Onde estou?

31 12 34
                                    

O tempo nesse lugar parece não passar, ele te suga e consome a cada segundo e o constante vazio de não ter nada para fazer é ainda mais angustiante.

Passadas algumas horas que Leo havia saído de meu lado, uma mulher, alta, de corpo curvilíneo e voluptuoso, de olhos verdes e cabelo comprido, liso em um tom marrom claro, entrou no quarto onde havia acordado, deixando uma bandeja com comida em uma mesa de centro.

Com calma, ao longo do tempo que se passou, pude observar mais o quarto onde estava, desde as paredes de igual tom beje claro com detalhes em ouro, que aos poucos notei se tratar de padrões e desenhos. No centro do quarto, tem uma mesinha pequena, redonda, com uma poltrona ao seu lado, com vista para a janela que nesse momento ainda se encontrava meio fechada, por preguiça de a abrir.

Havia mais duas beliches no quarto, fora a que eu estava e ainda assim, o espaço, que não era pouco, não ficou de forma alguma apertado. Parece que tudo nesse lugar foi projetado para que exista conforto.

A mulher, que descobri por ela mesma se chamar Adrienn, me contou que estávamos de fato em um castelo, embora tenha se recusado a me dar maiores detalhes sobre a localização. Ela disse que esse lugar servia como uma base para algumas operações, mas em grande parte do tempo era apenas um lugar para acolher crianças órfãs, resgatadas pelos exploradores, como ela chamava as pessoas que saiam em campo.

Ela me contou um pouco sobre o que acontecia nesse lugar, sobre como todos eles, através dos anos trabalharam para impedir o avanço de tráfego humano e abusos contra esses indivíduos e me disse que em noventa por cento dos casos, principalmente as crianças, eram devolvidos a seus pais ou responsáveis, mas aqueles que não possuem lugar para voltar, permanecem por ali. Alguns adultos também ficaram, a maioria trabalha para manter esse lugar funcionando, mesmo que nunca tenham saído em campo para alguma operação.

Quanto mais ela falava, com sua voz calma e melodiosa — Embora eu tenha certeza de que ela tinha autorização para me falar tudo que falou —, mais eu achava tudo arriscado e de certa forma, estúpido. Não por tentarem salvar pessoas, mas por tudo isso ser tão estupidamente arriscado que me espanta que nunca tenham sido mortos.

Fui deixado, novamente, sozinho, pouco depois. Estava certo de que, por algum motivo, eles acreditavam que eu não conseguiria sair daqui se quisesse, mas a verdade é que eu nem ao menos tentei.

Da janela, observei novamente algumas crianças, a maioria voltou para dentro quando o anoitecer começou a chegar, junto a uma onda de frio, mas ainda havia uma parcela que parecia não se importar muito com isso, havia algo no rosto deles que me dizia que eles apreciavam a liberdade tanto quanto um preso recém solto apreciaria.

Batidas, constantes soaram na porta, firmes, seguras, antes de ela ser aberta, dando espaço para Leo que já não vestia as mesmas roupas de antes. Ele trajava um uma calça de moletom preta, com uma blusa branca simples, estampada apenas nas costas. Milagrosamente, ele não estava cheirando à cigarro.

— Espero que tenha aproveitado a estadia — Ele não se aproximou, parecia estar analisando o quarto, como se nunca o tivesse visto antes, embora tenha certeza de que ele é igual a muitos outros quartos desse lugar, como me informou Adrienn.

— E por acaso eu irei sair daqui? — Não posso me impedir de debochar.

— Mais ou menos — É tão estranho escutar sua voz sem vida. Me pergunto se ela sempre foi assim e ele apenas a escondeu de mim, como tudo mais.

Me mantive em silêncio, meu corpo se recusando a o olhar. Esse não é o Leo que eu conheci.

— Vamos sair em uma missão amanhã — Ele disse por fim.

— Eu nunca falei que aceitaria — Sussurro.

