Capítulo 1

78 25 135
                                    

Os primeiros meses foram os mais difíceis, tudo na prisão tem um preço

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Os primeiros meses foram os mais difíceis, tudo na prisão tem um preço. Comida, roupas, bebidas, sexo, tudo e os presos sabem negociar quanto a isso.

A ideia de que a prisão é como uma família, não está de todo errada, mas é uma família disfuncional e perigosa. Estava bem acostumado quanto a isso.

Hugo e eu fomos enviados para a mesma prisão depois do julgamento, embora tivéssemos ficado separados até então.

O lugar era sujo, sem luz em várias das celas, os presos amontoados em camas ou deitados no chão. Muitas das vezes não havia lugar para todos, então, quando tinham sorte, os presos se revezavam para dormir nas camas.

A recepção é sempre a pior parte. Uma fila com alguns dos presos, alguns segurando peixeiras nas mãos, mesmo que armas não devessem entrar naquele lugar, me perguntavam repetidas vezes quem eu era, de onde era, porque havia sido preso, com quem eu fechava.

Demorei para entender o último.

Eu não fazia parte de nenhuma facção, foi o que respondi por fim, mesmo que soubesse que meu sobrenome poderia me tirar de muitas enrascadas lá dentro, tantas quanto poderia me colocar. Preferia ficar na minha.

Meu cabelo foi cortado quase em seguida, a máquina no 2, passando por minha cabeça, deixando-a mais leve do que estava acostumado. A essa altura, o cabelo que havia restado era quase totalmente preto, em um tom amarronzado.

Fui revistado uma última vez antes de ser jogado em uma cela com outros nove presos, as mãos dos policiais percorrendo meu corpo sem nenhuma gentileza enquanto procuravam por drogas. Não havia cama para todos, dois caras, um deles alto e com o cabelo pintado de um rosa escuro, coberto de tatuagens, da cara até os pulsos, onde ainda era possível ver, e o outro, um magrelo, alto, com dentes podres e olhos marcados, tão cheio de tatuagens quanto o anterior, faziam parte de uma das facções da prisão, o "MDA", mãos de ferro. Barra pesada, me avisaram logo de cara. Era por isso que eles ficavam com as camas.

Foram anos difíceis, alguns meses mais que os outros, mas o mais velho da minha cela, um homem que por ironia era realmente velho, provavelmente na casa dos sessenta e tantos, com barba branca e cabelo curto da mesma cor, com algumas poucas tatuagens — Uma lágrima no canto dos olhos direitos e uma ancora no braço esquerdo — era encarregado da mentoria dos novatos, de instruí-los ao que podiam ou não fazer, a como se portar e como conseguir as coisas ali dentro. Por sorte ou não, ele foi um grande aliado, lá dentro. Um amigo de meu vô, ele disse.

Nunca conheci o vovô, claro, ouvia histórias sobre sua vida, sobre seu império passado de geração para geração, mas a infância de meu pai, era no geral, um terreno desconhecido. Ele tinha uma irmã, era tudo que eu sabia, mas também nunca a conheci, dizem que ela morreu, anos atrás. É difícil saber se isso é verdade ou não.

Zeca, como aquele velho queria ser chamado, me contava histórias em algumas das noites em que precisava ficar de patrulha para olhar as putas, como os presos se referiam à polícia, ele dizia sobre como era na sua época, sobre como meu avô o salvou quando sua cabeça estava a prêmio e dizia que a melhor coisa que o aconteceu foi ter sido preso. Na rua ele estaria morto, mas ali ele tinha proteção, tinha respeito, comida e uma família. Ele nunca arrumava confusão, protegia todos que estavam em sua cela e até mesmo evitava conflitos de facções com os seus. Pelo pouco que sei, ele pegou prisão perpétua, mas não consigo o ver como uma pessoa ruim, mas ele foi, tanto quanto eu e sei disso.

Onde Ella está?Onde histórias criam vida. Descubra agora