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ELIZABETH

Dias atuais

Não me lembro muito bem do meu passado, as poucas coisas que me lembro são das teclas de marfim do piano, a minha mãe doente me pressionando, da cara de desgosto toda vez que meu pai me olhava e de algumas coisas que me lembro brevemente após que acordei no hospital depois do acidente. Memórias simples ou felizes eu não consigo me lembrar de muitas.

Por isso neste momento estou no meu psiquiatra, para ele tentar a me ajudar a me lembrar de algo ou para eu conseguir deixar aqueles dias para trás, bom... Só tentando, porque conseguindo ele não esta.

Sempre que fecho os olhos, eu me pego pensando no acidente. A chuva escorrendo pelo meu rosto, raiva fervendo pelo meu corpo, o som dos pneus rasgando a estrada, o som da batida, da dor... E então o vazio.

Eu fecho meus olhos só de me lembrar, eu havia acordada desamparada no hospital sem saber de nada ou de me lembrar de algo.

Meu passado é um labirinto, e cada vez que eu tento sair, acabo me perdendo ainda mais.

Então, eu só me sento aqui, semana após semana, ouvindo o barulho do relógio e o som irritante da caneta.

Eu respiro fundo, abrindo meus olhos e vendo Dr. Carson ainda sentado em sua cadeira de sempre, com as pernas cruzadas e escrevendo em seu bloco de notas.

Já faz uns cinco minutos que estamos em silencio e ele não para de escrever em seu maldito bloco de notas.

Oque ele tanto escreve nesse bloco de notas, afinal? Será que ele escreve algo do tipo: "Paciente perdida, sem solução."? Ou quem sabe: "Mais uma sessão sem progresso."?

Se eu soubesse que um pedaço de papel e meia dúzia de rabiscos resolveriam minha vida, eu mesma teria comprado um bloco de notas.

Sinceramente, eu não sei porque continuo vindo nele, além de não conseguir me ajudar, também não acredita em uma única palavra que eu falo.

A verdade é que eu não me importo. Ele finge que me escuta, e eu finjo que estou melhorando. Um teatro bem ensaiado, eu diria.

Eu suspiro.

Eu olho ao redor da sala, paredes pintadas de um tom verde pastel, quadros pendurados enfeitando as paredes, tem algumas plantinhas espalhadas nos cantos da sala. Na parede atrás de onde o Dr. Carson está sentado, tem seus diplomas de psicologia e de algumas conquistas, eu reprimo um sorriso. Quem ele pensa que está enganando?

Eu olho em direção a um quadro que sempre me cativa quando eu venho, é o olhar de um anjo caído pelo oque eu li na história desse quadro.

Desvio meu olhar, sentindo frio, é óbvio, o ar-condicionado está ligado numa temperatura congelante que poderia matar alguém de hipotermia, e ele fica bem em cima do sofá em que estou sentada, para melhorar. Eu respiro fundo, olhando para as minhas mãos em meu colo.

Dr. Carson finalmente levanta seu olhar para me olhar mim, levantando uma sobrancelha.

- Senhorita Delacour, você quer falar sobre oque está pensando agora? - Ele disse, sua voz saindo fria, eu cruzo meus braços, levantando o meu olhar para o olhar.

Oque eu estou pensando? Que você é uma fraude, talvez. Ou que eu preferia estar em qualquer outro lugar agora. Mas, só dou de ombros.

- Não muito. - Ele suspira, seus dedos soltando a caneta e ajeitando seus oculos em seu rosto.

- Estou tentando te ajudar, senhorita delacour, mas você não está colaborando. - Seus olhos verdes penetrantes, quase parecendo não terem vida, me olhando como se eu fosse maluca.

• 𝐓𝐇𝐄 𝐌𝐄𝐋𝐎𝐃𝐘 𝐁𝐄𝐓𝐖𝐄𝐄𝐍 𝐔𝐒 | (Dark) Romance •Onde histórias criam vida. Descubra agora