Mordo os lábios, ressecados, machucados pelo constante ato de o morder, meu rosto espelhado pelo vidro à nossa frente, mesmo que eu tentasse me focar nas crianças do lado de fora. Da última vez que o vi desse jeito, a situação era outra. Algo em sua posição e na forma a qual ele se moveu desconfortável, me dizia, ou pelo menos eu preferia acreditar nisso, que ele pensou no mesmo.

— Não é como se você tivesse muita opção, Ramos — Ele retrucou — Estamos apenas tentando tornar as coisas mais fáceis e agradáveis para todos.

— Não me chame assim — Suspiro cansado, inclinando mais a cabeça sob o vidro, sentindo minha testa se encostar na mesma, meus cabelos caindo sob meu rosto durante o ato. Estou cansado.

— É o seu nome, seu legado — Ele diz em mesmo tom — E você não pareceu se importar de usar ele para se livrar das consequências da sua tatuagem.

Quase posso sentir o sorriso em seu rosto, mesmo que esteja de olhos fechados, sua mão, esquerda, segurando meu pulso direito, onde a tatuagem da borboleta redizia. Afastei-me rapidamente do toque.

Não quero pensar em como ele pode saber tanto, não quero pensar no fato de que todo esse tempo ele esteve por perto e não entrou em contato, não fez nada para impedir.

— O que eu tenho que fazer?

Existem algumas coisas que se aprende na prisão, a primeira é que ali todos são advogados, a segunda é que ninguém nunca fez nada para ser preso e a terceira é que obedecer, na maioria das vezes, é a única opção para se sair vivo.

— Amanhã à noite, haverá um leilão — Ele volta para sua posição inicial. Ainda posso sentir seus olhos queimando sobre mim — Você e eu iremos juntos.

— Por que eu preciso ir?

— É um leilão para pessoas kink's — Ele diz com naturalidade, como se isso não fosse algo com o qual se espantar. Coisas assim não acontecem com frequência, pelo menos não que eu saiba — E eu preciso de um sub. Amanda quer que seja você.

Não sei quem é Amanda ou porque sua vontade deveria importar tanto nessa situação, mas algo no tom de Leo diz que importa e muito. Não sei se quero perguntar, porque não sei se quero escutar. Talvez seja melhor não saber da resposta.

— E por que você presume que eu seria o submisso? — A pergunta saí antes que possa conter, enquanto volto a ajeitar minha coluna, jogando o cabelo para trás do ombro.

— Porque você já está acostumado a ser um.

.

.

.

Para àqueles que acompanham meus livros, sabem que não costumo deixar notas finais, no entanto, nesse momento, sinto que é necessário explicar, ou ao menos chamar sua atenção para uma parte importante na fala de Leo.

No pulso direito de Henry, como foi descrito em um dos capítulos anteriores, há uma borboleta, tatuada rudemente e assim como todas as outras tatuagens e praticamente tudo que foi citado nesse livro até então, existe um motivo e não é um motivo feliz.

No entanto, não sei até onde os serviços de IA para monitorar as novas diretrizes do wattpad vão e sinto que se eu colocasse o que eu preciso colocar aqui, meu livro e possivelmente meu perfil, seriam derrubados, então apenas deixarei os links para algumas matérias, anexas, aqui, tal como em meu mural. Não digo que não tocarei nesse assunto, mas tentarei o fazer de uma forma que as diretrizes não o barrem, portanto, muitas das coisas serão cortadas, embora exista uma possibilidade de irem para o livro final que um dia será publicado.

Aviso, também, que são relatos e matérias pesadas e peço encarecidamente que priorize sua própria saúde mental acima de tudo, embora, se você está lendo isso, das duas uma, ou você não a valoriza, ou você não a tem. De todo modo, fiz meu trabalho que era avisar.

https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1994/9/12/cotidiano/2.html#:~:text=Estupradores%20e%20homossexuais%20s%C3%A3o%20punidos,face%20que%20marcam%20os%20gays.

https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2014/11/25/interna_gerais,593189/uma-questao-de-respeito.shtml

Onde Ella está?Onde histórias criam vida. Descubra agora