jantar, com tampo de vidro, de seis cadeiras, perto da cozinha. A cozinha também era grande em relação à maioria dos apartamentos da região e não dividia espaço com a área de serviço. Essa também era independente. E ainda havia um quartinho que servia de dependência de empregada, mas que sua mãe fez de despensa.
Amanda caminhava devagar. Perturbada por um conflito interno que a dividia entre: acreditar que o que aconteceu aquele dia tinha sido real, ao mesmo tempo em que precisava se preparar para o confronto com sua mãe, que estava esperando na porta, ansiosa e preocupada, quando ela chegou.
- Isso é coisa que se faça? Por que você faz essas coisas comigo? É pra se vingar? Você quer me punir? O que você ganha me matando de preocupação desse jeito? - gritou enquanto Amanda tirava os tênis na porta.
Amanda não a encarou e entrou no apartamento passando direto por ela. Não queria discutir. Queria apenas ficar no silêncio de seu quarto relembrando a manhã perfeita que teve, por isso tentou passar direto, mas sua mãe a impediu. Segurou ela pelo braço e a obrigou a se virar e confrontar.
- Eu estou falando com você.
Amanda olhou para a mãe com olhos felizes e semblante sereno.
- Aonde você foi? Por que não me avisou que ia sair? Por que não levou o celular? Eu fiquei igual uma louca te ligando até descobrir que o celular estava no seu quarto - histérica, Denise falava sem parar, movimentando a mão que segurava o celular, sem dar chance para ela responder, por isso demorou a perceber o semblante sereno de Amanda.
- O quê que foi? Que cara é essa? É alguma tática nova pra me deixar preocupada?
- Por que tudo tem que ser sobre você? - com a voz bem mais baixa que a de sua mãe.
- O quê? - confusa.
- Tudo o que eu faço é pra te prejudicar, te preocupar, te punir...
Quando Amanda acordou no hospital, depois de tentar se matar com uma super dose de analgésico, a primeira coisa que ouviu de sua mãe foi: "por que você fez isso comigo?".
- Será possível que eu nunca vou poder fazer nada por mim? - continuou.
As forças de Denise se dispersaram e não só seus braços caíram pesados rente ao corpo, como ela caiu sentada na ponta do sofá.
Amanda ignorou o olhar morteiro de sua mãe em sua direção e atravessou a sala em direção ao seu quarto.
- Eu ainda não terminei, Edu... - parou antes de terminar e sua fala freou a filha.
- Amanda, mãe! - rodou nos calcanhares - A-man-da - soletrou na esperança que seu nome entrasse de uma vez por todas na cabeça de sua mãe.
-Táaa, eu vou me acostumar - levantando a mão em sinal de rendição e virou o corpo na direção dela - Se você não quer me dar satisfação do que faz, não faça coisas que me deixa preocupada.
- Eu estava na praia, fui dar uma volta pra esfriar a cabeça.
- Você esfria sua cabeça à custa dos meus miolos. Custava me avisar?
- Eu não pretendia demorar...
- E por que demorou?
Amanda sorriu. Tentou se segurar, mas não conseguiu.
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Hoje a noite não tem luar
FanfictionUm romance inspirado na música "Hoje a noite não tem luar" da banda Legião Urbana". Um amor singelo que nasce entre um surfista amigável e encantador, e uma garota, simples, linda e transgênero. Quando tudo parecia perfeito, uma descoberta inespera...