iii.

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HUNTER

Dias atuais

Maníaco. Maníaco. Maníaco.

Essa palavra ecoa na minha mente repetitivamente, quase como uma batida de fundo na minha cabeça, como uma melodia irritante, que dá agonia em seu ouvido. Ela pensa que sou um monstro, ela pode estar certa.

Não é como se fosse novidade. Sempre ouvi que sou um monstro a minha vida inteira, que eu era defeituoso, uma aberração. Como se eu fosse um erro de fabricação.

Não que isso me incomodasse tanto assim, mas oque você faz quando todos dizem que você é quebrado? Aceita. Incorporamos o rótulo. Se dizem que você está quebrado, talvez esteja mesmo. Apenas.

Mas saber que Elizabeth pensa isso de mim, doi de um jeito que eu não esperava. Uma dor insuportável, como se eu estivesse perdendo a minha alma.

A forma como ela olha — olhos arregalados, respiração rápida, um pavor contido, mas que não disfarça o nojo em seu rosto. A expressão dela já diz tudo, como se eu fosse tudo oque há de errado nesse mundo. O nojo. O desprezo. Isso, sim, é insuportável.

Ela é como uma boneca de porcelana, tão bonita por fora, mas cheia de rachaduras escondidas prontas para se despedaçar.

Eu sei que sou o motivo do medo dela, sei que a assombro, que invado seus pensamentos quando ela acha que está sozinha.

Isso deveria me deixar satisfeito, não? Saber que eu a tenho na ponta do dedo, que eu estou no controle. Ou que eventualmente ela será minha.

Mas não.

Parar? Não. Isso seria desistir de tudo, desistir dela. E eu não vou desistir dela.

Porque, no fundo, somos parecidos. Dois lados da mesma moeda. Ambos com pecados demais para enterrar, ambos tentando fugir de um passado que nos corrói.

A pá crava no chão com um baque seco. O peso do solo me resiste por um segundo, mas logo cede, e a terra voa para o lado, me sujando ainda mais. Meus braços doem, mas é um tipo de dor que me lembra que estou vivo, que estou fazendo isso tudo por um motivo.

A pá afunda mais uma vez, o som do metal rasgando a terra úmida se misturando com o som distante de corujas. O vento sopra forte, levantando o cheiro de decomposição e sujeira. As folhas balançam nas árvores, criando um som macabra que só existe aqui.

Eu poderia estar em qualquer lugar agora, mas o cemitério tem um certo charme, não? É perfeito, calmo e silencioso. Ninguém vem aqui. Ninguém para interromper. Só alguém tão doente quanto eu para estar por aqui a essa hora.

É como se aqui eu pudesse ser eu mesmo, sem fingimentos, sem máscaras. No fundo, eu sou esse vazio.

Ninguém nunca me viu de verdade. Desde pequeno, eu sempre fui aquele que todos tentavam consertar ou empurrar para longe. Psicólogos, ameaças e castigos.

Meus pais? Eles me queriam como um troféu. Algo para mostrar no jantar de domingo. "Olha como somos ótimos pais." Uma piada. Não demorou muito para perceberem que eu não era o garoto que eles queriam exibir. Por isso me mantiveram nas sombras.

Cresci aprendendo a manipular a percepção dos outros. Aprendi a ser invisível — uma presença que nunca chamava atenção, mas que sempre estava lá, apenas observando.

Sabe, as pessoas falam como se o pior tipo de solidão fosse estar sozinho em um quarto vazio. Não. O verdadeiro inferno é estar cercado de gente e ainda assim ser invisível.

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⏰ Última atualização: Oct 30 ⏰

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